Um presidente governou durante 24 anos, outro durante 12. Desde 1976, PSD tem apenas duas vitórias, a última por apenas 64 votos. A 12 de outubro será mais do mesmo?
Há 36 anos que em Guimarães, “berço da nacionalidade”, o trono é dos socialistas, vitoriosos nas últimas nove eleições autárquicas, e sempre com maioria absoluta. Aos seis mandatos cumpridos pelo “dinossauro” António Magalhães, somam-se as vitórias de Domingos Bragança, que já vai no terceiro e, como tal, não se pode recandidatar. No mandato anterior a esta série, de 1985 a 1989, o PSD governou Guimarães graças a uma diferença de 64 votos em mais de 70 mil votantes. Antes, só aqui tinha vencido em 1979.
Em plena campanha eleitoral, o PS segue confiante na manutenção da cadeira do poder, mas os seus opositores proclamam que é tempo de mudança e rutura com um passado rosa. Seja quem for o conquistador, há um tema quente da campanha — a revisão do Plano Diretor Municipal (PDM) –, que ainda vai dar muito que falar depois do sufrágio de 12 de outubro.
Num concelho sob domínio socialista desde 1989, com cerca de 160.000 habitantes e a perder população, sobretudo jovem – garantem alguns dos candidatos –, a campanha está ao rubro e os ânimos acenderam ainda mais quando o dossier PDM veio à tona e abriu cisões dentro do próprio partido que lidera o Executivo municipal.
Guimarães prepara-se, assim, para mais uma batalha, não a de São Mamede que levou ao trono o primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques, mas política, com o PDM, a habitação e a mobilidade como mote de troca de galhardetes entre os candidatos.
Entram na corrida Ricardo Costa (PS), Ricardo Araújo (Juntos por Guimarães, coligação PSD/CDS-PP), Joaquim Teixeira (Bloco de Esquerda), Mariana Silva (CDU/PEV), Nuno Vaz Monteiro (Chega), Gil Leitão (Iniciativa Liberal) e Manuel Silva (ADN).
A governar desde 2013, Domingos Bragança não se recandidata devido à limitação de mandatos e abre a porta à possibilidade de mudança. Deixa os Paços do Concelho com um mal-estar instalado, não por vontade própria, mas porque não obteve “consenso alargado” sobre a votação ainda no atual mandato de um documento que defendia ser “anti-especulação” e cujo processo se arrasta há anos.

O autarca não teve outra solução senão a de remeter o documento para o próximo Executivo que sair vencedor das eleições autárquicas. Não teve apoio sequer do próprio Partido Socialista, que apresenta agora Ricardo Costa como cabeça de lista às autárquicas e até já foi seu vereador. O candidato já afirmou que “a deliberação final sobre um documento de tal relevância não deve ser tomada no termo de um mandato, mas sim pelos órgãos democraticamente eleitos para conduzir os destinos do município no próximo ciclo político”.
A resposta da oposição foi imediata com Ricardo Araújo, da coligação “Juntos por Guimarães” (PSD/PP) e vereador sem pelouro desde 2013, a apontar o dedo aos socialistas por faltarem a um compromisso com os vimaranenses, considerando “grave” a decisão de adiar a revisão do documento para o pós-autárquicas, que consideram demonstrativa da cisão dentro do aparelho rosa local.
“É uma situação grave que evidencia, mais uma vez, as profundas divisões internas do Partido Socialista e o impacto negativo que estas têm sobre o concelho e sobre os vimaranenses”, assinalou. Mais, já condenou entretanto, “o PS é o responsável da revisão do PDM que reduziu em 20% o solo para construção“.
A troca de galhardetes entre os dois continuou com o seu opositor socialista a acusar os social-democratas de assumirem uma posição “profundamente incoerente e oportunista” ao “exigirem a votação, mas recusarem a sua aprovação no Executivo municipal”.

