A era do subscritor de seguros Especialista

  • Nuno Oliveira Matos
  • 4 Outubro 2025

Nuno Oliveira Matos dá relevo ao lado humano do subscritor de risco, a resiliência não se constrói apenas com capital ou com tecnologia, mas com conhecimento especializado e humildade intelectual.

Vivemos num mundo de riscos crescentes, altamente voláteis e fragmentados. A sofisticação tecnológica, com a inteligência artificial na linha da frente, promete uma revolução no modo como avaliamos riscos, mas esconde também a armadilha de uma falsa sensação de que a máquina pode substituir a experiência empírica do subscritor. Nada seria mais perigoso.

O subscritor do futuro não poderá ser um generalista confortavelmente escudado em guidelines herdados. Será, cada vez mais, um especialista, um intérprete crítico de modelos e um contribuinte ativo para a sua evolução. A realidade é que os modelos de pricing não podem ser encarados como caixas negras. Precisam de ser continuamente calibrados com inputs empíricos, dados reais de mercado e, sobretudo, com uma estrutura estatística robusta. É aqui que entra a ideia fundamental da capacidade de incorporar a incerteza, rever pressupostos à medida que surgem novos dados e tomar decisões mais transparentes e adaptáveis num contexto onde os riscos reais estão em permanente mutação.

Mas há um outro fator incontornável, a disciplina da IFRS 17 “Contratos de seguro”. Este normativo não é apenas uma exigência contabilística, é uma lente rigorosa que obriga a capturar a realidade económica das carteiras de seguros. Se os modelos de pricing não estiverem intrinsecamente alinhados com os princípios da IFRS 17, corre-se o risco de perpetuar desequilíbrios, criar contratos onerosos, destruindo valor aos acionistas e, em última instância, a confiança do mercado. A solidez técnica do pricing deixou de ser apenas uma vantagem competitiva; tornou-se um requisito de sobrevivência e sustentabilidade.

A indústria deve, por isso, reconhecer a verdade incómoda que a resiliência não se constrói apenas com capital ou com tecnologia, mas com conhecimento especializado e humildade intelectual. A sofisticação dos modelos de IA e a disciplina contabilística só terão impacto real, se os subscritores assumirem o seu papel de arquitetos críticos, questionando pressupostos, ajustando probabilidades e rejeitando simplificações perigosas.

A próxima década exigirá subscritores altamente especializados; quem não souber contribuir para a ciência do risco deixará de ser parte da solução e tornar-se-á parte do problema.

  • Nuno Oliveira Matos
  • Sócio da Carrilho & Associados, SROC

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