Autárquicas em Gondomar. PS dividido vs. PSD faminto do poder que perdeu há 20 anos

Com a família PS dividida em Gondomar, será que o partido vai segurar a Câmara? Ou 20 anos depois reconquistará o PSD o poder que perdeu para Valentim Loureiro, afastado por Marques Mendes?

Num concelho com forte tradição na arte da filigrana, o eleitorado de Gondomar entregou a “coroa” ao “major” Valentim Loureiro durante cinco mandatos consecutivos (1993 a 2013), três deles pelo PSD e dois como independente, depois de Marques Mendes lhe retirar a confiança política por estar a braços com a justiça no processo “Apito Dourado”. Da fama de oferecer frigoríficos para angariar votos não se livra e a limitação de mandatos travou-lhe um sexto seguido. Quem ficou a ganhar foi o PS, que recuperou o poder com Marco Martins. Será que a saída deste para liderar a Transportes Metropolitanos do Porto (TMP) em fevereiro e consequentes quezílias com o seu sucessor deixarão cair por terra um poder socialista de 12 anos?

Com a campanha ao rubro, carregada de peripécias e cisões no PS local — que aposta as fichas no atual autarca Luís Filipe Araújo —, já o PSD vai à luta para pôr fim a três mandatos rosa, mas não vai sozinho. Entra na corrida em coligação com os liberais, encabeçada pelo antigo secretário de Estado do Desporto Emídio Guerreiro (2013 a 2015) que já convocou o craque do futsal Ricardinho para número dois na lista para ir a jogo como vereador do pelouro do Desporto.

Numa recente ação de campanha de rua, Emídio Guerreiro apontou o dedo à “gestão socialista dos últimos 12 anos” — até final de janeiro com Marco Martins, que suspendeu o mandato — por ter “contribuído decisivamente para o atraso no desenvolvimento de Gondomar”. Assinalou mesmo que é “incompreensivelmente um dos concelhos menos desenvolvidos da Área Metropolitana do Porto”, apesar de ser “o 13.º maior município do país em população e dispor de um orçamento de 150 milhões de euros”. Por isso, o social-democrata “propõe-se liderar um novo ciclo de investimento e de vida“.

Emídio Guerreiro, candidato da coligação PSD/IL e o seu número dois da lista, o craque do futsal Ricardinho1 outubro, 2025

Já aquando do anúncio da coligação Despertar Gondomar”, a 14 de julho deste ano, Germana Rocha, presidente da Comissão Política Concelhia do PSD Gondomar, assegurou que o partido “está apostado em reconquistar a Câmara de Gondomar e retirar o concelho do marasmo que tem atravessado nos últimos 12 anos”.

Num comunicado conjunto, PSD e IL garantiam ser uma “alternativa credível, com soluções concretas para os desafios que o território enfrenta, desde a habitação até ao apoio a famílias e empresas, passando pela dinamização da economia local e pela modernização dos serviços municipais”.

Além de Emídio Guerreiro (PSD/IL) e do atual autarca Luís Filipe Araújo (PS) entram na corrida eleitoral o ex-deputado do PS e candidato independente Carlos Brás, a professora Maria Olinda (CDU), José Ricardo, do Bloco de Esquerda, e o deputado no parlamento Rui Afonso (Chega), que é ainda deputado municipal na Câmara do Porto. Manuela Carneiro (PAN), Vítor Guerra (CDS) Leonardo Soares (Livre), e os advogados Abel Gonçalves (ADN) e Isabel Sobral (JPP) são mais alguns dos candidatos num concelho com 170 mil habitantes e 18 mil empresas.

Desde fevereiro deste ano o município é liderado pelo antigo vice-presidente Luís Filipe Araújo que é também o cabeça de lista dos socialistas às eleições autárquicas de 2025 marcadas para 12 de outubro. Marco Martins também já estava a cumprir o terceiro mandato e não se podia recandidatar por limitação de mandatos. Só que em vez de renunciar ao cargo, o ex-autarca optou por suspendê-lo e fê-lo pela terceira vez em agosto, impedindo que o seu vice-presidente fizesse uma tomada de posse formal.

