Futuros economistas tentam travar “fuga de empregos” no Porto

Com perto de 60 empresas e startups, a Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP) foi o palco da primeira feira de emprego em formato normal, depois de três edições marcadas pela pandemia.

Houve mais contacto cara a cara do que com folhas de cálculo nos últimos dias na Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP). A instituição de ensino superior voltou a ser o “Porto de Emprego” para os estudantes de Economia e Gestão, com mais de 500 vagas de estágios e de trabalho. Perto de 60 empresas e startups ocuparam as alcatifas azuis da 23.ª edição deste evento organizado pela FEP Junior Consulting (FJC).

Mal se entrava na faculdade, que a partir de 21 de março vai ser liderada por Óscar Afonso, sentia-se uma vibração diferente do costume. As conversas sobre as aulas foram praticamente anuladas pela oferta de brindes, a leitura de códigos QR ou mesmo uma música de fundo para dar a batida certa na procura de um futuro laboral, depois das salas de aula. Por não faltar espaço e propostas, o difícil foi focar a atenção na conversa com um potencial recrutador.

Feira de Emprego na Faculdade de Economia do Porto - 08MAR23
Alexandre Pinho, gestor do projeto da Feira de Emprego da Faculdade de Economia do Porto.Ricardo Castelo/ECO

Esta feira, contudo, não serviu apenas para captar futuros economistas, financeiros, gestores e contabilistas. Depois da leitura de um código QR, durante dois dias também houve “oportunidades de sonho” para engenheiros mecânicos e engenheiros de gestão de informação.

Ana Albuquerque corresponde à diversidade de perfis. Foi ao Porto de Emprego à procura de um estágio de verão e com o dobro dos argumentos técnicos face a muitos candidatos. “Estou a concluir uma dupla licenciatura em Sistemas de Gestão de Informação”, nota ao ECO esta estudante, que está a concluir a parte de Gestão da Informação, depois de ter recebido o diploma em Gestão. “Tenho muitas opções em empresas e também posso trabalhar com startups e tudo o que seja tecnologias de informação”, salienta.

Feira de Emprego na Faculdade de Economia do Porto - 08MAR23
Ana AlbuquerqueRicardo Castelo/ECO

A morar na Maia, Ana Albuquerque pretende fixar trabalho na zona do Porto. Este é um dos exemplos valorizado pela organização do certame, a cargo da FJC, empresa de consultoria da FEP. “É muito importante focarmo-nos no emprego jovem e melhorar as condições de vida dos jovens. Portugal está com o problema de muitos jovens estarem a escapar para o estrangeiro“, assinala ao ECO o gestor deste projeto, Alexandre Pinho.

Também focada em Portugal está a Hôma, que participou nesta feira à procura de pessoas para as operações, para o departamento de marketing e para a área de recursos humanos. “O importante é o background da pessoa que estamos a recrutar”, notam Mariana Rios e Rita Silva, duas das recrutadoras no local. “Cada vez mais as pessoas tiram a licenciatura numa área e o mestrado noutra. Os percursos são diferentes e permitem que a experiência seja mais diversificada”, acrescentam.

Feira de Emprego na Faculdade de Economia do Porto - 08MAR23
Mariana Rios e Rita SilvaRicardo Castelo/ECO

A edição de 2023 significou o regresso à total normalidade do Porto de Emprego, depois de três anos marcados pela Covid-19. “Em 2020, como estavam a surgir os primeiros casos, várias empresas acionaram planos de contingência e cancelaram a presença à última hora. No ano seguinte, a edição foi totalmente virtual. Em 2022, foi necessário usar uma máscara”, recorda Alexandre Pinho. Também este ano, a feira abriu espaço, pela primeira vez, às mais jovens empresas tecnológicas portuguesas, que ficaram concentradas no piso dois. “Normalmente, os jovens só estão formatados para as grandes empresas”, justifica o porta-voz.

Não são só números

A organização não se preocupou apenas em rentabilizar os corredores da faculdade. Também fez questão de “aumentar o espaço de circulação” nos corredores e evitar a sobreposição dos expositores. “Não pensamos apenas em números e quisemos dar a melhor experiência às empresas e aos estudantes. Nas localizações onde considerámos que a visibilidade era reduzida, achámos que não valia a pena estar a cobrar às empresas para depois não estar ninguém a passar por lá”, justifica o responsável.

