A importância de haver mais mulheres em tecnologia

  • Maria Tolentino
  • 14 Junho 2021

Finalmente começamos a ter mais indicadores que apontam para uma redução deste fosso de géneros, que é hoje em dia nada mais que anacrónico e, felizmente, decrescente.

Confesso que tenho alguma dificuldade em assumir a parte cliché em torno do tema “Women in Tech”, não por ser mulher e por trabalhar em tecnologia, mas porque simplesmente não gosto de discussões sem dados e factos, e creio que o habitual ruído em torno de alguns temas pode causar entropias na parte necessária da discussão.

A resposta à questão “é importante haver mais mulheres em tecnologia?” é um rotundo sim. Mas já lá vamos.

Acrescento um disclaimer: nunca, em momento algum, senti que não alcancei um objetivo a que me propus por ser mulher; ou melhor dizendo, por questões de género.

Mas qualquer experiência individual pode não traduzir aquilo que revelam os números – métricas de suporte que nos permitem formular opiniões sólidas, com mais sumo que uma qualquer conversa de café. E sinto como minha a obrigação de aproveitar esta oportunidade para deixá-los também falar por si.

Cruzando um estudo da Comissão Europeia (“Women in Digital Scoreboard”) e o já clássico “The State of European Tech” da Atomico – compilado pela WomenTech Network – encontrei vários dados dos quais destaco os seguintes:

  • Somente 17% dos trabalhadores ICT (Information and Communications Technology) são mulheres;
  • Somente 34% dos licenciados em STEM (Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática) são mulheres;
  • As mulheres que trabalham em ICT ganham cerca de menos 20% que os homens;
  • 22% dos participantes em tech meetups eram mulheres;
  • 93% do capital investido em tech companies foi direcionado para equipas cujos fundadores eram homens.

A isto acrescento algo menos mensurável, que fui retendo de várias conversas ao longo dos anos, em que mulheres deste setor me foram reportando sentimentos de serem “menos consideradas” pelos seus colegas homens, “tipicamente em ambientes exclusivamente masculinos”. Por que sim.

Portugal está uma vez mais ligeiramente abaixo da média na Europa, com um longo caminho a percorrer. Ainda assim, gostaria de destacar alguns ventos favoráveis – como o resultado do Tech Careers Report PT 2021 da Landing.Jobs, que destaca uma evolução positiva, ao passar para 16% de 23% no ano anterior.

Haveria, sem dúvida, uma miríade de outros números e dados menos positivos a apresentar para ilustrar a ineficiência gerada pela falta de mulheres (ou de diversidade no geral), não só no espaço da tecnologia, mas também em lugares chave nas comissões executivas das empresas; mas a verdade é que finalmente começamos a ter mais indicadores que apontam para uma redução deste fosso de géneros, que é hoje em dia nada mais que anacrónico e, felizmente, decrescente.

Os discursos estão mais alinhados no sentido em que não faz sentido avaliar ou escolher alguém enviesado por questões de género e isso é uma vitória, ainda que nos possa parecer por vezes incipiente. O papel da mulher no contexto social em termos históricos é (ou melhor, foi) exatamente isso – História. História boa. História menos boa. História má até. Mas História. Da mesma forma que hoje deverá ser aquilo que quisermos que seja. E hoje sabemos – e estamos, enquanto grupo, mais disponíveis para saber – que as virtudes do género feminino são mais valias a vários níveis.

Não me cabe (e desgosto) enquanto mulher o papel de dizer que as mulheres têm abordagens enriquecedoras à resolução dos problemas, que mais de metade dos clientes potenciais em geral são mulheres de diferentes etnias, que o balanceamento de géneros é potencialmente melhor que qualquer enviesamento negativo – mas não resisto a fazê-lo por tão evidente me parecer. Cabe-me eventualmente assinalar o quão contraproducente é a falta de diversidade no geral. E isso deveria bastar. Mas a ação é, em muitos casos, melhor que a reação e, ao final do dia, “a person’s gotta do what a person’s gotta do”.

E que sim, há ainda um caminho sem atalhos a percorrer, mais que tudo para educar a sociedade. E se tivermos de criar mais eventos, mais artigos, mais informação, mais prémios (como os Portuguese Women in Tech Awards), partilhar mais bons exemplos de casos de sucesso, então devemos simplesmente fazê-lo. Devemos fazê-lo para acelerar o fechar deste fosso e fomentar a resolução do problema a montante, que provavelmente deverá começar por incentivar mais mulheres a optar por formação em áreas relacionadas com tecnologia, sem barreiras – ou naquilo que quiserem!

  • Maria Tolentino
  • COO da Landing.Jobs

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