Dez milhões de portugueses querem o negócio do Casimiro

A venda da Groundforce em 2012 demonstrou ser um circo de interesses privados que não acautelaram o interesse público.

Há uma linha que separa a discussão ideológica do debate em torno da honestidade. O PSD sabe disso mas insiste em misturar uma e outra para lavar as mãos e não se distanciar dos empresários desonestos e que utilizam o dinheiro público em seu benefício.

Ao atuar assim, o PSD coloca tudo no mesmo saco e essa atitude é de uma tremenda injustiça para a grande maioria dos empresários, que são honestos e responsáveis. Isto vem a propósito do processo da Groundforce. Ao fim de vários debates, o PSD nunca, através dos diferentes interlocutores, teve o sentido de responsabilidade de se colocar do lado bom da história e repudiar comportamentos lesivos do interesse dos portugueses.

Não se trata de nenhum debate ideológico sobre as virtudes do público e/ou privado. Isso é outra coisa que, sublinhe-se, não devia entrar nesta controvérsia porque a sua gravidade atinge patamares inaceitáveis.

Quando em 2012 um membro do Governo contactou o Senhor Alfredo Casimiro a propor um negócio de ‘handling’, iniciou-se um trajeto que usou como premissa um enquadramento ideológico, baseado nos benefícios da gestão privada, mas que a realidade demonstrou ser antes um circo de interesses privados que não acautelaram o interesse público.

Entre 2012 e 2015 o acionista maioritário da Groundforce recebeu 7,6 milhões de euros de ‘fee’ de gestão (nem vou referir os 40 milhões de lucros) mas só pagou a aquisição da sua quota na empresa em 2017 por 3,7 milhões de euros. Um negócio sem risco, em que se paga depois de garantir que se recebe mais do dobro. Um negócio que qualquer português gostaria de fazer, não fosse o facto de Alfredo Casimiro ter enganado o Estado ao longo de todo o processo.

Não sei se com estes dados, confirmados na comissão de economia, juntando os bloqueios sistemáticos de Alfredo Casimiro, é possível, a qualquer um de nós, discutir este tema sem ficar com os cabelos em pé. Os trabalhadores da Groundforce que o digam, que foram assistindo, na praça pública, a entraves colocados a cada solução apresentada pela TAP.

Alguns por má vontade, outros por falta de verdade. A TAP injetou 12,4 milhões de euros na Groundforce desde agosto através de antecipação de serviços a prestar, para pagar salários. Em janeiro já tinha pago serviços de maio de 2021. Contudo, durante este período, o acionista Alfredo Casimiro, que tinha controlo da empresa, não foi capaz de instruir um processo de empréstimo, apalavrado pelo Governo, mas que exigia a sua conveniente instrução, desde logo com as respetivas garantias.

Pelo meio alimentou uma negociação que implicava a entrega das ações como penhor, mas que falhou abruptamente quando, na calada da noite, informou que afinal não podia dar ações porque estavam penhoradas e que, entretanto, estão a ser executadas pelo Montepio.

Pior, gravou à socapa uma conversa com um membro do governo e colocou na praça pública e ainda exigiu um contrato de 10 anos com a TAP sem qualquer risco. Ainda bem que há quem chame os “bois pelos nomes”!

  • Colunista convidado. Vice-presidente do Grupo Parlamentar do Partido Socialista

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