Metáfora “Os senhores da terra e a ilusão da colheita eterna”
Nenhuma terra dá eternamente se não souber ouvir o apetite do tempo. A tradição é um património valioso - mas não paga salários nem garante futuro.
A metáfora do solar digital
Era uma vez um senhorio de terras férteis que acreditava que, porque os campos sempre deram trigo, continuariam a dar. Assim faziam já o pai e o avô, e a tradição parecia bastar para sustentar o solar. Mas os tempos mudaram. Os viajantes que outrora paravam para comprar pão já não tinham a mesma paciência para mastigar longas broas secas, feitas de sempre a mesma massa. Agora, preferiam mercados mais vivos, com especiarias, sons e novidades.
Os publishers digitais de hoje são esse senhorio. Continuam a plantar artigos extensos sobre todos os assuntos, convencidos de que o público permanecerá sentado, disposto a consumir páginas intermináveis como se fosse 2005. E, no entanto, o mundo já aprendeu novos caminhos: conteúdos rápidos, relevantes, ajustados ao contexto e ao instante.
Publicidade tímida, receitas frágeis
A ilusão repete-se também na forma como tratam a publicidade. Temendo ser “demasiado intrusivos”, colocam pequenas bancas discretas nas suas páginas — formatos que passam despercebidos, tímidos, e que geram muito menos do que seria necessário para sustentar a quinta.
Ao mesmo tempo, esquecem que o público tolera, e até valoriza, publicidade quando esta é clara, criativa e parte da experiência.
A confusão entre memória e estratégia
No fim, nem o pão alimenta, nem os mercadores pagam renda suficiente. As paredes do solar digital vão-se desfazendo, não por falta de talento editorial, mas por insistência numa gestão que confunde memória com estratégia.
Se os senhores da terra não mudarem de sementeira — se não perceberem que a sustentabilidade depende de novos modelos de negócio, de formatos mais ousados e de uma relação mais equilibrada entre conteúdo e publicidade — então não será a tradição a salvar o campo. Será o abandono.
O apetite do tempo
Nenhuma terra dá eternamente se não souber ouvir o apetite do tempo. E o tempo, neste caso, pede menos inércia, menos saudade e mais coragem para reinventar a forma como os media se relacionam com as suas audiências e com os anunciantes.
A tradição é um património valioso — mas não paga salários nem garante futuro.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Metáfora “Os senhores da terra e a ilusão da colheita eterna”
{{ noCommentsLabel }}