
Viagem ao coração do Império (com Joaquim Magalhães de Castro em busca do Portugal esquecido)
Três viagens pela Ásia com Joaquim Magalhães de Castro e a Pinto Lopes Viagens recriam as missões dos jesuítas portugueses no Tibete, Ladaque e China, cruzando aventura, história e espiritualidade.
Entre mapas antigos e trilhos por desbravar, as Viagens com Autores da Pinto Lopes Viagens ganham novos capítulos. Em 2025, o historiador Joaquim Magalhães de Castro volta a conduzir os mais curiosos por rotas pouco óbvias, cruzando territórios remotos do Oriente, à boleia das histórias dos padres jesuítas portugueses que, há séculos, se aventuraram por montanhas sagradas, vales esquecidos e reinos míticos.
Depois de ter liderado, em setembro de 2024, uma expedição aos Himalaias para assinalar os 400 anos da chegada do padre António de Andrade ao Tibete — uma odisseia que atravessou a Índia, o Tibete, a China e o Nepal —, o autor regressa agora com duas novas propostas, tão épicas quanto exigentes: “Mistérios do Ladaque – Uma Descoberta Portuguesa”, em junho, e “O Caminho de Bento de Góis”, em setembro. Três viagens, três reencontros com a História no terreno.
A primeira novidade leva-nos de volta aos Himalaias, mas a um outro território: o remoto e pouco visitado Ladaque, região indiana que o padre Francisco de Azevedo percorreu no século XVII. Terra de mosteiros budistas suspensos nas encostas, vales profundos e passos de montanha de cortar a respiração, o Ladaque é um destino ideal para os que procuram beleza natural em estado bruto e um contacto direto com espiritualidades ancestrais. Entre 1 e 22 de junho, o grupo liderado por Joaquim Magalhães de Castro cruzará cenários de altitude extrema, onde oásis verdejantes contrastam com planaltos áridos e rios gelados serpenteiam entre montanhas de listras multicores.
Já em setembro, entre os dias 28 e 20 de outubro, a viagem mais ambiciosa do ano recria uma das maiores epopeias terrestres da História: o percurso de Bento de Góis, leigo jesuíta açoriano que, em 1603, partiu da Índia em busca do mítico reino do Cataio — onde se acreditava existirem cristandades esquecidas — e que só décadas mais tarde se viria a revelar como a China. Disfarçado de mercador arménio, com arco ao ombro e cimitarra à cintura, Bento de Góis cruzou o atual Paquistão, percorreu desertos e cidades da Ásia Central, enfrentou intempéries e intrigas, até alcançar a mítica muralha chinesa. A viagem proposta pela Pinto Lopes Viagens procura, na medida do possível, seguir as suas pegadas, com paragens emblemáticas no Vale do Hunza, em Gilgit-Baltistão, e no deserto de Gobi.
Através destas propostas, a Pinto Lopes Viagens reforça o seu compromisso com o turismo cultural, desenhado para quem procura experiências com memória, guiadas por quem sabe contar a História onde ela aconteceu. Mais informações AQUI.
À conversa com Joaquim Magalhães de Castro
Num cenário onde as viagens perderam grande parte da sua aura de mistério e encanto, as expedições acompanhadas por Joaquim Magalhães oferecem a oportunidade de revisitar histórias enraizadas na tradição portuguesa. Numa conversa intimista, Magalhães compartilha as suas impressões sobre a pesquisa histórica, as dificuldades logísticas e, claro, as aventuras e desafios que definem cada uma das expedições que propõe aos participantes.
A raiz da jornada: a experiência como base para a seleção
De acordo com o próprio, os circuitos propostos são construídos com base em décadas de experiências no terreno. Desde os anos 90 que tem visitado estes locais com a curiosidade e a necessidade de entender as transformações que neles ocorrem. “É uma constante redescoberta dos lugares que já percorri”, diz Magalhães, cuja relação com esses territórios é profundamente pessoal. As viagens deixam de ser apenas uma busca por belas paisagens ou encontros exóticos, tornando-se uma missão de pesquisa.
