SXSW’24 – Crónica de um visitante maravilhado

Para adivinhar o futuro, é preciso compreender o passado e aprender o presente. Para poder melhorar alguma coisa, é preciso primeiro ter a consciência que nunca sabemos tudo. Isto é válido para todas as pessoas, no geral, e especialmente para quem está em cargos públicos e tem o dever de melhorar a vida da sociedade.

Esta premissa é valida em todos os assuntos, mas em particular na cultura e comunicação, áreas que, como sabem, me são particularmente queridas.

Tive a oportunidade de participar recentemente no certame South by Southwest (SXSW) de 2024, nos Estados Unidos, que se veio a tornar uma verdadeira aula a céu aberto, onde as fronteiras entre tecnologia, arte, cultura, comunicação e inovação se esbateram para dar lugar a palcos vibrantes de ideias e inspiração (sim, trouxe de lá muitas ideias e senti-me tal e qual o Marty Macfly no Regresso ao Futuro).

O meu cicerone foi o Luís, profundo conhecedor destas lides – Obrigado, Luís, por nos guiares nesta aventura, e que grupo fantástico o nosso.

Durante este evento monumental, que mais uma vez tomou conta da pitoresca cidade de Austin no Texas, os participantes foram convidados a embarcar numa jornada fascinante através das tendências mais prementes e das discussões mais provocadoras que definirão o futuro das sociedades.

Com uma gama impressionante de dezenas conferências, que abarcaram desde as últimas inovações em tecnologia até os desafios mais urgentes enfrentados pelos líderes e criativos de todo o mundo, o SXSW 2024 revelou-se um verdadeiro tesouro de conhecimento e insight, e o que eu amei ver in loco.

E, curiosidade ou coincidência das estrelas, o primeiro projeto que vi foi de uma empresa coreana com algo tão idêntico ao meu recente projeto em Santo António – História com Voz – que me veio logo à cabeça a frase de Oscar Wilde “Imitationisthesincerestformofflattery”. E sim, senti-me lisonjeado, não porque se trate de imitação, mas sim por serem duas cabeças de diferentes países com milhares de quilómetros de distância entre eles, com uma similar imaginação do futuro.

E ao percorrer os corredores do centro de convenções, entre uma conversa e outra, fomos imersos num oceano de milhares de pessoas, cada uma delas trazendo consigo uma perspetiva única e uma paixão imbatível por moldar o que aí vem.

Mas não foi apenas a escala impressionante que fez do SXSW uma aula a céu aberto. Foi a profundidade e a diversidade das ideias apresentadas que verdadeiramente me cativaram. Desde debates sobre a transformação da comunicação digital até reflexões sobre a importância da liderança autêntica, compassiva e humana. A cada momento foi uma oportunidade de aprendizagem e de crescimento.

E que melhor cenário para esta lição, que os próprios espaços urbanos de Austin, que se transformaram em laboratórios vivos de criatividade e inovação durante os dias do evento? Dos palcos lotados aos recantos escondidos, cada esquina estava viva com a energia pulsante do pensamento progressivo e da colaboração.

Mas o verdadeiro mérito do SXSW 2024 reside não apenas no seu papel como uma fonte de conhecimento e troca de experiências, mas como um catalisador de mudanças reais e duradouras nas sociedades e no mundo.

Até aqui falava de imaterialidade, espiritualidade, do enriquecimento da alma, do cérebro, da vida. Mas o SXSW consegue também estar presente no lado material da sociedade. O benefício económico da cidade é a outra prioridade, ou não estivéssemos nós nos Estados Unidos da América.

O SXSW é um dos eventos mais importantes no campo da tecnologia, música, cinema e cultura digital. É Adivinhar o Futuro! Além de um marco na cena cultural e artística, o SXSW também traz vários benefícios económicos para a cidade de Austin.

Senão vejamos, milhares de participantes – artistas, empresários, investidores, jornalistas e entusiastas da tecnologia – convergem para Austin. Isso resulta em um aumento significativo no incremento do turismo, com pessoas a viajar de todo o mundo para participar do evento.

É sabido que o turismo cultural é a par do religioso, o que mais gasta na sua estadia. O fluxo de visitantes leva a uma alta procura por hospedagem em hotéis, pousadas e alugueres de curto prazo, beneficiando diretamente o setor da hospitalidade da cidade. Também com o aumento do número de visitantes, os restaurantes, bares e cafés da cidade experimentam um aumento considerável no fluxo de clientes durante o SXSW.

Os participantes deste tipo de festival procuram experiências gastronómicas locais, contribuindo para o crescimento das receitas deste género de negócio além de impulsionar as vendas no comércio local, à medida que os participantes exploram lojas, centros comerciais e mercados tradicionais em busca de lembranças, roupas e itens exclusivos. Muitos estabelecimentos comerciais capitalizam esse aumento na atividade económica, resulta num impulso para o comércio local.

Deixo para o final, propositadamente, os dois vetores económicos que penso serem efetivamente os mais importantes. Uma das principais características deste festival é a oportunidade de networking e negócios que ele proporciona.

Empresas emergentes, start-ups e grandes corporações nacionais e internacionais participam também no festival para promover os seus produtos, serviços e iniciativas. Isso pode levar a parcerias comerciais, investimentos e oportunidades de crescimento para empresas locais, estimulando a economia da cidade a longo prazo.

E como evento de futuro que é, os investimentos em Start-ups e Inovação atraem sempre uma ampla gama de investidores, incluindo capitalistas de risco, anjos investidores e empresas de capital privado, que estão interessados em identificar as próximas grandes oportunidades de investimento. Muitas start-ups apresentam as suas ideias e produtos durante o festival, e algumas conseguem garantir financiamento significativo. Isso não só impulsiona a inovação e o empreendedorismo na cidade, mas também atrai talentos e recursos para a comunidade empresarial local.

Em resumo, o SXSW não enriquece apenas a cena cultural e criativa de quem a ele se desloca. Desempenha, e bem, um papel fundamental no fortalecimento da economia local, faz gerar receitas, empregos e oportunidades de negócios para os residentes e empresas da cidade.

À medida que nos despedíamos deste evento transformador, somos lembrados não apenas da importância de estarmos informados, mas também do poder que cada um de nós tem de moldar e influenciar o que desejamos ver na nossa casa, nas nossas cidades de origem, no meu caso na “minha” Lisboa.

Termino levantando o meu copo em homenagem ao South by Southwest de 2024 – um evento do outro lado do oceano que mostrou que, quando nos reunimos em busca do conhecimento e da inspiração, não há limite para o que podemos alcançar.

Que venham mais lições como esta, para que possamos continuar a aprender, crescer e construir um mundo melhor.