Algarve debate crescimento turístico sustentável e desafios habitacionais

  • ECO
  • 9 Julho 2025

Players do setor defendem gestão equilibrada do turismo e alertam para a pressão sobre habitação, serviços e recursos no primeiro painel da conferência ECO Cidade Albufeira.

O primeiro painel da conferência ECO Cidade Albufeira, realizada a 2 de julho, juntou responsáveis políticos e empresariais para discutir os desafios da sustentabilidade no turismo algarvio. A crescente pressão turística, sobretudo nos meses de verão, a necessidade de diversificar a oferta e os problemas de habitação para trabalhadores do setor estiveram no centro do debate.

José Carlos Rolo, presidente da Câmara Municipal de Albufeira, destacou o impacto de crises na região, como a crise financeira de 2008 e a pandemia de COVID-19, salientando o esforço e a resiliência das autarquias: “Durante dois anos tivemos um Algarve fechado, sem clientes, sem ninguém. Só em apoios diretos e perdas, falamos de cerca de 25 milhões de euros.” O autarca alertou ainda para a sobrecarga dos serviços durante o verão, em que o concelho de Albufeira, com cerca de 45 mil residentes, pode atingir até meio milhão de pessoas. “É um crescimento exagerado que não é acompanhado por outras estruturas”, afirmou, apelando à revisão da lei das finanças locais.

Já André Gomes, presidente da Região de Turismo do Algarve (RTA), reforçou a necessidade de articulação entre entidades para uma gestão eficaz do território. Referindo a redução do consumo de água e os esforços de sensibilização ambiental, defendeu: “Só conseguimos dar contributos efetivos com o envolvimento de todas as entidades.” Sobre a sazonalidade, apontou avanços com a diversificação de segmentos turísticos e novos mercados: “Contrariar a sazonalidade tem sido um trabalho de anos. Hoje já não vivemos apenas do sol e praia.”

"70% dos 21 milhões de dormidas em 2024 ocorreram nestes três concelhos. Isso exige uma gestão mais equilibrada dos fluxos turísticos”

André Gomes, Presidente da Região Turismo do Algarve

A concentração da procura em três concelhos — Albufeira, Loulé e Portimão — foi destacada pelo Presidente da RTA, que referiu: “70% dos 21 milhões de dormidas em 2024 ocorreram nestes três concelhos. Isso exige uma gestão mais equilibrada dos fluxos turísticos.” Apesar dos desafios, defendeu que o crescimento do turismo é desejável, desde que sustentável: “Sustentabilidade não é só ambiente. Também é social e económica. E sabemos o contributo que o turismo dá à economia nacional.

Rosário Ribeiro, representante do setor hoteleiro, trouxe a perspetiva empresarial. Explicou a aposta do grupo Vila Galé no interior algarvio como forma de aliviar a pressão do litoral e de fomentar o desenvolvimento regional. “Investimos em Tavira quando não era destino procurado. Hoje é uma aposta ganha”, referiu. Mas o maior desafio, sublinhou, é garantir alojamento para os trabalhadores, especialmente na época alta. “Estamos a falar de contratos anuais, aluguer de longa duração, transformar quartos em alojamentos. Sem isso, não conseguimos manter mão de obra qualificada.”

A diretora de operações do Grupo Vila Galé alertou também para a insatisfação dos colaboradores devido a más condições habitacionais: “Se os nossos colaboradores não estão satisfeitos, não estão motivados. Não podemos ter dez pessoas num quarto sem luz natural.” E lançou um apelo aos decisores públicos: “Enquanto não tivermos soluções melhores, temos de improvisar. Mas precisamos urgentemente de apoio para alojamento.”

O painel terminou com um consenso: é essencial repensar o crescimento turístico para garantir qualidade de vida aos residentes, boas condições de trabalho e uma experiência positiva para os visitantes. A sustentabilidade, reforçaram os intervenientes, deve ser construída em conjunto — setor público, privado e comunidade.

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