Metáfora “Os senhores da terra e a ilusão da colheita eterna”

  • Fernando Parreira
  • 16 Outubro 2025

Nenhuma terra dá eternamente se não souber ouvir o apetite do tempo. A tradição é um património valioso - mas não paga salários nem garante futuro.

A metáfora do solar digital

Era uma vez um senhorio de terras férteis que acreditava que, porque os campos sempre deram trigo, continuariam a dar. Assim faziam já o pai e o avô, e a tradição parecia bastar para sustentar o solar. Mas os tempos mudaram. Os viajantes que outrora paravam para comprar pão já não tinham a mesma paciência para mastigar longas broas secas, feitas de sempre a mesma massa. Agora, preferiam mercados mais vivos, com especiarias, sons e novidades.

Os publishers digitais de hoje são esse senhorio. Continuam a plantar artigos extensos sobre todos os assuntos, convencidos de que o público permanecerá sentado, disposto a consumir páginas intermináveis como se fosse 2005. E, no entanto, o mundo já aprendeu novos caminhos: conteúdos rápidos, relevantes, ajustados ao contexto e ao instante.

Publicidade tímida, receitas frágeis

A ilusão repete-se também na forma como tratam a publicidade. Temendo ser “demasiado intrusivos”, colocam pequenas bancas discretas nas suas páginas — formatos que passam despercebidos, tímidos, e que geram muito menos do que seria necessário para sustentar a quinta.

Ao mesmo tempo, esquecem que o público tolera, e até valoriza, publicidade quando esta é clara, criativa e parte da experiência.

A confusão entre memória e estratégia

No fim, nem o pão alimenta, nem os mercadores pagam renda suficiente. As paredes do solar digital vão-se desfazendo, não por falta de talento editorial, mas por insistência numa gestão que confunde memória com estratégia.

Se os senhores da terra não mudarem de sementeira — se não perceberem que a sustentabilidade depende de novos modelos de negócio, de formatos mais ousados e de uma relação mais equilibrada entre conteúdo e publicidade — então não será a tradição a salvar o campo. Será o abandono.

O apetite do tempo

Nenhuma terra dá eternamente se não souber ouvir o apetite do tempo. E o tempo, neste caso, pede menos inércia, menos saudade e mais coragem para reinventar a forma como os media se relacionam com as suas audiências e com os anunciantes.

A tradição é um património valioso — mas não paga salários nem garante futuro.

  • Fernando Parreira
  • CRO InsurAds

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