Schroders: “Ações vão continuar o bom momento. Não queremos obrigações do euro”

Para Keith Wade, economista-chefe da Schroders, Trump será uma incógnita em 2018. Gestora vai apostar no mercado acionista e está menos disponível para investir no mercado de dívida da Zona Euro.

O que dizem os astros em relação a 2018? Keith Wade, economista-chefe da Schroders, recusa adivinhar que ativos vão estar no topo das preferências dos investidores no próximo ano. Ainda assim, adianta que a maior gestora de ativos do mundo vai continuar a investir no mercado acionista (japonês e emergente, sobretudo). Mercado de obrigações da Zona Euro estará fora do radar porque não oferece rendibilidades atrativas. E bitcoin? “Não são tão reguladas como gostaríamos que fossem. Mas poderá ser algo em que eventualmente possamos investir”, diz Wade.

Como vê o BCE a atuar no próximo ano?

O quantitative easing deverá terminar em setembro. Não acredito que o BCE vá prolongar por mais tempo o plano de compras de dívida porque o crescimento da economia será bom, a taxa de inflação vai lentamente caminhar para o seu objetivo, e penso que haverá muita pressão dentro do BCE, sobretudo da parte da Alemanha e países core que nunca gostaram do quantitative easing. Agora terão a oportunidade de dizer que o quantitative easing já fez o seu trabalho e que manter o plano está a causar uma grande distorção no mercado, está a causar muitos problemas entre os aforradores, e por isso vamos parar com isso.

O BCE vai começar a subir os juros?

Tudo o que tem sido dito é que o BCE vai terminar o plano de compras primeiro. Pode aumentar os juros no final do próximo ano, mas parece óbvio que vai começar a subir os juros no início de 2019.

Temos um novo ano aí à porta. Quais os maiores riscos para a economia portuguesa e da Zona Euro?

Além do Brexit, creio que a subida acentuada dos juros das obrigações poderá ser um cisne negro. Mas também há surpresas positivas que podem acontecer. Temos assistido a uma retoma do comércio mundial. O crescimento do comércio mundial é uma parte da recuperação da economia. O que às vezes vemos é aquilo a que chamamos de multiplicadores das trocas comerciais. Uma das coisas que temos discutido internamente é sobre a eventualidade de estarmos perante um boom no comércio mundial. Seria uma surpresa positiva. Entretanto, nos EUA, temos o pacote fiscal que vai ajudar o crescimento em todo o lado.

Keith Wade: “Tudo o que tem sido dito é que o BCE vai terminar o plano de compras primeiro. Pode aumentar os juros no final do próximo ano, mas parece óbvio que vai começar a subir os juros no início de 2019.”Paula Nunes / ECO

Vê Trump como um risco positivo ou negativo?

Bem, ninguém sabe. Do lado positivo, o pacote fiscal vai ajudar a economia norte-americana. Alguma desregulação no setor financeiro também vai ajudar, embora no longo prazo não acredito que vá voltar ao modelo de antigamente. Isso não seria bom. O receio que temos em relação a Trump é que ele se torne mais protecionista: o que vai acontecer ao acordo Nafta e com a Coreia do Norte, isto numa altura em que ele está a pressionar a China para resolver esse problema na Península da Coreia, enquanto parece existir uma disputa comercial entre a China e os EUA… Estas são as preocupações com Donald Trump.

Para que ativos deveriam a olhar os investidores no próximo ano?

Bem, no nosso portefólio, temos uma grande parte do dinheiro investido no mercado de ações. É um mercado que vai continuar num bom momento. Gostamos dos mercados emergentes. Gostamos de ações japonesas. Gostamos de alguns mercados de obrigações: gostamos bastante de obrigações indexadas à inflação e gostamos de obrigações locais de mercados emergentes, onde é possível adotar uma estratégia de carry trade. Quanto às obrigações dos governos europeus, os spreads já se encurtaram demasiado e não estamos tão interessados neste momento.

No nosso portefólio, temos uma grande parte do dinheiro investido no mercado de ações. É um mercado que vai continuar num bom momento. Gostamos dos mercados emergentes. Gostamos de ações japonesas.

Keith Wade

Economista-chefe da Schroders

Vamos ter a Schroders a comprar carteiras de malparado em alguns países em Portugal ou Itália?

É possível, mas terá de falar com os gestores da Schroders. Como gestores de ativos, estamos naturalmente a olhar para um conjunto mais alargado de ativos.

E bitcoin ou outra moeda digital?

Não são tão reguladas como gostaríamos que fossem. Mas poderá ser algo em que eventualmente possamos investir. É difícil de investir quando não se sabe qual o valor fundamental de determinado ativo. Não é claro qual o valor fundamental da bitcoin: se é de dez mil dólares, cinco mil ou até mesmo 25 mil dólares. Ninguém sabe. Não se movimenta em função de qualquer indicador macroeconómico. Talvez isso aconteça porque neste momento há alguma frenesim especulativo em torno da bitcoin.

Há uma bolha na bitcoin?

Bem, o problema é que não sabemos quais são os fundamentais da bitcoin. É difícil dizer se há ou não uma bolha. Mas parece uma bolha. A bitcoin apresenta sinais que caracterizam uma bolha: há um crescimento exponencial do preço. Precisamos de mais regulação, de uma estabilização do preço e também de maior informação sobre o que são estas moedas para saber o que vai acontecer à bitcoin.

Bem, o problema é que não sabemos quais são os fundamentais da bitcoin. É difícil dizer se há ou não uma bolha. Mas parece uma bolha. A bitcoin apresenta sinais que caracteriza uma bolha: há um crescimento exponencial do preço.

Keith Wade

Economista-chefe da Schroders

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