Setor do luxo desacelera. Turbulência é tendência
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Setor do luxo desacelera. Turbulência é tendência

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Sob pressão, o mercado do luxo pode estar prestes a enfrentar a maior contração desde a crise de 2008. No longo prazo, porém, impera o otimismo. Estas são as conclusões de um novo relatório da Bain.

Os anos 2008 e 2020 são de má memória no setor do luxo. A pandemia beliscou pontualmente a indústria, mas a crise económica afetou-a realmente. Tempos que podem estar de volta a breve trecho, a confirmar-se a desaceleração que se viu em 2024, segundo o mais recente relatório da Bain & Company, em parceria com a associação italiana Altagamma.

O pós-pandemia foi auspicioso: a receita do segmento de bens pessoais de luxo chegou aos 369 mil milhões de euros em 2023. Mas os números não se mantiveram no ano seguinte. Em 2024, caiu 1% e ficou nos 364 mil milhões de euros. E o primeiro trimestre deste ano não vê uma inversão da tendência. Pelo contrário, a queda será de 1% a 3%. O cenário é de “queda continuada”.

“As marcas de luxo estão a enfrentar não só um abrandamento da procura, mas também uma crescente desilusão entre os consumidores mais jovens”, nota o estudo da Bain & Company, defendendo, por exemplo, que a Geração Z, uma nova fileira de consumidores, está a reavaliar a sua relação com o luxo. O equilíbrio entre preço e valor volta a estar sobre a mesa.
A análise destaca ainda a pressão sobre os canais de distribuição, físicos e digitais, com os agentes do mercado a procurar estabilizar a dívida e preservar a liquidez (algumas empresas estão mesmo a proceder a reestruturações).

Outra chamada de atenção do relatório diz respeito à inovação criativa, que “está a perder força e apelo”.

Duas notas otimistas: Resiliência e novos consumidores

Apesar do contexto adverso, o estudo sublinha, numa nota otimista, que os piores cenários podem nunca concretizar-se. “Embora a procura esteja a abrandar no curto prazo, o setor do luxo demonstrou uma resiliência extraordinária — impulsionada por uma base global de consumidores em crescimento e por motores emocionais profundamente enraizados”, sublinha Claudia D’Arpizio, sócia sénior da Bain & Company.

Para Federica Levato, também sócia da consultora, a fase atual exige “mais foco, maior relevância cultural e crescimento com propósito”. E acrescenta: “Está em jogo uma redefinição do valor e do significado que ressoe com todas as gerações — tanto as que moldam o luxo hoje, como as que o definirão amanhã”.

O que está a ganhar terreno: As experiências

Outro dado que o relatório da Bain & Company destaca é a divergência entre categorias. Enquanto os bens como malas, relógios e calçado, enfrentam dificuldades, o luxo experiencial — hotelaria, cruzeiros, gastronomia e viagens exclusivas — continua em expansão.
As marcas que apostam em experiências “para além do produto”, criatividade autêntica e modelos de negócio ágeis têm conseguido destacar-se.

Apesar da travessia difícil, o potencial de crescimento continua vivo. Estima-se que mais de 300 milhões de novos consumidores entrem no mercado do luxo até 2030, mais de metade pertencentes às gerações Z e Alpha.

As marcas precisam de “ancorar-se nos seus pontos fortes — priorizando a qualidade, a criatividade e a autenticidade”, conclui Claudia D’Arpizio. A construção de relações emocionais duradouras com os consumidores e a aposta em tecnologia, como inteligência artificial e analytics, serão também essenciais para sustentar rentabilidade das empresas.

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