Clube dos Presidentes
Há candidatos à esquerda, há candidatos há direita, há candidatos ao centro, mas há sobretudo um conjunto de candidatos que representam no seu conjunto uma estranha e peculiar geografia política.
As Presidenciais estão de volta. Os candidatos movimentam-se. As Presidenciais prometem ser um drama com história ou uma história sem drama. Não há programas, não há manifestos, não há ideias para o país, não há nada do que pode suportar um debate político. O que os portugueses observam com indiferença e espanto são as proclamações pessoais de cidadãos que transformam o elogio em causa própria em argumentos políticos.
Sobram os egos inflamados onde faltam ecos políticos. A melodia política das Presidenciais é uma canção de embalar pouco própria quando estão em causa eleitores adultos e os destinos do país. Os portugueses têm de contornar o espanto e exigir dos candidatos um discurso político consistente e responsável. Tudo o que diz respeito ao futuro do país não pode ser indiferente aos portugueses. Os candidatos têm a responsabilidade e a obrigação de apresentar uma concepção da Presidência, uma perspectiva do país, uma função para o futuro. Mas não. Nesta fase avançada das candidaturas de papel e lápis, os aspirantes a Presidente empurram-se mutuamente junto ao guichet das votações para a segunda volta das eleições. Será que ainda existe a esperança de uma segunda volta em que não seja eleito um Presidente de segunda?
As Presidenciais resumem-se a uma sequência gasta e previsível de disposições tácticas e estratégias de captação comercial dos votos. Mais do que a afirmação das novas virtudes do novo Presidente, os candidatos desfilam argumentos negativos contra as personalidades mais pessoais e menos políticas dos rivais. Para efeitos práticos, as Presidenciais têm como objectivo eleger o melhor dos piores candidatos. Todos os candidatos parecem estar à procura de um posicionamento político na fronteira do sistema político, não por convicção, mas por oportunismo eleitoral – Uma caricatura é sempre a legenda de uma ideia política que passou. Neste sentido, as Presidenciais têm tudo para se transformarem na comédia de um país à procura dos passos em volta de uma qualquer ideia de progresso.
Há ainda a teoria dos grandes homens. Candidato a candidato, todos parecem estar convencidos das superlativas qualidades políticas, cívicas, pessoais, para fazerem face a esta nova fase da República. A nova fase da República é o fim do rotativismo bipartidário e a instalação do tripartidarismo instável. De acordo com a doutrina corrente, o grande homem da República é aquele capaz de construir “pontes”, será certamente o Presidente dos consensos na paisagem política dos desconsensos. Os portugueses estão condenados a eleger um Presidente-Engenheiro em vez de um Presidente-Rei.
Há candidatos à esquerda, há candidatos há direita, há candidatos ao centro, mas há sobretudo um conjunto de candidatos que representam no seu conjunto uma estranha e peculiar geografia política. Estas Presidenciais apostam numa geografia política alternativa nos gestos e nos discursos. Existem os candidatos marginais e os candidatos funcionais. Ventura e o Almirante são candidatos marginais. Mendes e Seguro são candidatos funcionais. Os candidatos marginais vêm de fora do sistema em direcção à fronteira. Os candidatos funcionais vêm de dentro do sistema em direcção à fronteira. Os candidatos marginais pretendem refundar o sistema político alicerçados em grandes proclamações e em grandes intenções. Os candidatos funcionais pretendem reformar o sistema político com base na federação de todas as contribuições de todos os portugueses de boa vontade. Acontece que a política portuguesa sofre de uma escassez de boa vontade em que a moderação é simplesmente sinónimo de cobardia política e de interesses instalados. Em tempos de transição social acelerada e mudança de paradigma político, resta aos candidatos funcionais a federação da esperança ou a federação do medo.
Os candidatos marginais têm todo o horizonte da responsabilidade que é refém de toda a irresponsabilidade. O Almirante sem farda é um objecto político não identificado na margem entre duas marés. O Almirante é um manequim na montra política que cada português veste de acordo com a simpatia ou antipatia com que analisa o candidato. Ventura é um megafone no estádio e promete rebentar o regime apenas com a vibração do heavy metal político. As Presidenciais são um clássico ao som dos sultões do swing.
Nas Presidenciais, a esquerda fecha-se ao país perdida na contabilidade de uma falência. Nas Presidenciais, a esquerda como projecto político não se apresenta em nome do progresso nem da igualdade social. Nas Presidenciais está a visibilidade da crise existencial da esquerda. A esquerda está viciada na “culturalização da política”, a esquerda está fechada na imposição de um “estilo de vida único”. Nestas Presidenciais, a esquerda suspira pela utopia retro.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Clube dos Presidentes
{{ noCommentsLabel }}