O porta-voz da Antram saudou na segunda-feira a possibilidade de o Governo acionar um mecanismo para travar a greve dos motoristas, mas garantiu não ceder à “chantagem” dos sindicatos para apresentação de uma contraproposta até sexta-feira.
“Saudamos esta decisão do Governo e reconhecemos que o Governo, de facto, tem feito um esforço grande para que as partes cheguem a acordo”, disse André Matias de Almeida, em declarações à Lusa.
No entanto, o responsável da Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (Antram) lamentou que não tenham sido os sindicatos a colocar em cima da mesa esta possibilidade.
André Matias de Almeida notou ainda que, para que as duas partes cheguem a um entendimento, é necessário que o pré-aviso de greve, com início agendado para a próxima segunda-feira, dia 12, seja retirado e que os motoristas aceitem o protocolo convencionado em maio, que prevê que os aumentos pecuniários em negociação sejam indexados ao salário mínimo nacional.
O porta-voz dos patrões vincou que a Antram está disposta ao entendimento, mas assegurou que a associação não vai ceder à “chantagem” feita pelos motoristas.
“A Antram está disposta ao entendimento, desde que o entendimento não esteja assente na chantagem”, frisou.
Desta forma, a associação exige conhecer todas as propostas que estiveram na segunda-feira em cima da mesa na reunião que juntou os sindicatos representativos dos motoristas e o Governo.
“A Antram mantém o diálogo de boa-fé negocial, sem radicalizar pontos e com cedências. A Antram tem de tomar conhecimento das propostas e só depois tomará uma posição”, concluiu.
O Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP) e o Sindicato Independente dos Motoristas de Mercadorias (SIMM) estiveram na tarde de segunda-feira reunidos, em Lisboa, com o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos.
O Ministério das Infraestruturas propôs aos sindicatos representativos dos motoristas a possibilidade de ser desencadeado “um mecanismo legal de mediação”, que obriga patrões e sindicatos a negociar e que permite que a greve seja desconvocada.
“O Governo propôs hoje [na segunda-feira] aos sindicatos o desencadear de um mecanismo legal de mediação previsto no Código do Trabalho, no âmbito do qual as partes são chamadas a negociar e, caso não haja acordo, o próprio Governo, através da Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho, apresentará uma proposta de convenção coletiva de trabalho, nos termos da lei”, indicou, em comunicado, o ministério tutelado por Pedro Nuno Santos.
De acordo com o executivo, este mecanismo, caso seja aceite pelos sindicatos, vai permitir que “a greve seja desconvocada e que as partes retomem o diálogo e a negociação num novo enquadramento legal”.
À saída do encontro de segunda-feira com o Governo, o assessor jurídico do SNMMP, Pedro Pardal Henriques, garantiu aos jornalistas que a greve vai manter-se até a Antram apresentar “uma contraproposta” que, a concretizar-se, será votada a partir de “sexta-feira, num plenário”.
“Estamos sempre disponíveis para desconvocar esta greve, só não estamos quando não há vontade da outra parte [Antram]”, sublinhou o antigo vice-presidente do SNMMP.
De acordo com este responsável sindical, na reunião foram apresentadas ao Governo as condições das quais os motoristas não abdicam para que seja desconvocada a greve.
“O senhor ministro ficou hoje com um conhecimento muito mais profundo do que estava em cima da mesa e mostrou grande abertura e compreensão por aquilo que os motoristas estão a reclamar”, notou o responsável do SNMMP.
Posição semelhante foi defendida pelo representante do SIMM, Anacleto Rodrigues, salientando que só os trabalhadores é que podem aprovar uma contraproposta dos patrões.
“Vamos ver se se regista alguma abertura por parte da ANTRAM e, depois, vamos esclarecer os nossos associados e eles é que vão votar”, afirmou.
O SNMMP e o SIMM já tinham estado esta manhã no Ministério das Infraestruturas e da Habitação.
O Governo terá de fixar os serviços mínimos para a greve, depois de as propostas dos sindicatos e da ANTRAM terem divergido entre os 25% e os 70%, bem como sobre se incluem trabalho suplementar e operações de cargas e descargas.