Por que não mudam os partidos?

Em termos partidários vivemos tempos bafientos, está na altura de arejar, sob pena do descrédito total numa actividade tão nobre como é a política.

É opinião generalizada que a classe política não presta, os partidos políticos são antros que só reúnem os analfabetos funcionais que não sabem fazer nada e sobrevivem e ascendem às custas de um aparelho de contactos, “cacicagens” e pagamentos de quotas que enojam qualquer pessoa de carácter. Isto é por cá. Mas todos sabemos que essa degradação da percepção pública da imagem de quem pratica esta actividade anda pelas ruas da amargura.

Portugal tem uma democracia de 43 anos, estável, sem ameaças de retrocesso, mas se olharmos para o estado da arte vemos que pouco ou nada mudou, especialmente em comparação com outras democracias europeias onde houve evolução e mudanças claras sobretudo na vida partidária.

Em Espanha as sondagens são lideradas pelo Ciudadanos, no país de Astérix manda um jovem, Macron, que revolucionou com o “En Marche”, em Itália, outrora dominada por Democracia Cristã e PCI há muito que rebentou pelas costuras e novas formações impuseram a sua voz. Por toda a Europa, tanto à esquerda como à direita, foram criados novos projectos que, a pouco e pouco, têm vingado e muitas vezes abatido os partidos do tradicional arco do poder.

Se assim é por todo o lado, qual o motivo para a cristalização do nosso sistema partidário e para sermos a aldeia gaulesa onde tudo fica na mesma? Porque continuamos com a realidade de alternância PS/PSD? Porque há enormes dificuldades na afirmação de algo de novo e ousado? Primeiro, porque o estado das coisas interessa a quem se senta no Parlamento; depois, é uma maneira dos medíocres se perpetuarem sem ameaças válidas, pois os partidos adoram falar na meritocracia, para inglês ver, mas têm medo e horror a ela. Por último, porque há enormes obstáculos a quem quer criar um novo partido.

Por exemplo, e saúdo ambos pois têm pessoas que estimo, nos últimos tempos quem lê jornais, mas sobretudo redes sociais, deve ter reparado na Iniciativa Liberal e na Democracia XXI. Projectos válidos e dos quais aguardamos ideias, intervenções arrojadas e dinâmicas e também novos rostos, porque está tudo cansado das mesmas caras de sempre, até dos mais novos que já parecem gastos pelo tempo. Porém, não são alternativas de poder para já e têm um longo caminho pela frente. Enquanto isso, a realidade que todos conhecemos mantém-se inalterável, pastosa, sem chama e pouco atraente.

A repulsa que os portugueses têm pela classe política está bem evidente nas audiências televisivas. Já repararam que o único canal, e refiro-me exclusivamente ao cabo, que lidera na informação, a CMTV, não tem nenhum painel de comentário político? Enquanto os outros, com jovens cromos ou velhos dos Marretas, todos os dias vão dando sinais de perda de telespectadores? Era tempo dos políticos perceberem com humildade que têm de evoluir, que têm de abrir as suas portas ao talento e não ao rapazinho do aparelho que sabe ao minuto quem morre na paróquia para lhe ligar e mostrar a solidariedade que vale o votozinho para ser eleito para a concelhia, distrital e ir ao congresso de gravatinha para parecer que é um tipo sério. Em termos partidários vivemos tempos bafientos, está na altura de arejar, sob pena do descrédito total numa actividade tão nobre como é a política.

Nota: O autor escreve segundo a antiga ortografia.

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