Online é mais barato mas sai caro a quem quer poupar

Ir a um balcão de um banco sai caro. Fazer qualquer operação tem o custo da comissão para pagar o salário do bancário. Então porque é que fazer uma poupança na agência dá bónus?

Comissões, mais comissões e ainda mais comissões. Ano após ano — e, por vezes, até mais do que uma vez por ano –, ser cliente de um qualquer banco tem ficado mais caro. Se o Banco Central Europeu olhasse para a inflação destes preços, há muito que não tínhamos taxas de juro de referência em zero (com promessa de assim se manterem por muito mais tempo).

Os preços dos serviços prestados pelos bancos subiram em flecha. O simples facto de ter uma conta pode chegar a custar quase 70 euros por ano, enquanto um cartão de débito, essencial para movimentar essa mesma conta, pode tirar-lhe da carteira até praticamente 30 euros. E a fatura tem potencial para disparar, se não tiver cuidado.

É verdade que levantar dinheiro é, em Portugal, gratuito nas máquinas automáticas, algo que não acontece na generalidade dos países europeus, mas também a nível mundial. É uma “borla” para quem as usa ou sabe usar. Mas quem não o faz, por desconhecimento do funcionamento desta tecnologia ou por necessidade de valores mais elevados, tem de pagar. E bem.

São custos avultados que os banqueiros explicam, muitas vezes, com o facto de terem de ter funcionários nos balcões para fazerem essas operações… que custam dinheiro. “São as comissões que remuneram os trabalhadores dos bancos”, como disse, recentemente, Paulo Macedo, presidente executivo da Caixa Geral de Depósitos.

Os bancários, não os banqueiros, têm vindo, paulatinamente, a serem despedidos, como forma de os bancos conseguirem reduzir os custos que, por sua vez, lhes vão permitir aumentar os resultados líquidos. São um custo para os bancos, suportado pelas comissões dos clientes, mas esta explicação cai por terra quando em vez de em cima da mesa estar a entrega de dinheiro ao cliente se assistir ao seu contrário.

Diz o Banco de Portugal que, depois de analisados todos os depósitos a prazo comercializados pelos bancos no ano passado, em plena pandemia, “a taxa de juro média dos depósitos comercializados nos canais tradicionais era mais elevada do que a dos depósitos disponibilizados exclusivamente nos canais digitais, em todos os prazos”.

Mais: numa aplicação com um prazo de três meses, “a taxa de juro média era de 0,13% nos depósitos comercializados nos canais digitais, que comparava com 0,26% nos canais tradicionais”. Ou seja, quem se deslocar ao balcão de um banco para aplicar dinheiro neste depósito vai receber o dobro em comparação com aqueles que o fazem na comodidade da sua casa.

É um resultado surpreendente, no mínimo. Como é que os mesmos bancos que despedem milhares de trabalhadores que dizem não serem necessários nos balcões, até porque cada vez menos pessoas recorrem a eles, dão, ao mesmo tempo, incentivo para que mais pessoas corram para as agências para aplicarem as suas poupanças?

Onde está a lógica? Se me dão uma “borla” por usar canais digitais na minha relação com o banco, porque o custo para o banco é menor, então porque é que não me dão juros mais elevados também quando quero investir as minhas poupanças?

A explicação para este contrassenso, de acordo com o regulador do setor, está na “flexibilidade”. O que quer dizer com isto? Basicamente, enquanto online ou com uma simples app, eu aplico e resgato qualquer montante em segundos, privando o banco dos meus recursos (que podem depois ser utilizados para conceder crédito), num depósito ao balcão é mais moroso esse processo. E haverá sempre algum bancário, um dos poucos que restam porque são caros para a banca, mandatado para me demover do resgate.

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