Escusado será dizer que a relação entre os dois azedou. Marco Martins já justificou a decisão ao Público, referindo que foi nele que os gondomarenses votaram. “O meu substituto é que, por motivos que até à data desconheço, decidiu praticar atitudes diferentes das que combinou comigo e com a equipa”, acusou.

Luís Filipe Araújo, atual presidente da Câmara Municipal de Gondomar, candidata-se pelo PS nas próximas autárquicas1 outubro, 2025

As águas andam, assim, agitadas por Gondomar, com o ex-autarca Marco Martins e o seu sucessor em desavença e a reboque a família socialista da Concelhia local. Em junho deste ano o ex-presidente de Câmara entrou em rota de colisão com o PS. Numa carta dirigida aos militantes, o então líder da Concelhia socialista anunciou que se iria demitir do cargo, apontando o dedo ao atual presidente do município por ter recusado a sua proposta para ser cabeça de lista à Assembleia Municipal.

Luís Filipe Araújo terá dito, por sua vez, “não precisar” do seu apoio, o que Marcos Martins classificou de “total desrespeito, desconsideração, ostracização e tentativa de apagar quem tanto deu ao PS e de tudo o que foi feito pela câmara”. Ainda assim, a grande mensagem do candidato socialista às autárquicas é de “continuidade” até porque foi o vice-presidente do município de 2023 até em fevereiro substituir Marco Martins na liderança.

Mais, o antigo autarca acusa mesmo o seu sucessor de “cortar com o passado, marginalizando pessoas e travando projetos que estavam em curso”, afirmando “viver-se hoje um clima de medo na Câmara de Gondomar”.

Ex-deputado do PS concorre como independente

Entre a troca de galhardetes a concelhia do PS teve outra baixa: o antigo deputado socialista Carlos Brás — que não foi reeleito pelo círculo do Porto nas legislativas de maio e já foi vereador de Marco Martins entre 2013 e 2019 –, avançou com a candidatura independente “Por Gondomar 2025”. Para surpresa do partido terá anunciado a decisão na mesma página de candidatura usada por Marco Martins, segundo noticiou o Jornal Notícias.

O agora dissidente do partido apresenta-se como adversário direto do socialista Luís Filipe Araújo e já em dezembro de 2024 tinha manifestado ao partido a sua discordância quanto à escolha do seu concorrente. Ao Público, Carlos Brás afiançou “não lhe reconhecer os requisitos necessários para ser um presidente de câmara. Falta-lhe capacidade de decisão, alguma capacidade de risco para ser operacional e tomar as decisões no momento certo”.

Resta agora saber quem vencerá as autárquicas a 12 de outubro e se o poder socialista cai por terra. Acresce ainda o facto de, nas últimas legislativas e à semelhança do resto do país, o PS também ter perdido eleitores, ocupando o segundo lugar com 25.402 votos contra os 29.680 votos do PSD. Também aqui o Chega cresceu para 23.274 votos, figurando no terceiro lugar da preferência do eleitorado nas urnas, quando nas autárquicas de 2021 ocupava o quinto lugar. Nesse ano o PS saiu vitorioso das autárquicas com 46,89 % dos votos, seguido da coligação PSD/CDS-PP com 21,58%.

O atual Executivo de Gondomar tem 10 lugares, sendo atualmente seis do PS, um independente, dois do PSD e um da CDU (coligação PCP/PEV).

Rui Afonso, candidato do Chega à Câmara de Gondomar

Se ganhar, Rui Afonso, cabeça de lista do Chega, compromete-se a fazer uma auditoria às contas do município e “a cargo de uma entidade externa e creditada”, argumentando que a condição financeira do município “é fraca”.

Já o sociólogo José Ricardo (BE) promete a fixação de uma quota obrigatória de 25% para habitação a custo controlado em todas as novas construções.

A candidata da CDU, Maria Olinda Moura, elege como uma das bandeiras dar “um novo rumo ao desenvolvimento de Gondomar, trabalhando para uma verdadeira coesão territorial e social, agregando as vontades e os saberes das forças vivas do concelho, e os contributos de todos que partilham esta visão de progresso e desenvolvimento”.

A 12 de outubro, a decisão cabe aos eleitores: se mantêm um legado de 12 anos ou se mudam a cor dos Paços do Concelho de Gondomar.

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