A Gestão de Riscos no Domínio das Entidades Públicas

  • José Miguel Batista
  • 17 Abril 2022

José Miguel Batista, diretor de Enterprise Risk Management & Engineering da WTW, avisa que atualização ou manutenção do último Caderno de Encargos pode não refletir riscos presentes e futuros.

A gestão de riscos numa organização tem como objetivo torná-la mais resiliente. Para tal, é essencial que seja feito todo um trabalho prévio de análise profunda do risco existente e da correlação com a atividade da entidade, assim como uma monitorização constante e uma atualização sempre que se justifique.

Existem três fases que deverão ser a pedra angular daquilo que é a gestão de todos os riscos nas entidades públicas, à semelhança das demais organizações: identificar e mapear o risco, quantificar e definir planos de controlo ou mitigação.

Priorização e mapeamento dos riscos

Para desenvolvermos mecanismos que nos permitam uma gestão eficaz, é necessário sabermos quais os riscos de que estamos a falar, que podem ser tão mais complexos quanto mais complexa for a nossa atividade, e respetivos planos de mitigação.

Após esta identificação, estabelecemos a prioridade do risco através da estimativa da sua probabilidade em se materializar num acidente e a estimativa de qual será o impacto e os danos caso esse incidente venha, de facto, a ocorrer. Isto permitirá avaliar cada risco pelo que ele representa realmente.

Esta metodologia assume uma maior importância pois quando falamos dos riscos que afetam as nossas organizações, quer seja de pessoas, do património ou de responsabilidades, o primeiro impulso é transferir de imediato para uma seguradora.

No entanto, manda a prudência que em primeiro lugar saibamos o que estamos a transferir, com que limites e que parte do risco estamos a reter.

Assim colocam-se algumas questões:

  • Porque é que estamos a contratar esta apólice?
  • Porque estamos a subscrever estes limites?
  • Qual o racional por detrás desta definição de franquias?

Relativamente a riscos que não são de contratação obrigatória, e que decidimos não transferir, em que é que se baseou essa decisão? Estamos confortáveis em fazer auto-seguro desses riscos não transferidos?

Em resumo, porque é que o Caderno de Encargos foi redigido desta forma? Foi com base numa reflexão profunda do momento atual ou é uma atualização ou manutenção do último Caderno de Encargos?

Quantificação

Caso optemos pela transferência do risco, devemos fazer uma análise quantitativa do risco através de modelos de probabilidade e impacto, para avaliarmos o valor esperado, a sua probabilidade e a melhor estratégia de transferência para uma apólice de seguro.

Esta quantificação permitirá ajustar o programa de seguros às nossas necessidades atuais e perceber a adequabilidade desse programa, ajudando a diminuir a assimetria existente na negociação com a seguradora, que, por norma, assume um papel dominante pela informação que detém.

Nesta fase, para que haja uma correta quantificação do risco, devemos ambicionar responder a três questões-chave:

  • A empresa está a reter demasiado?
  • As franquias são as mais adequadas?
  • O prémio pago pelo programa de seguros é razoável?

Definição de planos de tratamento e controlo

Na terceira fase da gestão de risco, entramos nos planos de tratamento e controlo dos riscos, que podem coexistir e passar, ou não, pela transferência. É a fase de definição de todas as medidas de prevenção.

Aqui pretendemos atuar no binómio probabilidade e impacto, reduzindo um ou, se possível, ambos. Devemos focar-nos em mover os riscos da parte mais quente da matriz de risco para a parte mais fria, passando-os de severos a controlados.

A transferência do risco é apetecível, mas não deve ser feita sem a devida análise. E esta não é possível sem uma reflexão profunda sobre quais são os riscos existentes, o que representam e como é que podem ser controlados.

Em conclusão, antes de decidirmos qual o plano de tratamento que iremos implementar há que saber a prioridade de cada risco e qual os danos que poderão resultar caso esse risco se materialize num incidente. Para tal há que recorrer a metodologias provadas e não a perceções empíricas.

Caso se opte pela transferência de risco para uma seguradora há que ter firme noção que qual o melhor programa de seguros para cada momento, ou seja, é necessária numa reflexão profunda do momento atual não bastando a atualização ou manutenção do último Caderno de Encargos.

  • José Miguel Batista
  • Diretor de Enterprise Risk Management & Engineering da WTW

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