2021 será de recuperação ou de estagnação?

Este ano não termina da melhor forma e lança bastantes dúvidas para o próximo. Depois de um 2020 para esquecer, teremos um 2021 para, pelo menos, recuperar uma (pequena) parte das perdas.

A evolução da pandemia parece estar a confirmar os piores cenários, com a necessidade de novos confinamentos que se arrastarão até ao início de 2021. Ainda assim, o próximo ano tem tudo para ser bem melhor do que este que termina. O quão melhor vai depender não só dos imponderáveis da pandemia, mas também do que for feito para a combater não só na sua dimensão sanitária (medidas de controlo e aplicação das vacinas), mas também o seu impacto económico (os apoios que forem dados á economia para passar esta fase com novas quedas da atividade).

Será que depois de um 2020 para esquecer, teremos um 2021 para relembrar, ou nem tanto?

Tudo parecia estar a correr bem até ao final de Outubro, com a vacina a chegar ainda este ano e a bazuca finalmente aprovada. No entanto, o aumento de casos no outono, com o regresso das medidas restritivas, veio tornar inevitável uma nova queda da atividade no ultimo trimestre.

E esta semana, com esta nova variante no sapatinho, até uma nova contração no primeiro trimestre parece inevitável, com cada vez mais confinamentos anunciados um pouco por toda a Europa. Com base nos indicadores dos últimos dias, alguns países estão de volta a quedas da atividade como as registadas na última primavera.

Indicadores diários de atividade económica

Fonte: Bloomberg

Infelizmente, no espaço de poucos dias, parece cada vez mais provável que o cenário negativo das últimas estimativas do Banco de Portugal, se torne o cenário central. Depois de uma queda de mais de 8% em 2020, a economia portuguesa não deverá recuperar perto de 3% como no cenário central, e muito menos 5% como era esperado há um mês atrás no orçamento do estado e até pela Comissão Europeia, mas sim apenas pouco mais do que 1% – e isto assumindo que não há novas restrições depois de março e que a vacinação segue o plano apresentado pelo Governo e a imunidade de grupo é atingida algures no terceiro trimestre, a tempo de salvar o turismo.

Indicadores diários de atividade económica

Fonte: Orçamento do Estado 2021, Banco de Portugal, Comissão Europeia e cálculos próprios

Ou seja, se a segunda vaga no Outono, deitou por terra a hipótese da recuperação em V, esta nova variante do vírus e as medidas que se avizinham para o primeiro trimestre tornam até o cenário do W (uma queda no final deste ano e recuperação no próximo) otimista. A recuperação será lenta e a atividade deverá terminar o próximo entre 5% e 7% abaixo do nível do final de 2019.

Ainda assim, existem bastantes fatores, quer do lado da política económica quer do lado da saúde, que podem levar a surpresas positivas, se a evolução destes fatores for sendo mais positiva até poderemos ter um crescimento bastante mais robusto no próximo ano:

  1. A famosa bazuca que deverá chegar na segunda metade do ano e terá um efeito multiplicador – no entanto será direcionada a programas de investimento que não compensam a queda do consumo, principalmente de serviços.
  2. Estímulos de política monetária são os maiores de sempre – o BCE não só providencia liquidez ilimitada aos bancos, e a baixo custo (0%), como também irá comprar mais dívida do que a maioria dos estados irão emitir, aumentado a margem orçamental, principalmente de países como Portugal.
  3. Caso as medidas de contenção funcionem novamente e os confinamentos durem menos tempo, a atividade pode recuperar bastante já no primeiro ou segundo trimestre.
  4. E por último o mais importante, caso a vacinação seja aplicada rapidamente em todos os países da Europa, o turismo pode regressar em força na segunda metade do ano. E a pujança dessa recuperação depende também da eficácia da vacinação em Portugal – como vimos no verão passado, a concorrência entre os países vai ser muita, e Portugal não pode arriscar voltar a ficar nas listas negras. Mas ainda que fique abaixo do valor de 2019, é importante ter em conta que a queda deste ano foi de tal forma grande que a recuperação do próximo ano far-se-á sempre sentir. O quanto é que é mais incerto.

Ou seja, tal como escrevi em Novembro existe uma luz ao fundo do túnel com a vacina e com a aprovação da bazuca europeia, mas com o aumento dos casos, esta nova variante, e as dúvidas quanto ao timing da aplicação das vacinas, o túnel parece ser mais longo….

E o que fazer agora? Como também tenho vindo a escrever desde o início da crise, são precisos mais estímulos orçamentais e mais apoio público, direto, às empresas. É preciso chegar até ao fim do túnel! Portugal teve em 2020 das maiores quedas do PIB ao nível da área do euro, e um dos menores estímulos orçamentais, mesmo quando comparado com países com um elevado nível de divida pública. O ideal seria que nestes trimestres, o Estado implementasse mais medidas para evitar uma saída mais difícil da crise e um esforço maior de reconstrução no futuro.

Queda do PIB em 2020 e estímulos orçamentais

Fonte: Comissão Europeia, FMI e cálculos próprios

Com a economia “congelada” em alguns sectores desde março, o impacto potencial da crise é visível nas moratórias dos créditos – que atingem perto de 30% do stock total de crédito, o segundo valor mais elevado da União Europeia.

Sem apoios para mais alguns meses de restrições, muitas dessas empresas poderão não aguentar até à segunda metade do ano, e nesse caso, mesmo que o Estado não gaste para as apoiar agora, pode ter que gastar para apoiar a banca mais tarde. Também é tempo de começar a definir quais as empresas e sectores prioritários a apoiar, mas isso é um tema para quando as restrições terminarem. Para já a economia está ainda em fase de emergência, e é preciso evitar falências em massa.

Concluindo, este ano não termina de facto da melhor forma e lança bastantes dúvidas para o próximo. Depois de um 2020 para esquecer, teremos um 2021 para, pelo menos, recuperar uma (pequena) parte das perdas, mas menos do que se esperava há alguns meses.

Ainda assim, com as medidas certas, até podemos ter surpresas positivas — há que ter alguma esperança, pelo menos nesta quadra! E terminando nesta nota mais positiva, aproveito para desejar a todos os leitores um bom ano de 2021. Que o próximo ano nos possa compensar a todos pelo que passámos ao longo de 2020.

Nota: Por opção própria, o autor não escreve segundo o novo acordo ortográfico

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