De Monção a Lisboa, cosmética natural portuguesa “embeleza” negócio no estrangeiro

Dos sabonetes artesanais aos champôs sólidos, existem várias marcas portuguesas a apostar neste nicho de negócio. Para além de serem naturais ajudam a dinamizar a economia local.

Os consumidores estão cada vez interessados em comprar produtos naturais, mais sustentáveis e com menor impacto no Planeta. Os sabonetes e champôs artesanais são exemplo dessa procura e nos últimos anos têm sido criadas várias marcas portuguesas de cosmética natural. Conheça os casos da Norah Orgânico, da Arca da Saúde – Savonnerie e da Let It Soap.

Catarina Araújo, formada em Farmácia pelo Instituto Politécnico de Bragança, ingressou no programa Mobilidade internacional e foi para para Goiânia (Brasil) em 2011, onde acabou por ficar oito anos e teve o primeiro contacto com óleos essências e medicina através das plantas. Regressou a Portugal em 2020, mais concretamente à terra natal, Monção. Um ano depois criou uma marca de cosmética natural: a Arca da Saúde – Savonnerie.

“Gostei muito da abordagem brasileira, tanto na parte de cosmética, como da medicina natural na parte da fitoterápica. O contacto que o povo tem com a natureza é muito maior, assim como a biodiversidade. Isso levou-me a perseguir essa parte farmacêutica”, conta Catarina Araújo, fundadora da Arca da Saúde, em declarações ao ECO/Local Online.

Procuro abastecer-me com produtos locais certificados, de forma a dinamizar a região.

Catarina Matos Araújo

Fundadora e responsável de produção da Arca da Saúde - Savonnerie

A Arca da Saúde conta com vários produtos de cosmética natural, desde sabonetes artesanais a champôs sólidos e sais de banho. Lavanda, argila, camomila, mel, rosas, urtigas, leite de cabra e até vinho alvarinho são algumas das matérias-primas usadas por Catarina Araújo. A empreendedora de 33 anos diz que, “sempre que possível”, recorre a produtores locais. “Procuro abastecer-me com produtos locais certificados, de forma a dinamizar a região”, realça. Está a fazer uma segunda licenciatura em Ciências Farmacêuticas na Universidade de Coimbra.

No ano passado, Catarina Araújo diz ter vendido mais de cinco mil produtos, que chegaram a países como Espanha, França, Bélgica, Suíça, Alemanha, Reino Unido, Itália ou Países Baixos. Além da loja física em Monção, os produtos da Arca da Saúde são vendidos em vários espaços no Minho. A loja online abriu no mês passado. Afirmar-se no mercado nacional e internacional, terminar a certificação de todos os produtos (por parte da SGS e Infarmed) e aumentar a gama de produtos, são os objetivos de Catarina Araújo para 2024.

Nascida na pandemia e na Serra da Arrábida

A ideia de criar a Norah Orgânico, marca de cosmética natural, surgiu durante a pandemia, quando a fundadora Cláudia Manuel Silva, atriz de profissão, ficou sem trabalho. Apaixonada por herbalismo, cosmética natural e aromaterapia, em 2019 ingressou num curso de cosmética natural, com o objetivo de produzir produtos naturais para si e para a família. Não imaginava que poderia ser a “tábua de salvação” para os tempos difíceis que se avizinhavam: uma pandemia.

“Como estava parada na minha profissão, comecei a lançar a Norah. Mas muito descontraidamente, sem perspetivas de grande negócio”, conta Cláudia Manuel Silva. Começou por vender uns kits de Natal aos amigos e percebeu que os produtos tinham “uma grande procura”. Decide criar a empresa em 2021, juntamente com a irmã Ana Silva, designer de profissão, responsável por toda a imagem gráfica da Norah Orgânico.

Como estava parada na minha profissão, comecei a lançar a Norah. Mas muito descontraidamente, sem perspetivas de grande negócio.

