Empresa açoriana “revoluciona” mercado da cosmética internacional. Tem 337 mil euros do PRR
Ignae, que usa produtos dos Açores nas fórmulas de cosmética regenerativa, tem 337 mil euros do PRR para revolucionar mercado até 2025. Está integrada no consórcio do pacto para a bioeconomia azul.
A marca açoriana de cosméticos Ignae anda nas bocas do mundo, seja pelos prémios internacionais que já arrecadou ou por conquistar o rosto das modelos Kim Kardashian e Bella Hadid. Agora, prepara-se para lançar até 2025 produtos de cosmética regenerativa de “elevado valor acrescentado a partir de macroalgas e microalgas do mar português“, avança Miguel Pombo, fundador da empresa Azores Life Science que detém a marca. Com dotação do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) na ordem dos 337 mil euros, a investigação já está em curso na Universidade dos Açores.
“Em 2025 vamos lançar séruns e cremes de rosto com propriedades antirrugas e antioxidante, para aumentar a elasticidade da pele, e a regeneração dos danos provocados pelo sol e pela poluição”, desvenda Miguel Pombo ao ECO/Local Online. No âmbito da agenda mobilizadora do projeto Pacto da Bioeconomia Azul – liderada pela Inovamar, com o objetivo de estudar as potencialidades da bioeconomia azul –, a equipa também pretende criar um creme para reduzir a acumulação de gordura em certas zonas do rosto e do pescoço.
Em 2025 vamos lançar séruns e cremes de rosto com propriedades antirrugas e antioxidante, para aumentar a elasticidade da pele, e a regeneração dos danos provocados na pele pelo sol e pela poluição.
Mas os investigadores não ficarão por aqui. Pretendem, a longo prazo, desenvolver um creme anticelulite para o corpo depois de a marca de luxo já ter provas dadas, nos mercados nacional e internacional, pela “eficácia” dos produtos de cosmética regenerativa. Estes já incorporam nas fórmulas vários recursos naturais açorianos, como a água termal e o óleo das camélias do Parque Terra Nostra, no Vale das Furnas, propriedade do grupo Grupo Bensaúde que entretanto fechou uma ronda de financiamento na marca Ignae, através da holding Bensaúde Participações. A marca de cremes de luxo utiliza mais recursos naturais da ilha nas fórmulas. Mas já lá vamos.
Por enquanto, o objetivo da Azores Life Science é criar até 2025 novos produtos transacionáveis e contribuir para a capacitação do tecido tecnológico da ilha e o posicionamento de um cluster na área da biotecnologia. “O nosso projeto consiste em estudar as macro e microalgas dos Açores, e usá-las na criação de quatro produtos de elevado valor acrescentado para o mercado da cosmética”, descreve Miguel Pombo.
A empresa do açoriano já tem provas dadas internacionalmente. “A primeira prova está dada pelo facto de a Ignae ter sucesso nos mercados internacionais e aparecer na imprensa internacional como uma marca eficaz, com produtos de grande qualidade”, começa por afirmar o empresário. “Este projeto do PRR vai permitir-nos ter outras ferramentas para continuarmos esse caminho de valorização dos produtos dos Açores, para passarmos a ser associados a produtos de grande valor acrescentado que usam tecnologia de ponta. É isso que traz riqueza e prosperidade às regiões que gozam desse estatuto”, completa em declarações ao ECO/Local Online.
Entretanto, a Ignae já desenvolveu uma tecnologia que utiliza ativos extraídos das algas dos Açores, que são processadas com recurso a avançados processos biotecnológicos, permitindo que estes ativos possam ser utilizados de forma eficaz em pequenas quantidades. É nos laboratórios da Universidade dos Açores que a investigação continua.
“Até 2025 esperamos, assim, ter dois novos produtos a partir de macroalgas e outros dois a partir de microalgas. Assim como também deveremos encontrar outros ativos de valor acrescentado que possam ser incorporados noutros produtos de outras marcas“, avança o fundador da Ignae.
