Energia eólica offshore, uma oportunidade com o vento favorável para Portugal

  • Dorleta Marina
  • 5 Janeiro 2023

Não há dúvida de que nos próximos anos se perspetivam grandes avanços da eólica offshore em toda a Europa, e Portugal tem todas as condições para ser um dos países a liderar esta mudança.

Diz o ditado que “quem vai ao mar, perde o lugar”, mas quando olhamos para o potencial da energia eólica offshore, o ditado aplica-se exatamente no sentido inverso: quem for ao mar, e dele souber tirar o melhor proveito, ocupará um lugar relevante na transição energética de que tanto necessitamos para alcançarmos os objetivos de descarbonização do planeta.

O contexto internacional atribulado que vivemos, tanto na esfera geoestratégica como na ambiental, colocaram o setor energético na ordem do dia e no epicentro desta mudança de paradigma que está a moldar o futuro da sociedade.

A subida generalizada dos preços dos combustíveis, eletricidade e gás, a progressiva desclassificação das centrais termoelétricas combinada com períodos de seca severa ou extrema em Portugal que, em certos períodos do ano, leva mesmo à suspensão temporária da produção hidroelétrica, apenas reforça não só a necessidade de adotar medidas estruturais, mas também a necessidade de aumentar o investimento na instalação de novos sistemas de conversão de energias renováveis, tais como a energia eólica.

Na realidade, a energia eólica offshore pode ser uma das chaves para combater estes desafios. A capacidade global da eólica offshore quadruplicou na primeira metade de 2022. No total, 6.759MW de capacidade eólica offshore entraram em funcionamento durante os primeiros seis meses de 2022, de acordo com dados do World Forum Offshore Wind. Não há dúvida de que nos próximos anos se perspetivam grandes avanços da eólica offshore em toda a Europa, nomeadamente de eólica flutuante, e Portugal tem todas as condições para ser um dos países a liderar esta mudança.

O potencial de Portugal

No caso português, para termos uma ideia do crescimento esperado, é necessário ter em conta que Portugal tem atualmente 25MW de capacidade instalada de energia eólica offshore e tem a ambição de lançar, este ano, leilões para atingir 10 GW de energia eólica no mar até 2030. Estes números demonstram inequivocamente o compromisso do governo português com as metas e objetivos estabelecidos para a descarbonização, principalmente se compararmos com o país vizinho- Espanha- que anunciou um objetivo de 1 a 3 GW, apesar de ter mais recursos e maior procura.

Contudo, para que as metas sejam possíveis de atingir, é igualmente importante adotar processos de licenciamento ajustados à ambição cronológica das metas estabelecidas. Reforçar as entidades públicas com meios para acelerar o processo de licenciamento é fundamental, mas não só, uma vez que o envolvimento de todos aqueles que participam na cadeia de valor será fundamental para o sucesso do processo de descarbonização. E quanto mais cedo os promotores dos projetos iniciarem o diálogo com todos aqueles que serão intervenientes nestes processos (como os portos, estaleiros navais, associações locais, etc.), melhor, para que os projetos apresentados a leilão contemplem desde logo as necessidades de todas as partes, não deixando ninguém de fora da equação.

O governo português já criou um Grupo de Trabalho Interministerial das áreas do mar, energia e infraestruturas e 31 de maio de 2023 é a data-limite para a apresentação das principais recomendações deste Grupo de Trabalho aos membros responsáveis do Governo, como o formato do leilão ou concurso recomendado para a seleção dos promotores dos projetos. E é fulcral que estas datas não derrapem se o País quiser cumprir as metas previstas.

É igualmente importante que os concursos para a adjudicação de projetos contemplem demarcações geográficas e que sejam claros se os próprios concursos serão divididos em diferentes fases e, se sim, quais os critérios para cada fase. E que estes critérios sejam razoáveis e ajustados às zonas geográficas definidas.

É também essencial que as empresas com experiência no desenvolvimento de parques eólicos offshore flutuantes sejam priorizadas nos leilões a serem lançados, uma vez que este critério será uma garantia de sucesso. O desenvolvimento da tecnologia dos parques flutuantes e parques fixos estão em fases muito diferentes, pelo que o portefólio de parques flutuantes dos promotores deverá ser valorizado em relação aos parques em funcionamento (que são na sua maioria fixos).

Não nos podemos esquecer que a particularidade colocada pelo facto de Portugal ter uma plataforma continental estreita significa que a maioria dos parques eólicos não poderão ser apoiados por fundações fixas, porque a profundidade cresce muito rapidamente junto da costa. E, até à data, estas fundações fixas requerem uma profundidade inferior a 50 metros.

Há inúmeras vantagens que podemos tirar da criação de parques eólicos offshore flutuantes em alto mar, como a maior capacidade de gerar energia, uma vez que a força do vento é maior; e o menor impacto visual que, consequentemente, tem menor efeito sobre o turismo.

Se Portugal pretende desempenhar um papel fundamental na transição eólica offshore e não ficar para trás, deve lançar os leilões o mais cedo possível, caso contrário, estaremos desde logo atrasados na sua concretização. A título de exemplo, depois de se adjudicar um projeto de parque eólico offshore flutuante, estima-se um tempo de desenvolvimento entre 5 e 7 anos e um tempo de construção subsequente entre 3 e 5 anos. Só com estes timings médios vemos como será desafiante conseguir cumprir as metas para 2030.

A eólica offshore é uma oportunidade única para embarcarmos numa nova viagem rumo a um ambiente sustentável para as pessoas e para o planeta. Já os antigos gregos apontavam a água e o mar como dois elementos fundamentais que explicam o mundo. Cabe a todos nós saber tirar o melhor partido desta energia com tanto potencial. E não estarmos focados apenas nas metas para 2030. Porque 2030 é já amanhã.

  • Dorleta Marina
  • Diretora de Projetos na IberBlue Wind

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