Universidade do Porto regista primeiras patentes na África do Sul e Macau
Painéis mais leves, económicos e sustentáveis, e uma “espécie de GPS do antioxidante" conseguiram patentes em territórios que são uma estreia para a academia.
Pela primeira vez na história, a Universidade do Porto obteve este ano patentes na África do Sul e em Macau, “elevando assim o número de territórios em que a propriedade intelectual das tecnologias está protegida internacionalmente”. Painéis mais leves, económicos e sustentáveis e uma “espécie de GPS do antioxidante”, capaz de retardar os efeitos do envelhecimento da pele, são as invenções que receberam as patentes.
A patente para a invenção “Panels with granulated rubber core and high pressure laminate faces and production method thereof”, liderada na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) por Fernão Magalhães, foi concedida na África do Sul, em abril de 2023. Já no mês anterior, a tecnologia do grupo de investigação de Fernanda Borges, da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, intitulada “Hydroxybenzoic acid derivatives, methods and uses thereof”, foi alvo de proteção via patente em Macau.
O investigador da FEUP Fernão Magalhães detalha, citado em comunicado, que se “trata de uma solução alternativa para a produção de painéis laminados compactos”. “São painéis que podem ter aplicações diversas, como por exemplo as típicas divisórias de casas de banho dos centros comerciais. A forma como esses painéis são, tradicionalmente, produzidos, faz com que tenham uma excelente resistência mecânica e química. Porém, o custo é bastante elevado. É aí que entra a investigação em questão”. Além de Fernão Magalhães, a tecnologia desenvolvida tem o contributo de Jorge Martins e Luísa Carvalho, do Instituto Politécnico de Viseu, e de Cláudia Costa e Ana Vinhas, da empresa Surforma.
“A solução proposta substitui as folhas impregnadas usadas nas camadas interiores por um granulado de borracha, obtido a partir da reciclagem de pneus. É depois aglomerado com uma cola de poliuretano”, explica o investigador da FEUP. Apesar de o “método de fabrico – prensagem a alta temperatura – ser muito semelhante ao do produto de referência, o custo de produção dos painéis fica “significativamente mais baixo”, completa. Além disso, a “densidade do painel é também menor, tornando-o mais leve e facilitando a sua montagem, e o aproveitamento da borracha dos pneus faz com que seja um produto com valor acrescentado e sustentável”, afirma.
O desenvolvimento da tecnologia contou com a parceria da Surforma, que detém uma empresa de distribuição e comercialização na África do Sul responsável por todas as vendas no continente africano. Os próximos passos incluem a industrialização da tecnologia de produção dos painéis, para que possam ser lançados no mercado em breve.
A Universidade do Porto explica ainda que, para compreender a tecnologia do grupo de investigação da FCUP, é necessário começar “por olhar mais aprofundadamente para as células do nosso corpo, mais especificamente para a mitocôndria, a parte da célula responsável por produzir a energia da mesma”. “O problema começa quando, devido ao envelhecimento, a mitocôndria começa a ficar mais vulnerável ao stress oxidativo. Para piorar o cenário, este processo é ainda exacerbado pela exposição à poluição e à radiação UV. Esta questão poderia ser resolvida com recurso a antioxidantes, mas os atualmente usados não são capazes de alcançar a mitocôndria e, por isso, não são efetivos”, resume.
Uma equipa da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, liderada pela investigadora Fernanda Borges (e da qual fazem parte também Ana Oliveira, Fernando Cagin e José Carlos Teixeira, da U.Porto, e Paulo Oliveira, da Universidade de Coimbra) encontrou uma solução para este problema.
Fernanda Borges, que lidera o grupo de investigação da FCUP, explica que a invenção é uma “espécie de GPS do antioxidante”. “Ligámos um antioxidante natural a um grupo químico que funciona como um auxiliar de navegação. Isto permite que os antioxidantes consigam localizar a mitocôndria e ter uma acumulação 5.000 vezes maior quando comparados com os antioxidantes tradicionais”.
O trabalho do grupo de investigação tem-se centrado no desenvolvimento e aplicação de moléculas antioxidantes em produtos cosméticos, capazes de retardar os efeitos do envelhecimento da pele. No entanto, estas moléculas também têm “aplicação direta como princípios ativos que poderão dar origem a terapêuticas para várias doenças neurodegenerativas e hepáticas, para as quais de momento não existe qualquer tratamento eficaz”, referem os investigadores, na mesma nota.
A invenção também tem patentes concedidas em Portugal, Estados Unidos da América, Brasil, e em mais de uma dezena de países europeus. Por enquanto, aguarda uma possível concessão no Canadá, China, Coreia do Sul e Japão. O grupo de investigadores decidiu fundar uma empresa, a MitoTAG, que em 2018 recebeu a chancela spin off Universidade do Porto.
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