A Loja dos 500 (milhões)

Nas Lojas dos 300, uns míseros trocos chegavam para comprar qualquer coisa. Nos bancos também, mas a realidade mudou. Já praticamente não há um português que escape às comissões que dão milhões.

Havia algo de fascinante nas antiguinhas Lojas dos 300. Havia, nessas lojas, sempre algo que nos atraia por solucionar um pequeno problema. Que achávamos, por isso mesmo, ser uma grande pechincha, merecedoras nos nossos míseros escudos. Sim, ainda eram escudo e não euros. Eram uns trocos que lá deixávamos de cada vez que lá íamos. Trocos meus, trocos do outro e de outros que faziam o negócio funcionar “às mil maravilhas”.

Eram, muitas vezes, onde se encontravam aquelas coisas que parecia que não existiam em mais lado nenhum. Eram a fonte de muitos produtos que descomplicavam o que pareciam complexo. E em conta. Essa mesma sensação tinha quando ia ao banco. Descomplicavam, a baixo custo. E se não fosse lá, até resolvia problemas sem custo algum. Um clique aqui, outro ali, et voilá! Sucesso!

As Lojas dos 300 eram um modelo de negócio que funcionava, mas que não resistiu à pressão da concorrência. Poucas passaram dos 300 para o euro e meio (não ficava, diga-se, no ouvido…), transformando-se em lojas de produtos chineses. Os bancos não… Quer dizer… nem todos sobreviveram. E também há investimento chinês. Mas a banca, melhor ou pior, acabou por adaptar-se à nova realidade. Mas tal como as lojas chinesas, também nos bancos os cêntimos deixaram de chegar para o que quer que seja.

A crise foi violenta para o setor. Aguentou-se como pôde, mas para sobreviver deixou de exigir trocos. Passou a exigir euros aos clientes. E muitos euros. Não se paga para entrar, embora também já haja muito menos balcões onde se possa ir. Mas passaram a cobrar por praticamente tudo.

Ter uma conta passou a ser pago a peso de ouro. Movimentar o dinheiro da conta também, mesmo sendo tudo feito em regime de self-service, com computadores do outro lado que tudo o que gastam é… energia. As comissões passaram de meras ilusões para verdadeiros pesadelos para o comum dos portugueses. Já praticamente não há um que escape.

O negócio mudou. Cobrar pelo crédito e pagar pelas poupanças? Cobram pelo pouco dinheiro que emprestam, mas não pagam nada pelo que se lhes empresta. E, pior, ainda cobram pelo espaço que todas aqueles maços de notas virtuais ocupam nos… discos rígidos, ou nuvens, desta vida.

É toda uma nova realidade que custa a todos. E está bem explícita nas contas que orgulhosamente os bancos vão mostrando. Há pompa em apresentar os milhões de euros que se ganhou num ano. É um sucesso esta estratégia de cobrar aos clientes para ter resultados que vão servir, em casos como o da CGD, para devolver aos contribuintes o dinheiro que esses mesmos lhe emprestaram. Sendo que muitos deles são também clientes. Confuso? É só ver o extrato para perceber que quem ficou a perder foi você.

A Loja dos 300 deu lugar à Loja dos 500… milhões de euros que três dos maiores bancos a operar no mercado nacional apresentaram, cada um, em resultados líquidos no ano passado — até parece que combinaram o número. Lucros são lucros. Não se devem diabolizar resultados positivos, especialmente depois de tantos anos de crise. Mas também não me fazem tirar o chapéu a quem os conseguiu quando se percebe como se alcançou esse “sucesso”.

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