Uma porta para o mundo. É assim que os novos alunos que estão agora a entrar em Contabilidade no ISCAL veem a profissão que ganhou "cor" e novas perspetivas com a IA e o desafio da sustentabilidade.
“Gostava muito de trabalhar fora do país e a contabilidade é uma profissão que permite mobilidade internacional”, diz Matilde Machado, uma das novas alunas da licenciatura em contabilidade do Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa (ISCAL) que arrancou há algumas semanas. Para esta jovem madeirense que deixou para trás a área de Artes Visuais para seguir a sua paixão pelos números e análise de dados, a contabilidade é uma porta para o mundo. “Acredito que em Portugal tenhamos bastantes empresas boas e profissionais de qualidade. Aqui não falta oferta. Qualquer empresa que comece precisa de um contabilista para se manter segura”, mas o desafio da internacionalização é maior.

Cristiana Pereira também vê aqui a sua oportunidade de conhecer outras realidades. “Vejo-me a começar como contabilista numa empresa, mas a longo prazo gostava de criar a minha própria empresa. Não só a nível nacional, mas internacional para conhecer outros mercados”, diz a nova aluna, isto enquanto percorremos os corredores cujas paredes estão “forradas” com azulejos históricos, herdados do antigo Instituto Comercial de Lisboa e que estão agora a ser recuperados. Ao seu lado, está Tomás Ferreira, vindo dos Açores, que também olha para esta carreira como uma forma de “poder estar em vários lugares do mundo. Pelo desafio, pelo desconhecido”. A possibilidade da mobilidade internacional atrai hoje muitos jovens para a licenciatura em Contabilidade.
"Vejo-me a começar como contabilista numa empresa, mas a longo prazo gostava de criar a minha própria empresa. Não só a nível nacional, mas internacional para conhecer outros mercados.”
Esta perspetiva surpreende Ana Dias, Diretora da Licenciatura em Contabilidade, porque apesar de ser esta a ideia partilhada ao longo do curso, não esperava que estes jovens – os três que entraram com a média mais elevada – já olhassem para a profissão desta forma. “É uma geração muito preparada. Esta nova geração traz uma parte financeira muito mais estruturada, com mais conhecimentos onde conseguem aplicar o seu dinheiro”, refere, falando com orgulho do grupo que agora entrou no instituto.

A responsável nota, porém, que é preciso apostar mais na análise crítica da informação, nomeadamente numa altura em que as novas tecnologias, como a inteligência artificial (IA), já fazem parte do dia-a-dia de quem verifica as contas das empresas. É preciso haver “ceticismo profissional” perante esta revolução tecnológica. “Têm de ter conhecimentos que lhes permita ver a informação como um todo e fazer uma análise crítica, seja positiva ou negativa”, realça.
"Os alunos têm de ter conhecimentos que lhes permita ver a informação como um todo e fazer uma análise crítica, seja positiva ou negativa.”
É também a possibilidade de poder usar estas novas ferramentas digitais para facilitar o trabalho dos contabilistas, e permitir que se foquem noutras funções como a análise dos dados e ajudar na tomada de decisão dos empresários, que está a atrair mais jovens para a profissão. “Hoje em dia, nós jovens usamos muito mais a tecnologia do que os nossos pais ou avós. Gosto muito de trabalhar com o tradicional, gosto muito de papel, mas também sinto que hoje a tecnologia tem de estar lá, senão torna-se tudo mais difícil. É muito mais eficaz e mais rápido de trabalhar”, diz Cristiana Pereira, que tem a Economia como formação.

“Temos cada vez mais tecnologias e cada vez é mais importante ter sustentabilidade, senão acabamos por rebentar com o mundo. São áreas muito importantes e cada vez mais devíamos estudar mais”, aponta, por outro lado, Matilde Machado, que se vê a “dedicar ao ramo da Fiscalidade, possivelmente fazer um mestrado em Finanças Empresariais e, quem sabe um dia, trabalhar com as big four” antes de se lançar ao mundo. Também o fator tecnológico “atrai bastante” Tomás Ferreira, “mas o que me atrai mesmo é a segurança e estabilidade desta área”.
O programa do curso foi alterado este ano para incluir estas duas áreas que vêm dar “cor” a uma profissão às vezes ainda vista como “cinzenta”. “Tínhamos de tornar o curso mais tecnológico e ter as novas tecnologias. Já tínhamos uma unidade curricular, as tecnologias e sistemas de informação, mas que se baseiam muito num Office, no uso de um Excel. Isto já não chegava. Já temos grandes volumes de dados para analisar que estão cada vez mais interligados. Sentimos necessidade de fazer já na licenciatura uma unidade curricular para a análise dos dados utilizando sistemas de informação mais preparados, como um Power BI”, explica Ana Dias, que está no ISCAL há quase duas décadas, conhecendo todas salas do instituto que vai mostrando ao longo dos vários pisos, incluindo aquelas mais preparadas para o uso das ferramentas tecnológicas.

“Também sentimos a necessidade do relato da sustentabilidade. É também uma nova unidade curricular da licenciatura porque é uma profissão que está aí a bater à porta”, acrescenta, relembrando que “vêm as novas normas da UE que vamos dar em relato da sustentabilidade, na expectativa de que os alunos possam contribuir para esta aplicação”.
São estas áreas que vão diferenciar quem hoje se forma em Contabilidade. “Já não podemos olhar para um contabilista como aquela pessoa que está num escritório a registar uma fatura, a colocar faturas em dossiers e a falar só para o dono da empresa ou a fazer apenas um imposto para a Autoridade Tributária”, diz a diretora da licenciatura. “Os contabilistas estão preparados para dar a informação e de uma forma a que a gestão está habituada a ler. O nome tem de estar desligado daquilo que é o escritório, o registo contabilístico”, aponta.
É com esta aposta nestas duas novas unidades curriculares – que vão preparar melhor os jovens para a nova era da profissão de contabilista – que Ana Dias espera manter a “boa adesão ao curso” que soma agora 700 pessoas entre os três anos de licenciatura. Um número já elevado para o edifício de seis andares em plena Lisboa, confessa, enquanto terminamos a visita pelo espaço que transmite um ambiente familiar e promove a proximidade entre os professores e os alunos.

Os dados disponibilizados pelo ISCAL ao EContas mostram que entraram 135 estudantes (64 estudantes do género feminino e 71 do género masculino) em Contabilidade neste ano letivo, com idades compreendidas entre os 16 e os 25 anos e vindos de várias regiões do país. A maioria dos estudantes é de Lisboa (94), sendo os restantes de Setúbal (28), Santarém (seis), mas também de Castelo Branco, Guarda, Leiria, Vila Real, Madeira e Açores. Há também diversas nacionalidades. Além de portugueses (132), há estudantes chineses, cabo-verdianos e brasileiros.
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Eles vão estudar números cá para poderem fazer contas lá fora
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