A 4ª vaga: Sei o que (não) fizeste no Verão (e Inverno) passado

Face a esta difícil fase da gestão da pandemia, e tendo em conta a notória fadiga que todos vamos sentindo, Portugal deve mudar a estratégia nas próximas semanas.

Há um ano, o atraso no controlo de um surto na Área de Lisboa prejudicou a entrada de turistas estrangeiros em todo o pais. No entanto, acabou por ser resolvido antes do final do verão com medidas localizadas nas freguesias e sectores mais afetados e permitiu alguma recuperação do Turismo. Não será agora altura de fazer o mesmo e de dar também ouvidos aos especialistas que pedem para que se privilegiem atividades ao ar livre, em vez de voltar a reduzir horários e impor cercas sanitárias pouco eficazes? Será que só se consegue controlar a pandemia com confinamentos, alternando entre ser o melhor ou o pior da Europa? Desta vez, é bom que não seja assim. O sector do turismo e a sobrevivência de muitas empresas dependem do que acontecer este Verão….

Tal como há um ano, o fim do confinamento levou a um aumento de casos. Portugal não tem também agora um nível de restrições muito diferente da maioria dos países europeus, mas com a abertura aos turistas ingleses no final de Maio e com a entrada da variável delta está novamente a liderar no numero de casos, tal como esteve há um ano e, principalmente, em Janeiro (gráfico 1).

Número diário de novos casos de COVID-19 por milhão de habitantes (média dos últimos 14 dias

Fonte: Our World in Data

Mas como gerir agora a pandemia? Não há obviamente necessidade de medidas tao restritivas como no inverno – a vacinação protege principalmente os mais frágeis e há muito menos internamentos e mortos. Mas ainda assim, a COVID-19 pode voltar a causar problemas ao sistema nacional de saúde. Começa-se a perceber que ainda que não seja mais letal, esta variante é mais contagiosa e mais resistente as vacinas. E com apenas cerca de 25% da população com duas doses, Portugal ( e também a Europa) está ainda longe de estar suficientemente protegidos.

E para além destes argumentos do lado da saúde, há também argumentos económicos. Como se tem visto, a economia não cresce sem o controlo da pandemia. E agora, com o inicio da época de turismo de Verão é ainda mais evidente.

Variação homóloga do indicador de actividade em tempo real da OCDE (%)

Fonte: OCDE e cálculos próprios

Já foi assim no Verão passado, quando o aumento de casos na área metropolitana da de lisboa levou a que Portugal ficasse na chamada lista negra do Reino Unido, levando a uma diminuição drástica do numero de turistas britânicos. Essa vaga em Lisboa foi suficiente para causar uma divergência entre a recuperação económica Portuguesa e no resto da área do Euro como se vê no gráfico 2. Esta divergência foi ainda mais evidente no ultimo inverno, quando Portugal evitou restrições em Dezembro e teve de impor medidas ainda mais drásticas. E poderá ser assim novamente caso o aumento de casos não seja controlado. Sem uma diminuição rápida dos contágios este Verão poderá ser ainda pior para o turismo do que o Verão passado:

i) Portugal esta para já na lista vermelha da Alemanha, mas outros países vizinhos poder-se-ão seguir. E tendo em conta que estamos praticamente no inicio de Julho, já comeca a restar pouco tempo para aproveitar o Verão

ii) Mesmo internamente, com mais restrições e receio por parte de alguns sectores da população, o turismo pode desiludir e não compensar a quebra de visitantes externos, como no ano passado. Isso já e visível nos dados de mobilidade (gráfico 3) que terão atingido o seu máximo há 2 semanas atras, e estão agora a descer, mesmo sem refletir o aumento de restrições desde então.

Indicadores de mobilidade*

 

* Desvio face ao valor anterior a pandemia. Média dos indicadores de Comercio e Lazer, Supermercados e Farmácias, Parques, Transportes e local de trabalho.

Fonte: GEE, Ministerio da Economia, Universidade de Oxford e cálculos próprios

Face a esta difícil fase da gestão da pandemia, e tendo em conta a notória fadiga que todos vamos sentindo, Portugal deve mudar a estratégia nas próximas semanas. Deve dedicar todos os seus recursos não só a prosseguir com a vacinação o mais rapidamente possível, mas também a testar ao máximo, nas zonas onde os surtos estão localizados e identificar a sua origem. Quanto a novas restrições, mais do que limitar horários e circulação de Lisboa para o resto do pais, será talvez tempo de ouvir os especialistas: alargar horários de funcionamento (para evitar ajuntamentos) e privilegiar o ar livre: porque não alargar esplanadas e o seu horário (ainda por cima estamos em pleno Verão.. ) e interromper, para já, eventos como casamentos e outras festas, que ate estão mais limitados na maioria dos países europeus?

Faltam poucos meses para controlar a pandemia. Depois do descalabro de Janeiro, o exigente confinamento deste inverno e uma vacinação mais rápida do que a média europeia ajudaram a controlar a pandemia. No Verão passado, o surto na área de Lisboa foi controlado com cercas sanitárias locais e testagens a sectores económicos mais expostos. Porque não voltar agora a ter uma abordagem ainda mais cirúrgica? Sabemos bem o que se fez e o que não se fez no Verão e Inverno passados, não será agora altura de aprender?

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