Era muito mais giro na FIL

Falta um pouco de improviso e naturalidade a esta edição do Web Summit.

Este Web Summit 2020 bem podia terminar no título. Ontem, quando vi Filomena Cautela aparecer no ecrã do meu computador e a dar as boas-vindas ao Web Summit 2020, pensei nos passos que já teria dado se o evento fosse, como normalmente era, no Altice Arena. E nas avarias que teria de fazer para, com o computador ao colo, escrever as primeiras linhas sobre o que disseram Paddy Cosgrave, António Costa e Fernando Medina, sobre a “sunny” Lisboa, o “charming and vibrant” Portugal e a “incredible” sensação de estar em cima daquele palco, rodeado de milhares de pessoas a vibrar com ele.

Pois é: ontem, sentada à secretária do home office que montei há muito pouco tempo – sim, eu era das que trabalhavam, desde março, na mesa de refeição – suspirei ao ouvir tantas palavras… lidas. E não terminou na sessão de abertura. Seguiram-se nomes sonantes da política e da tecnologia: a presidente da Comissão Europeia, Ursula von del Leyen destacou as mudanças que serão aplicadas nas regras do mercado digital, para ultrapassar obstáculos e burocracias ao passar as fronteiras, o CTO do Slack antecipou as mudanças nas dinâmicas e até na decoração dos escritórios (mas faltou-lhe falar do negócio que, horas, antes, tinha sido anunciado…), Michelle Bachelet sublinhou o impacto da tecnologia na igualdade, nos direitos humanos e no acesso a determinados direitos, e o palco fechou com Gwyneth Paltrow, a contar como a ideia do The Goop andou na sua cabeça anos, secretamente pensada para ser um negócio (que agora é).

Foram mais de nove horas sentada ao computador a assistir a uma sucessão de conversas – umas mais, outras menos -, sem parar para respirar. De uma, passamos a outra, depois a outras, numa interminável cadência de palavras muito preparadas e sem espaço para o improviso (que é a magia de fazer estas coisas ao vivo, eu diria).

O alívio chegou só depois das 21h quando, no palco principal, Filomena Cautela voltou para convidar os participantes para mais uma hora de mingle, a feature de speed dating criada pela organização para permitir aos assistentes conhecerem e conversarem com pessoas novas (e que a Mariana Espírito Santo testou e conta aqui).

A dinâmica de gravar as talks com mais de 800 oradores antes da sua transmissão já me tinha sido detalhada na conversa que tive, esta terça-feira, com Gavin Morrison, director of Politics e responsável por todo o conteúdo social e político na Web Summit. “Uma grande parte do meu trabalho é pesquisa sobre o que serão os temas-chave do ano seguinte e as pessoas que serão as mais relevantes para falar desses temas. Muitas vezes chegamos a esses tópicos e depois começamos a procurar as pessoas que melhor podem tratá-los. Por vezes é relativamente simples identificar esses temas mas, noutras, é mais difícil prever”, explicava. São alguns destes casos – por exemplo, a compra do Slack pela Salesforce – que valia a pena ter ouvido falar disto ontem, nem que fosse numa conferência de imprensa, não é verdade?

Valeu, no prémio do “improviso gravado”, o brinde das estrelas de Breaking Bad e empreendedores Bryan Cranston e Aaron Paul que, à conversa com o jornalista Zack O’Malley Greenburg da Forbes, adoçaram a minha curiosidade de provar o mezcal da marca que criaram, a Dos Hombres, e da qual falaram com tanta paixão que tive vontade de me teletransportar, da sala para Oaxaca, no México.

Depois deste primeiro dia, juro que nunca mais me vou queixar dos quilómetros que ando todos os novembros entre os quatro pavilhões da FIL, o palco principal do Altice Arena e a Media Village: é que as deslocações sempre dão para respirar entre conferências.

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