Após um crescimento de 4,9% em 2021 e apesar do impacto da guerra a partir do final de fevereiro, a economia portuguesa cresceu 2,6% em cadeia (face ao quarto trimestre) nos primeiros três meses deste ano, adianta o Instituto Nacional de Estatística (INE) esta terça-feira, confirmando os valores revelados na estimativa rápida. Em termos homólogos, o PIB avançou 11,9% uma vez que no primeiro trimestre de 2021 tinha contraído, assim como no primeiro trimestre de 2020.
“O contributo da procura interna para a variação homóloga do PIB aumentou significativamente no primeiro trimestre, destacando-se o crescimento acentuado do consumo privado”, revela o gabinete de estatísticas, explicando também que “o contributo positivo da procura externa líquida para a variação homóloga do PIB também aumentou, verificando-se um ligeiro abrandamento das importações de bens e serviços em volume e uma aceleração das exportações de bens e serviços, refletindo a forte recuperação da atividade turística“.
Em termos homólogos, o destaque vai para o crescimento de 12,6% do consumo privado no primeiro trimestre, “devido sobretudo ao crescimento da despesa em diversas atividades de serviços, após o levantamento da generalidade das restrições à atividade económica no contexto da pandemia Covid-19”. Já o consumo público cresceu 4,8% e o investimento desacelerou para uma subida homóloga de 5,4% (7,1% no quarto trimestre de 2021).
A procura externa líquida deu um maior contributo (1,7 pontos percentuais) para a variação homóloga do PIB, principalmente graças à aceleração das exportações de bens e serviços para um crescimento de 18,3%, muito influenciado pelo turismo, ao passo que as importações desaceleraram para um crescimento de 13,1%.
Na ótica trimestral, a história é semelhante com o consumo privado e o turismo (exportações de serviços) também a dar um impulso à economia, em comparação com o quarto trimestre de 2021.
Face à estimativa rápida de 29 de abril, a incorporação de nova informação de base não implicou revisões nas taxas de variação homóloga e em cadeia do PIB anteriormente publicadas.
Despesa em bens alimentares cai. Bens duradouros disparam
Dentro do consumo privado dos cidadãos, é de notar que os bens alimentares registaram uma queda de 1,5%, após terem crescido de forma sustentada durante a pandemia. Tal poderá estar relacionado com um regresso maior aos restaurantes, o que implicou uma menos compra de bens alimentares em termos homólogos.
Outro dos dados curiosos é que a compra de bens duradouros disparou no primeiro trimestre. “O consumo privado de bens duradouros também registou um crescimento pronunciado, de 20,7% em termos homólogos (3,7% no trimestre anterior e -8,5% no primeiro trimestre de 2021), observando-se acelerações intensas tanto na componente de aquisição de veículos automóveis, como na de despesas em outros bens duradouros”, revela o INE.
Na ótica trimestral, as conclusões são semelhantes: “Face ao quarto trimestre, o consumo privado aumentou 2,1% (variação em cadeia de 1,1% no trimestre anterior), verificando-se um crescimento de 6,4% nas despesas em bens duradouros e de 1,7% nas despesas em bens não duradouros e serviços”. Nesta comparação, as despesas com bens alimentares estão a cair há três trimestres consecutivos.
Investimento em construção acelerou no arranque de 2022
O crescimento homólogo do investimento desacelerou na economia portuguesa, mas houve exceções por categorias. Segundo o INE, “no primeiro trimestre, verificou-se um crescimento mais intenso, em termos reais, da FBCF [Formação Bruta de Capital Fixo] em construção, que passou de uma variação homóloga de 4,2% no quarto trimestre para 5,3%, e da FBCF em equipamento de transporte, que aumentou 15,6% após uma variação de 1,1% no quarto trimestre (variação homóloga de -27,2% no primeiro trimestre de 2021)”.
A resiliência da construção e a retoma do equipamento de transporte contrasta com a desaceleração do investimento em outras máquinas e equipamentos, assim como em produtos de propriedade intelectual.
Na ótica trimestral, o investimento aumentou 3% (3,9% no trimestre anterior), tendo a FBCF aumentado 3,3% (4,4% no quarto trimestre).
Turismo triplicou no primeiro trimestre
Não há dúvidas de que a retoma do turismo no arranque de 2022 teve um papel decisivo na evolução do PIB. “O resultado do primeiro trimestre de 2022 está fundamentalmente associado à dinâmica de recuperação da componente do turismo, que cresceu 206,7% em termos homólogos (-121,5% no trimestre anterior e -62,9% no primeiro trimestre de 2021)“, nota o INE. Ou seja, o turismo triplicou face ao primeiro trimestre de 2021.
Não é por acaso que, em termos de VAB (valor acrescentado bruto), o setor que mais cresceu foi o do comércio e alojamento (+28,6%), seguido do setor que alberga os transportes e armazenagem, assim como a informação e comunicação (+17,9%). As outras atividades de serviços, que também incluem negócios relacionados com o turismo, cresceram 9,6%.
(Notícia atualizada às 11h35 com mais informação)