Maria Luís Albuquerque foi ministra das Finanças durante a Troika e, em 2014, chegou a ser hipótese para Bruxelas. Agora, entre reuniões e viagens de trabalho está focada em apresentar resultados.
- Retrato é uma rubrica do ECO na qual, durante o mês de agosto, é publicado diariamente o perfil de uma personalidade que se distinguiu no último ano, em Portugal
Há um ano Luís Montenegro anunciava Maria Luís Albuquerque como o nome proposto por Portugal para a Comissão Europeia. A partir de São Bento, numa curta declaração aos jornalistas, o primeiro-ministro justificava a escolha da ex-ministra das Finanças do governo de Pedro Passos Coelho com “o mérito académico, profissional, político e cívico” daquela que há uma década tinha sido cogitada para o cargo, mas cuja indicação a crise no BES travou. Com 57 anos, Bruxelas tornou-se então morada para a agora comissária com uma agenda intensa e focada em aprofundar a União Bancária que, no pouco tempo livre, gosta de aproveitar a família.
Com um perfil público discreto e afastada da vida política ativa nacional, a preparação para o nome de Maria Luís Albuquerque foi sendo feita ao longo dos meses que antecederam o anúncio. A economista, que em 2013 sucedeu a Vítor Gaspar como ministra das Finanças e se manteve em funções até ao final do executivo liderado por Pedro Passos Coelho em 2015, tinha ainda uma imagem colada às reformas implementadas durante a Troika e era preciso cotar o seu nome. A pouco e pouco, a antiga governante que apoiou, em 2019, Luís Montenegro na corrida à liderança do PSD, começou a surgir em eventos ligados ao partido e o seu nome a circular nos jornais.
Três dias depois do anúncio de Luís Montenegro, foi oradora-surpresa da tradicional universidade de verão do PSD, e a partir de Castelo de Vide, naquela que era a sua primeira intervenção pública desde que tinha sido indicada, deixou claro ao que ia: “Nenhum comissário representa o seu país. Cada comissário representa os 27 países na pasta que lhe for atribuída”, disse. Uma postura que não surpreendeu quem segue o seu trabalho.

Tinha uma preferência pela pasta a que fosse alocada, e embora nunca pronunciada publicamente, é fácil adivinhar que viu a vontade cumprida. “Estou satisfeita“, afirmou apenas aos jornalistas após a alocação aos Serviços Financeiros e União de Poupança e Investimento.
Natural de Braga, licenciou-se em Economia na Universidade Lusíada de Lisboa em 1991 e concluiu o mestrado em Economia Monetária e Financeira pelo Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade Técnica de Lisboa em 1997. A formação levou a exercer funções técnicas no início da carreira, primeiro na Direção-Geral do Tesouro e Finanças entre 1996 e 1999 e depois no Gabinete de Estudos e Prospetiva Económica do Ministério da Economia entre 1999 e 2001.
Chegou a ser assessora do Secretário de Estado do Tesouro e das Finanças, mas rapidamente abraçou a liderança do Departamento de Gestão Financeira da Refer, onde esteve até 2007, altura em que saiu para coordenar o Núcleo de Emissões e Mercados do Instituto de Gestão da Tesouraria e do Crédito Público até 2011. É com esse background em foco que o Governo social-democrata de Pedro Passos Coelho a nomeia Secretária de Estado do Tesouro e Finanças, funções que exerce entre junho de 2011 e junho de 2013.
Nesse cargo, entre outros temas seguiu assuntos do Eurogrupo, substituindo diversas vezes nas reuniões o então ministro Vítor Gaspar, a quem acabou a suceder à frente do Terreiro do Paço em julho de 2013. Foi por essa altura que o seu nome chegou a ser apontado como escolha para comissária europeia na equipa de Jean-Claude Juncker. Contudo, a crise no BES levou Pedro Passos Coelho a não prescindir da sua ministra e a indicar Carlos Moedas.
Maria Luís Albuquerque chegou a ser apontado como escolha para comissária europeia na equipa de Jean-Claude Juncker. Contudo, a crise no BES levou Pedro Passos Coelho a não prescindir da sua ministra e a indicar Carlos Moedas
Desde 2022 que Maria Luís Albuquerque trabalhava a partir da Alemanha, fazendo parte do conselho de supervisão de bancos do Morgan Stanley. Antes, em 2021, concorreu a um cargo para presidir ao supervisor europeu dos mercados, que acabou por perder.
“Um italiano, uma alemã e uma portuguesa. O impasse arrastou-se por mais de seis meses, porque Itália e Alemanha tinham uma minoria de bloqueio. Nessas circunstâncias, muitas vezes a solução é ir para o terceiro candidato. Mas para isso, é preciso ter apoio político e eu não tive“, contou na universidade de verão do PSD há um ano, naquela que foi lida como uma crítica ao governo de António Costa.

Segundo aqueles que com ela se cruzaram, Maria Luís Albuquerque é orientada para os resultados. E é esse o espírito que imprime agora aos seus dias passados entre os gabinetes de Bruxelas e as viagens de trabalho. Com um início de mandato “exigente tanto em termos de calendário, como de obrigações” das quais são exemplos as diversas reuniões com stakeholders, têm sido escassas as vezes que, desde que assumiu a pasta, viajou até Portugal.
O foco principal é apresentar resultados na União Bancária e no Sistema Europeu de Garantia de Depósitos, principais objetivos do mandato. Para isso tem já em preparação a agenda até ao primeiro trimestre do próximo ano e, recentemente, por exemplo, anunciou que quer relançar o PPR europeu. “Vamos tentar dar-lhe uma nova vida”, afirmou numa conferência, assumindo que o Produto Individual de Reforma Pan-Europeu (PEPP, na sigla em inglês), tal como está, “não foi bem sucedido”.
O tempo livre é, portanto, pouco. Ainda assim, quando existe gosta de tirar partido da família e dos amigos. Quando não é possível, um livro também a poderá distrair, mas descrita como “alguém que gosta realmente de falar com as pessoas”, interessa-se “por conhecer áreas que não as suas” e “vai trocando impressões com quem se vai reunindo”.
“Gosta de ouvir mesmo aqueles com quem não concorda”, referem pessoas próximas.

Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Maria Luís Albuquerque, a comissária focada em resultados que esperou uma década por Bruxelas
{{ noCommentsLabel }}