Investimento na transição energética bateu recordes em 2021 a nível global

  • Pedro Amaral Jorge
  • 8 Fevereiro 2022

A transição energética está em velocidade cruzeiro, mas há muito ainda a fazer para garantir que atingiremos a neutralidade climática em 2050, de acordo com o que nos comprometemos.

O investimento na transição energética bateu, a nível global, recordes em 2021 atingindo os 755 mil milhões de dólares (660 mil milhões de euros), de acordo com um relatório da BloombergNEF. Trata-se de um novo máximo alcançado graças à ambição climática crescente e dinâmica de muitos países de todo o mundo, empenhados no objetivo de aumento da potência renovável como a ferramenta mais determinante nesta década para a descarbonização da economia e da sociedade.

O crescimento verificou-se em quase todos os setores que o relatório abarca, nomeadamente energias renováveis, armazenamento de energia, aquecimento/arrefecimento, mobilidade elétrica, hidrogénio verde e materiais sustentáveis. O decréscimo de investimento verificou-se apenas no que diz respeito a projetos de captura, sequestro e armazenamento de carbono (CCS), pese embora tenham sido anunciados alguns projetos.

Este relatório da BloombergNEF analisa as tendências de investimento na descarbonização, não só por parte de Governos, mas também de empresas e instituições financeiras. A análise inclui a energia nuclear – que consideramos que não deveria ser levada em conta no esforço de transição energética dado os riscos ambientais e de segurança que acarreta, além de que o seu custo de produção é três vezes superior ao custo de produção da eólica e do solar fotovoltaico.

As energias renováveis – sobretudo eólica e solar fotovoltaico – representam o segmento com maior impacto neste processo, segundo o relatório. Em 2021 o investimento rondou os 366 mil milhões de dólares, mais 6,5% do que no ano anterior. Em segundo lugar surge a mobilidade elétrica, que inclui não só os veículos, mas toda a infraestrutura associada. Nesta área o salto foi de 77% com um investimento de 273 mil milhões de dólares. O peso do hidrogénio, dos materiais sustentáveis e da captura e armazenamento de carbono ainda é pouco significativo, mas o potencial de crescimento é enorme.

A China, tal como era previsível, foi o país que mais investiu na transição energética, alocando 266 mil milhões de dólares em 2021. Os Estados Unidos ocupam o segundo lugar, com 144 mil milhões. Alemanha, Reino Unido e França perfilam-se logo depois com os maiores investimentos em transição energética. Globalmente, os Estados-Membros da União Europeia anunciaram investimentos de 154 mil milhões.

Mesmo com a crise mundial das matérias-primas, que trouxe novos desafios ao setor das renováveis, aumentando os custos de alguns materiais e componentes usados em tecnologias-chave, como módulos de painéis solares fotovoltaicos e turbinas eólicas, verificamos que se registou um aumento de 27% no investimento na transição energética em 2021 em todo o mundo.

Este é um sinal claro de que as empresas e os Governos estão muito comprometidos com este esforço de descarbonização. Mais: encaram a transição energética como a solução de futuro em termos ambientais, uma oportunidade de desenvolvimento socioeconómico, uma solução para aumentar a competitividade das suas empresas. Vislumbram-na também como forma de atingir a estabilidade e previsibilidade de preços num mercado de energia ainda muito marcado pela volatilidade.

A transição energética está em velocidade cruzeiro, mas há muito ainda a fazer para garantir que atingiremos a neutralidade climática em 2050, de acordo com o que nos comprometemos. São muitas as soluções “chave na mão” na área das renováveis, que podem contribuir para este esforço global, mas a necessidade de inovação incremental e disruptiva é constante. A aposta na investigação e no desenvolvimento, para aperfeiçoar algumas tecnologias que serão determinantes nas próximas décadas, é fundamental para responder à urgência climática. E esta é uma ambição que é possível compaginar com desenvolvimento socioeconómico, como está mais do que demonstrado.

  • Pedro Amaral Jorge
  • Presidente da APREN

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