Marcelo Rebelo de Sousa gozou este ano as últimas férias presidenciais. Entre a praia do Gigi e Monte Gordo, Presidente visitou praias fluviais e interrompeu descanso perante tragédias.
No início era a praia do Gigi, na Quinta do Lago, lugar de eleição de parte da elite portuguesa, no fim é Monte Gordo, tradicional destino de verão da classe média. O local de dez dias de descanso em agosto de Marcelo Rebelo de Sousa mudou nos nove anos de Presidência, mas as últimas férias presidenciais terminam como as do início do primeiro mandato: com uma interrupção.
O Chefe de Estado gozava este agosto as últimas férias na condição de Presidente da República quando os incêndios que assolam o país o levaram a abandonar os banhos em Monte Gordo, no Algarve, e regressar ao Palácio de Belém, a partir de onde tem acompanhado a evolução dos fogos. Não é a primeira vez que o faz. Em agosto de 2017 (nas segundas férias em funções), a queda de uma árvore que provocou 13 mortos na Madeira levou-o a pôr o descanso em espera e deslocar-se até ao arquipélago para dar “uma palavra de conforto aos que perderam os seus entes queridos”.
Amante confesso de praia, ao longo dos últimos nove anos são vários os registos fotográficos do Presidente da República em mergulhos. Não importa o local, nem a altura do ano. Seja em Cascais ou em visitas de Estado, como em Angola ou no Brasil, se há água é certo que Marcelo Rebelo de Sousa lá porá o pé. Em férias de verão não é diferente, tal como não é diferente a disposição para que a política lhe invada os dias.

Em agosto 2016, nas primeiras férias presidenciais, ainda com lugar cativo nos areais do Gigi, conheceu-se-lhe a tríade de que não abdica na bagagem para a estadia a Sul: calções de banho, livros (e diplomas) e muita conversa. Nesse ano, segundo declarações do próprio na altura, de manhã trabalhava um bocadinho, à hora de almoço ia para a praia, levava documentos para ver no areal e à noite trabalhava novamente. Pelo meio, devorava livros, paixão-confessa.
Nove anos depois, a organização do dia não é muito diferente, embora o ambiente que o rodeia o seja. Após uma fugaz passagem por Alvor, assentou arraias em Monte Gordo, onde está mais próximo da população. Desde que mudou o destino de eleição que aluga o mesmo toldo, numa das zonas mais movimentadas da praia, onde mantém longas conversas ao telemóvel, mas também cumplicidade com as famílias que há anos repetem o mesmo destino. No registo habitual, Marcelo Rebelo de Sousa fomenta o contacto com os vizinhos de banhos, sobre quem aponta datas previstas de partos de grávidas e números de telefone (e liga mesmo), troca impressões sobre a temperatura da água e quer saber como foi o resto do ano.
Mas não é só com os habitués que trava conversa, há também impressões trocadas com os que visitam Portugal. Ao lado do Presidente instalou-se, este ano, um casal de estrangeiros e não foi preciso muito para que Marcelo Rebelo de Sousa promovesse o contacto com os veraneantes que desconheciam ter ao seu lado um Chefe de Estado.
Com dois ou três guarda-costas a primar pela descrição, entre o muito tempo que passa dentro de água e os cumprimentos que vai distribuindo há também, claro, tempo para as selfies que lhe ficam como imagem de marca. Pelo meio, vai dedicando-se à análise dos diplomas que arrasta consigo. Este ano, já em plenas férias algarvias, promulgou por exemplo a reestruturação da Agência para a Reforma Tecnológica do Estado e a transposição da diretiva europeia sobre o malparado.
Foi também a Sul, mas em Faro, que este ano se reuniu com o primeiro-ministro, Luís Montenegro, antes de interromper as férias após a agudização dos incêndios e a confirmação da primeira vítima mortal. Fogos que no passado já tinham marcado o descanso presidencial. Em 2018, Marcelo Rebelo de Sousa, de mochila às costas, fez um périplo pelas praias fluviais dos distritos afetados pelos grandes incêndios de 2017. Uma primeira incursão no início de agosto e uma segunda incursão no fim do mês. O objetivo? Promover o turismo da região.
Ao volante do próprio automóvel, Marcelo Rebelo de Sousa assumiu o papel de turista, mergulhou, trocou dedos de conversas, assistiu ao folclore e degustou a comida local.


No ano seguinte, em 2019, trocou a Quinta do Lago por Alvor, onde vestiu a pele de nadador-salvador ao acudir duas jovens que caíram de um caiaque, imagens que entraram nos noticiários e alimentaram a imprensa em plena silly season.
Um ano depois, em 2020 e em plena pandemia, voltou a abraçar o desígnio de ‘promotor turístico’ e rumou até Porto Santo, onde sublinhou que a ilha era “um paraíso para passar férias“. Entre mergulhos, livros e contactos não faltou a visita ao centro da ilha para comer uma lambeca, tradicional gelado de Porto Santo, ou não fosse o Presidente da República fã de gelados. Nesse ano, chegou a admitir interromper as férias caso a vaga de incêndios que se registava no continente se agravasse.


Desde então que o tempo de descanso tem sido passado nos areais de Monte Gordo em agosto, mês no qual, em 2021, condecorou Henrique Gouveia e Melo pela sua “carreira militar”, nome que agora concorre à sua sucessão em Belém. E é a partir do Algarve que os portugueses se habituaram a ver nas televisões o Presidente da República ao longo dos anos a comentar, de chapéu tendo a praia como pano de fundo, a atualidade do país.
No ano passado, por exemplo, defendeu um pacto de regime entre os maiores partidos da oposição na área da saúde, este ano reagiu ao chumbo da Lei de Estrangeiros pelo Tribunal Constitucional, tema que irá marcar o pós-férias não só de Marcelo Rebelo de Sousa, mas do Governo.



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Marcelo em férias: viagem por nove agostos presidenciais entre banhos e povo
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