Um orçamento para a inovação na Defesa nacional e europeia

  • João Brito
  • 17 Outubro 2025

Portugal não tem capacidade de fornecer a totalidade de um setor de defesa, mas pode ser especialista. A integração em consórcios internacionais é uma forma de explorar esse potencial.

Na semana passada, o país acordou com uma novidade inédita em Portugal: o Orçamento de Estado de 2026 para a Defesa inclui um reforço do investimento em 772 milhões de euros, o que representa um aumento de 25% face ao orçamento deste ano. Este não é, contudo, um anúncio inesperado: o montante está alinhado com o compromisso de Portugal com a NATO e confere-lhe execução financeira. É um reconhecimento não só da crescente importância deste setor, mas também do papel que Portugal pode desempenhar a nível europeu.

Este Orçamento representa uma oportunidade e a valorização do contributo da inovação portuguesa para fazer face às ameaças com que nos confrontamos na atualidade. A indústria portuguesa é competitiva e tem uma base muito sólida, que permite que o investimento não se traduza apenas na modernização das nossas Forças Armadas, mas também no desenvolvimento do nosso tecido empresarial. Há casos muito relevantes de colaborações entre os vários ramos das Forças Armadas e empresas inovadoras, o que prova que esta pode ser uma relação frutífera. Este esforço de investimento traduz-se assim num duplo benefício: melhoria de desempenho na execução das funções de defesa nacional e soberania, e crescimento na cadeia de valor da indústria nacional, com efeitos positivos a médio e longo prazo.

No entanto, note-se que este investimento na modernização e inovação para a indústria da Defesa não terá repercussões apenas em Portugal. Pelo contrário, está enquadrado numa estratégia de uma Europa ainda cautelosa, mas ambiciosa, que aposta cada vez mais num conjunto abrangente de programas que vão além do simples rearmamento, disponibilizando instrumentos para aquisição conjunta de capacidades “made in Europe” (SAFE) e de Desenvolvimento e Tecnologia (Fundo Europeu de Defesa). É fundamental que esta iniciativa e capacidade de inovação se traduzam e consolidem a nível nacional, através da participação portuguesa em áreas prioritárias para o desenvolvimento de competências críticas. O foco deve estar em sistemas interoperáveis, sistemas autónomos e remotos, e tecnologias de comando e controlo, valorizando os setores tecnológicos emergentes, que têm um papel cada vez mais relevante no contexto geopolítico global.

Este Orçamento representa uma oportunidade e a valorização do contributo da inovação portuguesa para fazer face às ameaças com que nos confrontamos na atualidade. A indústria portuguesa é competitiva e tem uma base muito sólida, que permite que o investimento não se traduza apenas na modernização das nossas Forças Armadas, mas também no desenvolvimento do nosso tecido empresarial.

Pela sua escala, Portugal não tem capacidade de fornecer a totalidade de um setor de defesa, mas pode ser especialista em áreas específicas. A integração em consórcios internacionais, cruzando clientes, indústria e academia, fomenta a coesão do ecossistema europeu de defesa, ao mesmo tempo que promove as vantagens competitivas da indústria nacional em áreas particulares. Esta é uma forma estratégica de explorar esse potencial e acrescentar valor ao panorama europeu. Este deve ser o trampolim para o investimento em inovação na indústria da Defesa, e Portugal tem de aproveitar esta vantagem competitiva.

O panorama atual coloca o teatro de operações não apenas na linha da frente, mas em todo o território e múltiplos domínios: uma guerra híbrida. Os ataques são agora também dirigidos a sistemas críticos da nossa infraestrutura económica e social como a rede de distribuição elétrica, comunicações ou o sistema financeiro e de pagamentos, através de operações que podem ser de sabotagem física ou ciberataque. Em suma, os alvos são variados e dispersos, e os vetores de ataque são múltiplos e evolutivos, podendo ser utilizados de forma individual ou em modo coordenado. Cabe aos vários intervenientes do setor, como reguladores e operadores, garantir o desenho de soluções que nos permitam aumentar a resiliência a estas ameaças, e cabe ao poder político investir naquelas que são as áreas prioritárias.

Por sua vez, à indústria cabe a missão de contribuir para a solução deste desafio trazendo a sua capacidade de inovar, de agilizar e de produzir, de forma eficiente, aquilo que serão os sistemas do futuro. Produtos esses que terão de construir e assegurar superioridade multidomínio, num contexto geopolítico cada vez mais complexo, mais rápido, agressivo e incerto.

Guiada pela visão de longo prazo das Forças Armadas e impulsionada por um ecossistema dinâmico e inovador, a nossa indústria tem tudo para conquistar o reconhecimento internacional. A capacidade de se reinventar e adaptar será o que a tornará uma verdadeira referência numa indústria de defesa em transformação.

  • João Brito
  • Division Director de Smart & Reliable Systems da Critical Software

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