“Será necessário o equivalente a três planetas” em 2050 se o consumo atual se mantiver, alerta APA
Na 1.ª conferência ECO Cidade, em parceria com a Sociedade Ponto Verde, Ana Cristina Carrola alertou para a fatura demasiado alta que o país pode pagar se não cumprir as metas europeias.
“O país tem de investir na recuperação de recursos que estão hoje em dia nos nossos resíduos” para que “esse aproveitamento acrescente valor” económico e mais tarde “não se pague uma fatura demasiado alta” pelo incumprimento das metas europeias, avançou Ana Cristina Carrola, vogal do Conselho Diretivo da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), durante a 1.ª conferência ECO Cidade, decorrida em Mafra.
Para Ana Cristina Carrola, é preciso alavancar a economia circular, a reboque de um melhor e mais eficaz desempenho nacional ao nível da gestão dos resíduos. “Conseguir uma economia mais eficiente do consumo de recursos, sejam eles água, energia ou matérias-primas” é um dos grandes desafios que o país enfrenta atualmente. A responsável da APA apontou ainda que “o atual modelo de desenvolvimento económico não é sustentável. São usados mais recursos do que aqueles que o nosso planeta pode sustentar”. A continuar assim, com este consumo global elevado, “será necessário o equivalente a três planetas em 2050”.
A responsável da APA alertou para o aumento da produção de resíduos, fazendo um paralelo com o ano de 1972, quando “o mundo consumia perto de 29 biliões de toneladas de recursos”. Nestas cinco décadas, verificou-se uma “rápida aceleração do consumo acompanhada pelo aumento da produção de resíduos, sendo que apenas 8,6% de todos os materiais recolhidos retornam à nossa economia”. A continuarmos assim, a responsável da APA receia que o “uso de material possa aumentar entre 170 a 184 biliões de toneladas em 2050”, antecipando uma “fatura demasiado elevada para o clima com riscos da poluição, escassez de água no solo, e perda de biodiversidade e dos recursos”.
No que respeita a Portugal, os números do no ano passado revelam a produção de resíduos foi de 505 quilos anuais por habitante. “Conseguimos manter mais ou menos uma estabilidade desde 2019”, destacou. Deu ainda nota de que “60% dos municípios do Continente terão já avançado com a implementação da recolha seletiva dos biorresíduos.
Para a responsável pelas áreas técnicas dos Resíduos, Licenciamento Ambiental e Laboratório de Referência do Ambiente da APA, ainda há muito a fazer no país para ir ao encontro das exigências europeias e conseguir fazer uma rápida transição para uma economia circular. “Uma das metas a cumprir em 2030 consiste em ter uma recolha indiferenciada de aproximadamente 20% e uma recolha seletiva de 80%”, precisamente o inverso do que atualmente acontece no país.
É uma fatura demasiado elevada para o clima com riscos da poluição, escassez de água no solo, na perda de biodiversidade e nos recursos.
Ana Cristina Carrola abordou ainda a importância do Plano Estratégico para os Resíduos Urbanos (PERSU) 2030. A APA é a entidade responsável pela elaboração, revisão e implementação desta ferramenta que incentiva à reutilização e/ou o prolongamento do tempo de vida de produtos, fator chave para a transição para a economia circular. Mas que deve ser acompanhada pela simplificação da legislação e “redução da burocracia, associada à regulamentação para que haja um impacto positivo de implementação destas estratégias”.
Ainda recentemente o Ministério do Ambiente e Energia duplicou o apoio financeiro destinado às 23 Comunidades Intermunicipais (CIM) e Áreas Metropolitanas do Porto e de Lisboa, que ascende agora a um total de 27 milhões de euros, para a implementação de projetos de recolha seletiva de biorresíduos.
Ao atual cenário desanimador acresce ainda o facto de “haver muita dificuldade em criar capacidade [dos aterros, que está esgotada], uma vez que os próprios municípios não disponibilizam terrenos para que se possam criar novos tratamentos de deposição em aterro”, lamentou.
Por fim, a engenheira da APA apelou à participação de toda a sociedade para o cumprimento das metas europeias em matéria de gestão de resíduos.
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