Cláudia Manuel Silva

Fundadora da Norah Orgânico

É na unidade de produção em Palmela que são produzidos todos os produtos da Norah Orgânico de forma artesanal, que conta com uma grande variedade que vão desde sabonetes artesanais a champôs sólidos, desodorizantes e séruns de rosto. Além da produção própria, a empreendedora produz produtos de skincare e desodorizantes para outras marcas, incluindo a Bam&Boo.

Cláudia Manuel Silva inspira-se na Serra da Arrábida e nas diferentes estações do ano. “Tenho sabonetes artesanais para cada estação do ano e são todos inspirados nas cores e aromas da Serra da Arrábida”, conta a fundadora da Norah Orgânico.

A fundadora, natural de Santa Maria da Feira, diz que tenta comprar sempre que possível matérias-primas em Portugal. Quando não consegue, recorre a Espanha, França e Itália. Os produtos da Norah Orgânico estão praticamente todos certificados pelo Infarmed — e os restantes estão em processo de certificação.

Os produtos estão à venda através da loja online da Norah Orgânico e em alguns pontos de venda em Setúbal, Lisboa e Santa Maria da Feira. Além do mercado nacional, os produtos da marca que nasce no coração da Serra da Arrábida já chegaram a países europeus como Itália e França.

Com o escalar do negócio, Cláudia Manuel Silva, de 38 anos, conta que precisa de novas instalações maiores, mas realça que o “valor das rendas são um entrave”. Quando o mercado imobiliário estabilizar, diz que um dos objetivos é mudar de instalações. “Com o aumento da produção, o meu objetivo para o próximo ano é mudar de instalações, mas se as rendas não baixarem vou optar por adaptar as instalações atuais”, afirma Cláudia Manuel Silva. Paralelamente, quer contratar mais uma pessoa para a ajudar na produção.

Sabonetes da Let It Soap produzidos na Tec Labs

A ideia de criar uma marca de cosmética artesanal começou a fermentar o ano passado, mas foi em setembro deste ano que o casal Elsa Ascensão e o Miguel Valente lançou a Let It Soap. À semelhança da Norah Orgânico, Miguel Valente conta que a ideia surgiu na sequência da pandemia, ao perceberem que começava a “existir uma proliferação gigante de negócios feitos em casa para colmatar a falta de rendimentos”.

Juntando o gosto natural pela saboaria à curiosidade de perceber a ciência por trás da produção, Elsa Ascensão decidiu tentar a sorte e ficou interessada nos resultados alcançados. No batizado de um dos filhos, em junho do ano passado, Elsa Ascensão ofereceu como lembrança aos convidados um sabonete com cheiro a pó talco, produzido pela própria. Ficou surpreendida com o feedback que recebeu.

A Let It Soap tem disponível uma gama de 21 sabonetes artesanais que são certificados no Cosmetic Products Notification Portal (CPNP) e Infarmed e produzidos no Tec Labs, incubadora da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa de onde saíram empresas como a Science4you.

Elsa Ascensão e Miguel Valente, formados em Economia e em Gestão, respetivamente, pela Universidade Nova de Lisboa, orgulham-se de não testar os produtos em animais e serem uma marca plastic free. Os produtos estão à venda na loja online da Let It Soap.

O casal está agora a tratar do processo de internacionalização, sendo que um dos objetivos passa por exportar “desde Portugal para a Europa”. Elsa e Miguel, de 39 e 38 anos, querem alargar o portefólio de produtos para champô sólidos, cremes de corpo e esfoliantes, entre outros.

A nossa empresa aposta em aliar o tradicional com o moderno, procurando apostar em ingredientes de alta qualidade, fragrâncias apelativas e designs atrativos.

Miguel Valente

Fundador da Let It Soap

“A nossa empresa aposta em aliar o tradicional com o moderno, procurando apostar em ingredientes de alta qualidade, fragrâncias apelativas e designs atrativos, conta ao ECO/Local Online, Miguel Valente, que é gestor de marketing digital e colabora há cinco em anos, em teletrabalho, para uma empresa norte-americana.

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