A Gaiola das Malucas da direita

O centro-direita terá de encontrar protagonistas e causas rapidamente, senão, soará um Requiem de Mozart.

Na política há um “transformismo” constante dos peões que gravitam em torno do poder. Dão apoios a um “xerife” até ao dia em que este cai em desgraça e, rapidamente, quase sem se lembrarem das palavras ditas e manobras inauditas, correm atrás do novo “xerife” que pode trazer a glória, o cargo e as respectivas alvíssaras, em bom português, o tacho. É quase um bailado macabro que faz cintilar os instintos mais baixos da natureza humana e a crueldade das sombras de um qualquer “film noir” da falta de memória e de carácter.

No jogo da política basta ver aquelas caras que avidamente surgem nas televisões como aios e aias atrás dos líderes que dizem com enorme convicção um chorrilho de irrelevâncias para microfones e pensar, e recordar, que já estiveram atrás de outros com a mesma cara risonha de hienas à espera de um banquete. No PSD e no CDS vamos assistir aos dramas de sempre de eleições directas e congressos, a uma intensa caça ao voto do cacique e do aparelho que controla aqueles sindicatos de voto sem alma nem opinião que votam porque assim lhes mandam. É um espectáculo divertido, porém, deprimente, que nos leva ao século passado e que já pouco diz a uma nova geração que não está para perder tempo com algo que entende como perversamente ridículo.

Nuno Morais Sarmento, com enorme conhecimento de causa pois já tantos lideres serviu, afirmou que o PSD «parece a Gaiola das Malucas». Por sinal um filme que retratava um casal homossexual, Renato (o inesquecível Ugo Tognazzi) e Zaza (Michel Serrault) que geria uma “boite” de travestis. Neste momento de hospício, ou pelo menos de divã, dos dois principais partidos de centro-direita, vive-se o frenesim pelo novo combate interno, alguma intranquilidade pela derrota copiosa das legislativas, insegurança nos tempos que aí vêem, mas também cada um prepara o melhor da sua pele de “camaleão” e “transformista” que se adaptará à música do momento que comandará as decisões.

Rui Rio continua “em ponderação”, contudo, como imaginam depois daquele discurso risível da noite eleitoral, só espera para ver quem vem à arena porque na sua cabeça é imbatível e já se amarrou à cadeira da São Caetano. Como se aguardava, Luis Montengro anunciou que avançava e dois minutos depois já o País tinha adormecido. O ex-líder parlamentar é muito simpático, competente nessa tarefa, mas em termos de carisma e galvanização tem exactamente o mesmo efeito que o melhor dos narcotizantes para atordoar animais perigosos. Vai correr Miguel Pinto Luz, é o que tem menos notoriedade, no entanto, poderá ter mais rasgo desde que bem apoiado pelo Rodrigo Moita de Deus, Alexandre Luz, Diogo Agostinho e, a meu ver, já devia ter vindo a jogo aquando do duelo Rio/Santana, exactamente para liderar uma terceira via de discurso mais moderno e que conhece o trabalho dos municípios e do empreendedorismo como ele sabe de Cascais e de projectos como o DNA. Mas não podemos esquecer o que disse Miguel Relvas que avançou que a reorganização do centro-direita passará por dois homens: Passos Coelho e Paulo Portas. E nestas coisas, pela sua experiência e traquejo, Relvas é dos mais bem informados e dos que pensa melhor.

No CDS a saída de cena de Cristas abre ainda uma crise mais profunda. O futuro a Deus pertence mas a democracia-cristã, que se perdeu num misto de conservadorismo, liberalismo, e penteados no Facebook, atingiu o seu ponto mais baixo. Pires de Lima não quer pôr os seus cabelos brancos ao serviço de uma ressurreição muito complicada, Adolfo Mesquita Nunes que seria o melhor tem outros azimutes, sobram João Almeida que seria uma espécie de Montenegro e o jovem “Chicão” Rodrigues dos Santos que pode aos 31 anos, quase a idade de Cristo, agarrar na oportunidade e concretizar o seu sonho. Tem ambição e a garra da juventude, algo fundamental para um partido em escombros e que precisa de vontade de combater e esperança. Porém, o centro-direita terá de encontrar protagonistas e causas rapidamente, senão, soará um Requiem de Mozart.

Nota: O autor escreve segundo a antiga ortografia

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