Por enquanto, a equipa de Miguel Pombo ainda está a fazer testes para tentar tirar o maior partido das algas do mar português para os produtos a criar serem mais eficazes para a pele. Os investigadores recorrem a uma tecnologia de lipossomas que asseguram uma melhor entrega dos ingredientes na pele.
“Estamos a descobrir formas de extrair esses compostos das algas do mar português de forma a maximizar o seu potencial económico, com o mínimo de consumo dos recursos, com o objetivo de criar extratos ou produtos com grande valor acrescentado para o mercado mundial da cosmética.
“Já identificámos macroalgas e microalgas, em todo o território português, que têm um grande interesse para a cosmética e outras áreas da saúde”. Neste momento, prossegue o empresário açoriano, a equipa está a “descobrir formas de extrair esses compostos das algas do mar português de forma a maximizar o seu potencial económico, com o mínimo de consumo dos recursos, com o objetivo de criar extratos ou produtos com grande valor acrescentado para o mercado mundial da cosmética”, explica Miguel Pombo.
A equipa já conseguiu alguns avanços na investigação que tem em mãos. “Já identificámos compostos nas algas que permitem regenerar a pele dos danos sofridos com exposição solar”, avança. Assim como os investigadores constaram, nalguns testes, que “algumas algas dos Açores têm grande potencial para reduzir a celulite na zona do rosto, debaixo do queixo, que é um problema muito comum a partir de uma determinada idade”, resume. O que vem dar algum ânimo à equipa no sentido destas algas terem algum “potencial para criar produtos para reduzir a celulite”.
Nesta fase, o objetivo da equipa de Miguel Pombo consiste em criar “o maior valor possível, não só para os produtos finais, mas também para os extratos que poderão ser comprados por outras entidades” para valorizar o ecossistema dos produtos dos Açores, numa aposta na sustentabilidade e dinamização da economia da região.
“Sabemos que existem várias marcas internacionais que já compram algas no nosso país para usar nos seus produtos que têm um grande valor de mercado. O problema é que compram as algas secas em Portugal e depois fazem a transformação lá fora e não cá em Portugal”, nota o empresário. “O nosso objetivo é inverter essa lógica, e garantir que a transformação e a comercialização passem a ser feitas em Portugal com marcas portuguesas para que esse valor acrescentado, que fica no estrangeiro, passe a ficar também em Portugal“, sustenta.
O nosso objetivo é inverter essa lógica, e garantir que a transformarão e a comercialização passe a ser feita em Portugal com marcas portuguesas para que esse valor acrescentado, que fica no estrangeiro, passe a ficar também em Portugal.
“O nosso foco vai continuar a ser produtos antirrugas e hidratantes regeneradores da pele. Sabemos que as algas têm todas essas propriedades. Estão expostas a radiações solares o ano inteiro e desenvolvem uma série de propriedades que são boas para a pele”, descreve Miguel Pombo. Um dos objetivos da Ignae, a médio e longo prazo, é desenvolver uma nova geração de filtros solares a partir de ativos das algas em vez de serem provenientes de filtros sólidos ou químicos como acontece agora, avança.
Além de protegerem a pele das radiações UV, as algas ainda têm propriedades antioxidantes, vários componentes que ajudam a pele a reduzir as rugas ou a aumentar a hidratação, a ficar mais elástica. Até aqui tudo bem. Mas o problema, realça, reside na manipulação que é feita e na forma de extrair compostos de elevado valor acrescentado a partir das algas. “E é nisso isso que estamos focados”, destaca.
Entretanto, o grupo deparou-se com uma “inovadora” descoberta. “Encontrámos bactérias dos Açores em fontes, nascentes hidrotermais ou em organismos que vivem no mar – são coisas novas nunca antes descritas –, que degradam as algas. É isto que vai diferenciar os nossos ingredientes dos cremes em relação a outros existentes no mercado“, enfatiza Miguel Pombo.