A relação com a história portuguesa surge naturalmente neste contexto. “A viagem, que começou por um gosto pessoal, tornou-se uma atividade profissional, sendo agora um canal para revisitar a nossa história e a presença portuguesa em regiões tão distantes, como o Tibete ou a Ásia Central.” As expedições aos Himalaias e ao Ladaque, que já contam com uma base documental sólida e uma conexão pessoal do próprio Magalhães, ajudam a recriar e trazer à tona uma narrativa ainda pouco explorada pela historiografia tradicional.
A pesquisa e a seleção das fontes históricas
Como é esperado de quem tem uma trajetória de tantos anos de pesquisa, Magalhães de Castro faz uma busca incessante por fontes que ajudem a construir os roteiros. “Consulto cronistas, itinerários, cartas antigas, mas também as publicações mais contemporâneas, como as de Hugues Didier e Benjamim Videira Pires, que são grandes inspirações para esses itinerários.”
Ele cita ainda os desafios de estudar documentos antigos e comparar as várias versões de lugares e trajetos. “A maior dificuldade vem das diversas grafias de nomes e lugares. Algumas vezes, os locais não são reconhecidos ou são mencionados de formas muito diferentes nas fontes históricas.” Contudo, essa complexidade não desanima o pesquisador, que prossegue com a mesma dedicação.
O impacto das viagens: momentos de emoção e superação
A entrevista ganha emoção quando Magalhães de Castro descreve os momentos mais marcantes de suas expedições. A chegada às ruínas de Tsaparang, por exemplo, é uma das experiências mais especiais. “Visitei a cidade com um grupo de pessoas muito especiais e, para mim, é sempre um momento de grande emoção, não apenas por ser um local histórico, mas por poder partilhar aquele momento com outros.”
Mas também reconhece que as expedições em regiões remotas nem sempre são fáceis. “As condições no terreno são bastante desafiantes, especialmente no que diz respeito ao alojamento e alimentação. Contudo, o esforço é recompensado pela beleza e a riqueza histórica dos locais visitados”, revela, apontando a melhora das infraestruturas nos últimos anos, como no Tibete, onde a oferta de serviços tem avançado significativamente.
A memória portuguesa: entre esquecida e redescoberta
Algo que salta aos olhos durante a conversa com Magalhães é a quase total ausência de memória histórica local sobre a presença portuguesa nestas regiões. “Embora a passagem dos portugueses tenha sido significativa em momentos-chave, como nas missões jesuítas, a memória local, infelizmente, perdeu-se”, observa. A busca por vestígios físicos e registos sobre esses momentos históricos continua a ser um desafio constante para o investigador. No entanto, Magalhães não desanima: “Acredito que ainda há muito a descobrir e investigar.”
Novos horizontes e a proposta dos novos circuitos
Para 2025, as novas expedições trazem a promessa de explorar novos territórios e novas histórias. “Os circuitos do ‘Mistérios do Ladaque’ e o ‘Caminho de Bento de Góis’ irão proporcionar experiências completamente diferentes das anteriores. O Ladaque, com sua diversidade cultural e paisagens deslumbrantes, e o Caminho de Bento de Góis, que é uma verdadeira epopeia, cheia de desafios e beleza”, explica Magalhães.
Falou-nos também sobre a profundidade de sua relação com a Rota da Seda e as paisagens do Hindu Kush, locais que considera como parte do seu “verdadeiro batismo asiático”, onde aprendeu a língua uigur e cultivou amizades com diversas etnias.
“Quero que os participantes se entreguem ao inesperado. Não se trata de seguir um roteiro pronto, mas de se despojar das certezas para vivenciar novas realidades.” O convite final do investigador é para que os viajantes se liberem de preconceitos e estejam dispostos a serem surpreendidos: “As surpresas e as descobertas são garantidas. Cada viagem é única, assim como cada experiência no terreno.”
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