Habitação
Num concelho com forte ADN da indústria transformadora do têxtil, calçado e metalomecânica, promover habitação condigna é uma preocupação transversal a todos os candidatos.
O PS promete a construção de 1.000 casas, em parceria com privados, para “responder às necessidades de jovens, famílias e trabalhadores que enfrentam dificuldades no acesso à habitação”. Em paralelo, o consultor e gestor Ricardo Costa (PS), que foi deputado na Assembleia da República na anterior legislatura e vereador de Domingos Bragança (2017-2021), garante continuar o programa 1.º Direito, com 111 casas em construção e mais 290 previstas até 2030, destinado às famílias mais vulneráveis.
O incumprimento do programa 1.º Direito serve de bola de arremesso da parte do seu concorrente da coligação PSD/PP, que garante não recorrer a ilusionismo para dar andamento “aos 30 milhões já contratualizados com o Governo para a construção de 400 casas que o PS, por incompetência, não foi capaz de construir”. Ricardo Araújo dá nota negativa ao atual presidente de Câmara e, além da habitação, elege como bandeiras a mobilidade e a economia.
Já o empresário Nuno Vaz Monteiro (Chega) usa como trunfo em campanha a isenção do pagamento de portagens nos acessos de Guimarães à autoestrada. E lamenta o facto da cidade estar “refém de grandes problemas de mobilidade”, sendo um dos casos mais gritantes junto ao hospital.
O candidato do Chega também levou para a campanha de rua o dossier PDM, acusando o PS de “ter recusado discutir publicamente dúvidas em torno” deste documento. Mais, criticou, “num momento em que os vimaranenses exigem clareza, transparência e responsabilidade, não é aceitável que o PS de Ricardo Costa se furte ao debate, preferindo o silêncio em vez de prestar os devidos esclarecimentos”.

Igualmente Gil Leitão (IL) dá nota negativa ao atual Executivo no que concerne à temática mobilidade, com “ruas sem passeios e lixo espalhado”. Acusa o Executivo de “falta de planeamento ou estratégia nas obras públicas, com atrasos e falta de agendamento”. Se ganhar, Gil Leitão vai identificar as reais necessidades da população e ser agente de fiscalização, além de captar “investimento de empresas com capacidade de empregar e pagar salários mais altos”. Fala mesmo numa “task-force”.
Aos 74 anos, Joaquim Teixeira (Bloco de Esquerda), que já foi membro da Assembleia Municipal de Guimarães, vai a sufrágio, ainda que aposentado. Condena o atual Executivo socialista por ter deixado de construir habitação social. Diz mesmo ser “o grande pecado da gestão socialista, e não é só deste mandato”.
Já a professora Mariana Silva (coligação CDU/PEV) destaca o “marasmo” a que a cidade de Guimarães foi votada nos últimos anos, denunciando haver mais de 10.000 casas vagas no concelho. “A habitação é central. Queremos uma grande intervenção do município, em articulação com o Estado e o IHRU [Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana], para garantir condições dignas e rendas acessíveis”, advoga.
Resta agora saber quem vencerá o sufrágio de 12 de outubro e se o poder socialista cai por terra. Nas autárquicas de 2021 o PS saiu vitorioso com 48,06% dos votos, seguido da coligação PSD/CDS-PP com 34,18%, e a uma larga distância o PCP/PEV (5,53%). O Chega com 3,28 %, o BE com 2,48% dos votos, a IL com 1,78% e, por fim, o PAN com 1,27% figuram na preferência do eleitorado nas urnas.
Acresce ainda o facto de, nas últimas legislativas e à semelhança do resto do país, o PS também ter perdido eleitores, ocupando o segundo lugar com 26,65 % dos votos contra 33,27% dos votos do PSD. Também aqui o Chega ganhou terreno e subiu para o terceiro lugar do pódio com 20,30 % dos votos, enquanto os comunistas — únicos que alguma vez conseguiram eleger vereadores, para lá de PS, PSD e CDS — desceram para a quinta posição, ultrapassados pelo Chega, IL e Livre.
O município já foi Capital Europeia da Cultura em 2012 e Cidade Europeia do Desporto em 2013 (a primeira a nível nacional). A mais recente conquista é a distinção de Capital Verde Europeia 2026, sendo a segunda cidade portuguesa a obter o título depois de Lisboa, em 2020.
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Autárquicas em Guimarães: há 36 anos de rosa, será desta que muda de cor?
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