Editorial

António Costa quer maioria absoluta… porque vem aí o diabo

O primeiro-ministro começou a agitar a bandeira da recessão internacional para justificar a maioria absoluta. A estratégia do medo para cumprir uma obsessão.

António Costa está obcecado com a maioria absoluta, porque é mais fácil governar sem ter de ceder às pretensões de terceiros, mais ainda quando este PS tudo quer fazer e tudo quer dirigir. Mas não deixa de ser uma ironia que seja este primeiro-ministro, depois de tudo, a usar os riscos da economia internacional e os seus efeitos em Portugal para justificar a necessidade de estabilidade política e governativa. E a maioria absoluta. Só falta mesmo a António Costa dizer que vem aí o diabo.

Todos nos lembramos, Pedro Passos Coelho acreditou que a geringonça traria o diabo, leia-se, a derrapagem da despesa e do défice. Enganou-se, porque ignorava a vontade do PCP e do BE de pertencerem a um governo e o ódio ainda maior ao centro direita, o desejo de vingança política. E também ignorava que seria possível manter a unidade da geringonça quando Mário Centeno depauperou tanto o investimento e os serviços públicos.

A geringonça, portanto, aguentou-se melhor do que o esperado e até foi capaz de suportar um Governo que levaria o défice orçamental para o equilíbrio. Ao fim de quatro anos, António Costa está a jogar no tudo por tudo para ter maioria absoluta. Já não é apenas um desejo, é uma obsessão. E por incompetência de Rui Rio, o seu principal problema é mesmo a esquerda, especialmente o Bloco de Esquerda, que o separa desse objetivo. De uma assentada, fala à esquerda e ao centro direita, que, como ele, também não gosta do BE.

O que se percebe da entrevista do primeiro-ministro ao Expresso é isso mesmo. É preciso assustar os portugueses, dizer-lhes que o Bloco de Esquerda é a instabilidade, e ao mesmo tempo acrescentar que vem aí uma situação económica internacional difícil e isso exige… estabilidade.

António Costa não vai usar a imagem do diabo – seria demais até para si – mas vai manter a estratégia dos últimos meses. Uma tensão permanente, o risco de crise, como fez na gestão da greve dos motoristas, e o medo. Vai ser assim, em crescendo, até ás eleições de 6 de outubro. E, pelo meio, vão continuar a sair críticas duras ao BE e a Catarina Martins. As voltas que a política dá, e o que isto nos diz deste PSD. Hoje, o principal adversário de Costa é o Bloco. E ainda acham que a direita não está em crise?

O diabo, claro, é um pretexto, mas António Costa até nisto tem sorte. Andou quatro anos a reduzir o défice público nominal à custa do ambiente económico internacional favorável, da política do BCE e de operações extraordinárias. O ciclo económico internacional está a virar, mas como o de Portugal arrancou mais tarde, o abrandamento da economia também tardará mais dois ou três trimestres. E Costa vai poder assim usar o medo para pedir aos portugueses para votarem no PS para manter os resultados (conjunturais) obtidos. Que o primeiro-ministro sabe que vão piorar, desde logo porque fez pouco ou nada de estrutural para os evitar. Para a maioria absoluta, vale tudo.

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