Não matem a galinha dos ovos de ouro
No pico da chegada de voos, manter o mesmo atendimento que está estabelecido para outros horários calmos, não funciona. É altura de rever as condições da concessão da ANA aeroportos.
Há bastante tempo que foram instaladas novas máquinas automáticas, nos dois terminais, para controlo automático de passaportes, mas que não estão ativadas, sem que o turista perceba porquê. E as filas para quem chega de fora da União Europeia continuam, quando seria possível atenuar essa espera, por exemplo, com reforço de meios consoante o fluxo das chegadas à Portela.
O aeroporto de Lisboa está concessionado à Vinci, tal como todos os aeroportos nacionais, através da ANA. Vários governos, desde o período da troika, prometeram a esta empresa francesa que haveria um novo aeroporto de Lisboa e que, entretanto, haveria obras na Portela. Todos conhecemos os atrasos em ambos os projectos, mas isso não desculpabiliza totalmente a gestão do aeroporto Humberto Delgado, nos últimos anos de grande afluxo turístico.
O governo (seja ele qual for) pode e deve escrutinar, fiscalizar mais e melhor, em nome do Estado português, porque uma concessão ineficaz pode matar a galinha dos ovos de ouro que tem sido o turismo para Portugal.
Os turistas que têm vindo a Portugal não são apenas os low cost. São muitos norte-americanos e brasileiros com poder de compra e são europeus que fazem short breaks e que têm a oferta de outros destinos competitivos, como nos Balcãs e na Europa de Leste.
A estratégia natural seria tentar fidelizar para que voltem ao território nacional. No entanto, com esta situação de caos nas chegadas (que não é nova e que se repete nos últimos anos), há o risco de os turistas procurarem outros destinos e não querem repetir a má experiência do aeroporto de Lisboa.
É certo que poderia haver melhor articulação com o aeroporto de Porto e Faro quando há uma sobrelotação de Lisboa, mas para isso precisamos de boas ligações ferroviárias destas cidades à capital, o que não acontece há décadas, por incúria de sucessivos governos. E também é certo que falta reforçar meios humanos dos agentes da PSP que substituíram o extinto SEF.
É óbvio que, quando a capacidade nas chegadas está esgotada, já se deveria ter escolhido há vários anos um aeroporto próximo, só para as low cost, por exemplo, com soluções compatíveis com as contas do Estado. Está estudado, seria fácil e barato, mas não dá dinheiro a ganhar aos lobbies instalados.
Também é certo que é pouco eficaz e quase enganador promover a imagem de um destino turístico tão agradável e com oferta tão diversificada como é Portugal e, ao mesmo tempo, continuar a passar esta imagem desorganizada e pouco profissional, para ser simpático nos adjectivos que servem para classificar esta situação que nos envergonha a todos.
Na gestão de transportes, se há algo previsível são os horários dos voos (mesmo descontando os atrasos) ou dos comboios ou barcos. É uma questão de gestão e alocação dos meios adequados em função dos fluxos.
No pico da chegada de voos, manter o mesmo atendimento que está estabelecido para outros horários calmos, não funciona. O reforço dos meios e melhor organização e gestão são fundamentais para manter a galinha a pôr ovos. É altura de agir quanto antes e, se necessário, rever as condições da concessão da ANA aeroportos.
Na vida, nada deve ser dado como adquirido, excepto a morte. E empurrar decisões com a barriga vai dar mau resultado, quando já estamos em contagem decrescente para o mundial de futebol de 2030.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Não matem a galinha dos ovos de ouro
{{ noCommentsLabel }}