Com cada vez mais estrangeiros nas salas de aula desta faculdade, que tem 181 professores, 58 funcionários técnicos e administrativos e quase 3.200 alunos inscritos nas licenciaturas, mestrados e doutoramentos, a feira preocupou-se ainda em integrar estes alunos internacionais. Alexandre Pinho frisa que “algumas empresas trouxeram para o seu espaço pessoas que não falam português, dando uma noção de maior inclusividade”.

Feira de Emprego na Faculdade de Economia do Porto - 08MAR23
Margarida GonçalvesRicardo Castelo/ECO

Além de empresas mais viradas para produtos, também houve nos corredores da FEP consultoras que trabalham sobretudo para o segmento corporativo. Para tentar captar os jovens que procuram sobretudo as marcas, a LBC “permite trabalhar com bancos, energéticas e retalhistas em diferentes projetos”. “Qualquer pessoa pode ter todas as realidades num curto espaço de tempo e compor o currículo com essas experiências”, sinaliza Margarida Gonçalves.

Mais do que a competência técnica dos candidatos, “garantida com qualquer tipo de licenciatura”, para a LBC “interessa mais o perfil pessoal, o gosto por aprender e a autoconfiança para crescer com a empresa”. Com os consultores juniores na mira, a empresa esteve no Porto para praticar “pesca à linha” e apenas tem cinco vagas abertas.

Feira de Emprego na Faculdade de Economia do Porto - 08MAR23
Estudantes em contacto com um dos recrutadores na Feira de Emprego na Faculdade de Economia do PortoRicardo Castelo/ECO

Divisão entre modelos de trabalho

Também com poucas vagas na feira estiveram os alemães da Freudenburg. O grupo químico tem um centro de serviços partilhados no Porto e procurou dois candidatos para a área financeira e um outro para a área dos recursos humanos. Não havia restrição nas áreas de licenciatura, mas “os candidatos têm de saber alemão”, atentou a recrutadora, Adriana Teiga.

Igualmente para convencer os candidatos, a empresa aposta no regime de trabalho híbrido, com a ida ao escritório em três dias por semana e um horário flexível de oito horas, que pode começar às 7h30 ou então acabar às 21h30. “Os candidatos que temos encontrado valorizam cada vez mais o equilíbrio entre o trabalho e a vida para lá disso”, sublinha a responsável.

Feira de Emprego na Faculdade de Economia do Porto - 08MAR23
Adriana TeigaRicardo Castelo/ECO

Mais liberal é a postura da consultora LBC. “O nosso regime de trabalho é híbrido, sendo dois dias por semana no escritório e três vezes por semana em casa. Mas temos pessoas em Coimbra, na Guarda e noutras cidades, apesar de termos um escritório em Lisboa. Procuramos pessoas em todo o país”, nota Margarida Gonçalves.

A Hôma aposta sobretudo no trabalho presencial, a partir de Grijó, no concelho de Vila Nova de Gaia. “Preferimos que as pessoas estejam no escritório, embora haja a opção de um dia por semana de teletrabalho”, referem Mariana Rios e Rita Silva. “Para nós, é cada vez mais importante a localização da pessoa porque, quanto mais longe estiver, maior o risco de desmotivação”, justificam.

Feira de Emprego na Faculdade de Economia do Porto - 08MAR23
Diana SousaRicardo Castelo/ECO

A frequentar o último ano da licenciatura em Gestão, Diana Sousa procura estágios profissionais ou um emprego na área de formação para poder continuar no Norte do país. A meio do mesmo curso, Pedro Carvalho está “aberto ao que possa acontecer no estrangeiro”. Resta saber se a feira será suficiente para travar a fuga de talentos de Portugal.

Feira de Emprego na Faculdade de Economia do Porto - 08MAR23
Pedro CarvalhoRicardo Castelo/ECO

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Futuros economistas tentam travar “fuga de empregos” no Porto

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião