Gestão de Risco: PME e seguradoras uma aliança estratégica
Com estratégias adequadas e um apoio especializado, as PME podem navegar de forma mais segura nas incertezas do futuro, transformando riscos em oportunidades estratégicas.
O sucesso das empresas, independentemente da sua dimensão, está cada vez mais ligado à capacidade de antever e mitigar riscos. No contexto das Pequenas e Médias Empresas (PME), esta necessidade torna-se particularmente premente. A globalização e a digitalização ampliaram as oportunidades de negócio, mas também expuseram as PME a um ambiente de incertezas sem precedentes.
Atualmente, é imperativo que as PME desenvolvam um processo contínuo de monitorização dos múltiplos fatores de risco que podem ameaçar a sua sustentabilidade. Estes riscos podem ser operacionais, financeiros, tecnológicos, regulatórios ou de mercado, e têm o potencial de provocar danos significativos.
No entanto, os obstáculos que as PME enfrentam nesta jornada são evidentes. Enquanto as grandes empresas podem contar com equipas especializadas em análise de risco, muitas PME lidam com limitações financeiras e humanas que dificultam a implementação de estruturas equivalentes.
A ausência de recursos dedicados não deve, porém, ser uma desculpa para negligenciar uma área que, cedo ou tarde, se revela crítica. Ignorar a gestão de risco pode deixar estas empresas vulneráveis a choques externos, desde crises económicas a ciberataques ou alterações súbitas na regulação.
Um plano robusto de gestão de risco não só permite minimizar perdas, mas também identificar oportunidades. Gerir riscos não se resume a evitar o negativo; trata-se também de explorar o potencial positivo que advém de uma maior resiliência e capacidade de adaptação. Um exemplo prático é o caso de uma pequena empresa agrícola que, ao diversificar a sua produção e implementar técnicas de cultivo sustentáveis, conseguiu não só sobreviver a períodos de seca severa, mas também capitalizar sobre a crescente procura por produtos ecológicos. As PME que consigam integrar esta abordagem nas suas operações diárias estarão, assim, posicionadas para crescer de forma sustentável, mesmo num cenário de crescente volatilidade.
Num mundo em constante mudança, a capacidade de adaptação e a gestão eficaz de riscos não são apenas diferenciais competitivos, mas sim condições essenciais para a sobrevivência e o sucesso a longo prazo das PME. A adoção de uma cultura de gestão de risco poderá, em última análise, ser o fator determinante que distingue as empresas que prosperam daquelas que sucumbem perante a adversidade. Num ambiente empresarial em que a resiliência é mais importante do que nunca, as PME têm a responsabilidade de se preparar para o inesperado, e transformar os desafios em oportunidades de inovação e crescimento.
Não subestime riscos numa cultura em mudança
Apesar dos crescentes desafios, muitos empresários ainda tendem a subestimar os riscos que enfrentam. Em muitos casos, deve-se à perceção de que, por serem de menor dimensão, estão menos expostos a determinadas ameaças, como fraudes financeiras ou ataques cibernéticos. No entanto, esta perceção pode ser perigosa. De acordo com o estudo “A Visão das Empresas Portuguesas sobre os Riscos 2024“, realizado pela Marsh Portugal, muitos empresários em Portugal continuam a subestimar os riscos que enfrentam, sobretudo na área da cibersegurança. O relatório revela que, apesar da crescente consciencialização sobre ciberataques, as medidas de proteção implementadas são frequentemente inadequadas. Além disso, a inflação e a estagnação económica surgem como outros riscos significativos que preocupam as PME, mas nem sempre recebem a devida atenção estratégica.
O número crescente de incidentes de cibersegurança, por exemplo, demonstra que até os pequenos negócios estão na mira dos atacantes. O impacto de um ciberataque numa PME pode ser devastador, resultando em perda de dados sensíveis, interrupções nas operações e, em casos extremos, até no encerramento do negócio.
Em 2024, o aumento do número de incidentes de cibersegurança é uma preocupação crescente, conforme indicado por vários relatórios. O relatório Allianz Risk Barometer 2024 revela que eventos cibernéticos se tornaram o principal risco global para os negócios, refletindo a natureza cada vez mais interconectada e digitalizada das operações empresariais. De acordo com o estudo, 35% dos líderes empresariais destacaram os ataques cibernéticos como a maior ameaça, um aumento significativo em relação aos anos anteriores.
Esses dados evidenciam que as empresas devem focar-se em estratégias de resiliência cibernética e a proteção de seus dados para se prepararem para um cenário em que as ameaças digitais continuarão a evoluir.
A questão do custo também pesa fortemente nas decisões empresariais. A implementação de medidas de segurança, contratação de seguros ou adoção de políticas de conformidade com regulamentações são frequentemente vistas como um encargo financeiro difícil de suportar. No entanto, os danos financeiros que advêm da falta de preparação podem ser incomparavelmente maiores. O investimento preventivo, por mais dispendioso que pareça à partida, tende a compensar quando comparado com as consequências financeiras de um risco que se concretiza.
O papel fundamental das seguradoras
As seguradoras assumem um papel fundamental, tanto como fornecedoras de apólices, como também como parceiras estratégicas na educação e preparação das PME. A relação entre as pequenas empresas e as seguradoras deve ser encarada como uma aliança que beneficia ambas as partes. Muitas seguradoras oferecem, além das apólices tradicionais, serviços adicionais como consultoria em gestão de risco e auditorias preventivas. Estas ferramentas permitem às PME identificar e mitigar potenciais ameaças antes que estas se transformem em crises, ajudando a reduzir a ocorrência de sinistros e, consequentemente, a manter os prémios de seguro mais acessíveis.
Um exemplo relevante desta colaboração estratégica é o desenvolvimento de apólices específicas para riscos cibernéticos, que estão em crescimento acelerado devido à digitalização dos negócios. A pandemia impulsionou esta digitalização, expondo ainda mais as PME a vulnerabilidades no mundo virtual.
Apólices focadas na proteção contra ciberataques oferecem às PME uma rede de segurança vital, cobrindo desde perdas de dados até interrupções operacionais e contingências legais que podem surgir de um incidente de grande escala.
Crie um caminho sustentável
Para que esta relação entre PME e seguradoras seja verdadeiramente produtiva, é essencial que as pequenas e médias empresas adotem uma visão estratégica sobre a gestão de risco, encarando-a não como um custo adicional, mas como um investimento fundamental para a sua longevidade. Ao mesmo tempo, as seguradoras devem continuar a desenvolver produtos flexíveis e acessíveis, ajustados às necessidades e capacidades financeiras das PME.
A capacidade de prever, gerir e mitigar riscos é determinante para a continuidade dos negócios em tempos de incerteza crescente. As PME que adotam uma abordagem proativa à gestão de risco colocam-se numa posição mais forte para enfrentar adversidades, enquanto as seguradoras que as apoiam neste processo garantem a viabilidade dos seus próprios modelos de negócio. Neste jogo, todos ganham: as empresas protegem-se contra perdas catastróficas, e as seguradoras fortalecem a sua base de clientes, criando uma relação de confiança e benefício mútuo.