Os investigadores utilizam, assim, em laboratório uma “tecnologia que permite extrair a totalidade da ficocianina da alga spirulina, com o mínimo de degradação, o que pode gerar um grande valor”, destaca. “A ficocianina é depois encapsulada nestas esferas (os lipossomas) que, quando são incluídos numa formulação, garantem uma melhor entrega na pele e uma maior eficácia dos ingredientes naturais na pele”, resume.
Segundo Miguel Pombo, “não há falta destas algas no mar português, mas esta nova forma de extração vai permitir tirar este grande valor destas algas de uma forma limpa, sustentável, sem uso de químicos. E pode ter outras utilizações que não só a cosmética”.
“Com esta nossa tecnologia, desenvolvida na Universidade dos Açores, conseguimos assegurar uma maior viabilidade destes ingredientes naturais — ficocianina (que é retirada da microalga spirulina da ilha Graciosa), e extratos de camélia e da planta japónica criptoméria. Sem este melhoramento biotecnológico não seria possível”, garante. “Os três ingredientes têm propriedades antioxidantes e degradam-se com muita facilidade se não tiverem encapsulados”, explica.
A juventude da água termal dos Açores
Quando em 2017 criou a empresa com um investimento inicial de 150 mil euros, Miguel Pombo quis potenciar os recursos naturais dos Açores de forma sustentável e levá-los além-fronteiras nos cremes que iria lançar. Mal sabia, na altura, o voo que a marca de cosmética regenerativa faria nos mercados nacional e internacional. Está a dar cartas nos EUA – principal mercado –, Japão, Canadá, Médio Oriente, Reino Unido, Alemanha, Holanda e Espanha, Dinamarca e Irlanda.
É uma das marcas de eleição da esteticista Joanna Czech, que a utilizou em vários clientes, em eventos como a Met Gala e na sua clínica nos EUA. E já conquistou famosos como Bella Hadid, Kim Kardashian ou o ator e cantor Harry Styles, refere o fundador desta marca de luxo.
A ideia da empresa começou a fervilhar quando trabalhava numa consultora com clientes da área da cosmética, em Bruxelas. “Conheci compostos de cremes e verifiquei que havia nos Açores ingredientes parecidos com os que as marcas usavam, como a água termal e a areia negra”, lembra. Anos depois, a Ignae tem provas dadas.
Os cremes, óleos e máscaras rejuvenescedores têm a particularidade de utilizarem a água termal e o óleo prensado a frio das sementes camélias japónicas – ambos do Parque Terra Nostra (Vale das Furnas) –, a criptoméria japónica e a ficocianina.
“Usamos a água termal do Parque Terra Nostra que é utilizada há centenas de anos para tratar problemas de pele por causa da combinação de minerais que tem. Existem relatos antigos de pessoas que se deslocavam às Furnas e àquela nascente para tratarem os problemas de pele que tinham”, conta o empresário.
A Ignae correu mundo e já arrecadou vários prémios com um trunfo na manga: “É raro encontrar uma concentração tão grande de ingredientes no mesmo produto e as pessoas, quando experimentam, sentem logo os efeitos, pois a pele fica mais lisa, as rugas vão diminuindo de forma mais visível e a hidratação perdura mais tempo assim como a pele fica elástica durante mais tempo”, descreve.
Presente em hotéis de luxo, como o Four Seasons Hotel Ritz, em Lisboa, e Terra Nostra Garden Hotel, em São Miguel, nos Açores, a marca Ignae tem no mercado dez referências: creme de dia, creme de noite, os séruns de dia e o de noite, o gel de limpeza, o sérum luz azul, óleo de corpo, a máscara de argila vulcânica – venceu dois prémios – creme de olhos e um produto com três séruns de descoberta.
Em 2020, a Ignae acolheu Claire Chung como CEO, anteriormente presidente da Net a Porter China, com carreira no mercado de luxo mundial e membro dos conselhos de administração de empresas como a Bang&Olufsen e a Delsey. Entretanto, já fechou mais rondas de financiamento com outras empresas.
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