Área do Euro: Campeões do Crescimento

Não é novidade que a Área do Euro tem sido a grande campeã do crescimento, principalmente quando comparado com outras económicas desenvolvidas – principalmente face aos Estados Unidos.

Depois de vários anos a surpreender negativamente demorou até que a recuperação da área do euro convencesse os economistas. Mas desde o ano passado que a área do euro tem vindo finalmente a surpreender pela positiva.

A que se deve esta surpresa?

Fonte: Trading Economics

 

  1. Em primeiro lugar finalmente a famosa “pent up demand” (procura acumulada) libertou-se e ajudou à recuperação. Ou seja, depois de duas recessões em que o PIB real caiu mais de 5%, seria de esperar que logo em 2013/14 a economia do Euro crescesse mais rápido. No entanto, tal não aconteceu primeiro devido às incertezas que ainda pairavam sobre a moeda única e posteriormente sobre as economias emergentes e economia global em geral. Com esta aceleração dos últimos trimestres a área do euro está de certa forma a acompanhar o que as outras economias fizeram logo em 2010.
  2. Em segundo lugar, convém não esquecer a preciosa ajuda do BCE. Depois do erro que foi a subida de taxas ainda em 2011, o BCE tem vindo a aumentar os estímulos monetários, atingindo o máximo agora com o programa de compra de ativos. Estes estímulos permitiram não só depreciar o euro mas também ajudar o ajustamento orçamental dos governos, e principalmente baixar os custos de financiamento do setor financeiro e por arrasto empresas e famílias. Tipicamente as alterações de politica monetária demoram mais de um ano a ser transmitidas à economia real, pelo que o efeito das politicas do BCE estará agora no máximo.
  3. Em terceiro lugar, a politica orçamental é agora neutra ou até ligeiramente expansionista na área do euro como um todo. Ao contrario dos outros blocos económicos, a politica orçamental tornou-se restritiva logo em 2011/12, como resposta à crise das dividas soberanas. Agora, passado o pior da crise, os estados estão, timidamente, a apoiar a economia.
  4. Em quarto e ultimo lugar, esta recuperação poderá também já ser reflexo das famosas reformas estruturais, ainda que apenas marginalmente. Um bom exemplo é a boa performance das exportações espanholas que continuam a ganhar quota de mercado ao mesmo tempo que mercado interno recupera — algo que nunca ocorreu antes da crise.

E será que este momentum é para continuar?

Tudo indica que ainda que a área do euro deva continuar a crescer, provavelmente a melhor fase já ficou para trás. Dos 4 fatores que referi em cima, os 2 primeiros deverão se ir reduzindo ao longo dos próximos trimestres, e ainda que os 2 últimos se mantenham, não deverão ser suficientes:

Ainda que haja muito para recuperar nos países da periferia, no norte da Europa, os níveis de atividade e de procura interna já estão bem acima dos níveis anteriores à crise. Ou seja, a procura acumulada será cada vez menos um suporte. E por exemplo países como a Alemanha ou a Holanda já têm o mercado de trabalho “sobre aquecido”.

Estes países já estão até numa fase mais avançada do ciclo em que o crescimento se encontra num ciclo virtuoso onde a recuperação do mercado de trabalho e suporta a procura doméstica e esta por sua vez apoia também o crescimento do emprego. Falta apenas observar um maior crescimento dos salários para garantir que o fantasma da deflação é afastado de vez.

Desta forma, e tendo em conta que a inflação vai já dando sinais de vida (ainda que menos que o desejável), o BCE será menos proativo no futuro. Ou seja, não só as condições de financiamento serão menos “amigas” dos estados, empresas e famílias, mas também deveremos deixar de contar com um euro cada vez mais fraco (ou menos forte).

Para além disso, a medida que a inflação vai acelerando o crescimento do rendimento disponível das famílias, mesmo nos países que estão com maior crescimento, irá desacelerar. O que levará a um crescimento menos robusto do consumo privado do que o que temos assistido até aqui.

Resta portanto: a politica orçamental — que não pode ser muito expansionista quer pelos níveis de divida publica da maioria dos países quer pelas preferências dos países com capacidade (leia-se Alemanha e Holanda); e o impacto das reformas estruturais, que continuará a ser gradual.

Concluindo

A economia do euro estará longe de uma nova recessão mas deverá crescer menos daqui para frente. A recente divergência entre os indicadores de confiança que renovam máximos e os dados reais como produção industrial e vendas a retalho podem ser já um indicador de que a subida da inflação e o fim anunciado dos estímulos monetários estão já a ter impacto na atividade.

O primeiro trimestre ainda deverá registar um crescimento bastante sólido, em redor dos 0.5% em cadeia, mas a partir dai provavelmente regressaremos a níveis mais “normais”, em redor dos 0,3% — parece pouco mas mesmo assim é acima do potencial! Nada mau para o “doente” da economia mundial!

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