“Protection gaps” são risco invisível nas PME
Fechar as lacunas de proteção das PME é essencial para garantir a sua sobrevivência e reforçar a economia. A colaboração entre os vários setores é necessária para concretizar esta prioridade.
Apesar da crescente sensibilização para a importância da proteção financeira, um número alarmante de PME em Portugal continua a enfrentar lacunas significativas nos seus seguros. Estas falhas, conhecidas como “protection gaps”, podem colocar em risco a estabilidade e a resiliência destas empresas a longo prazo, especialmente num cenário de incerteza económica e social.
Neste artigo, vamos explorar o conceito de “protection gaps”, identificar como estes vazios de proteção podem afetar as PME e discutir as medidas essenciais para mitigar esses riscos, assegurando a segurança e continuidade dos negócios.
O que são “protection gaps”?
No contexto das PME, o termo “protection gap” refere-se à diferença entre a cobertura de seguro de que uma empresa dispõe e a cobertura que realmente necessitaria para garantir a sua proteção financeira. Em termos simples, representa o fosso entre a resiliência desejada e a vulnerabilidade existente. Este desajuste expõe as PME a riscos desnecessários, que podem incluir desde catástrofes financeiras até ciberataques, os quais, muitas vezes, são subestimados pelas empresas de menor dimensão.
Seguros para PME em Portugal
Portugal dispõe de um setor de seguros em crescimento, com uma vasta oferta de apólices direcionadas às PME. No entanto, a realidade mostra que muitas pequenas e médias empresas no país estão subseguradas ou possuem coberturas insuficientes em áreas críticas. Estas incluem seguros de vida e, de forma crescente, a proteção contra ciberataques. Esta vulnerabilidade é particularmente preocupante numa era de digitalização acelerada e riscos tecnológicos emergentes, que têm o potencial de causar danos irreparáveis.
De acordo com o Allianz Risk Barometer, as principais preocupações dos empresários portugueses incluem incidentes cibernéticos (59%), alterações macroeconómicas (44%) e crises energéticas (36%). No entanto, apesar desta consciencialização sobre os riscos, muitas PME continuam sem as proteções adequadas, deixando-se expostas a eventuais crises que podem ameaçar a sua sustentabilidade a longo prazo.
A dimensão das faltas em Portugal
Um estudo intitulado “Protection Gaps na Economia Portuguesa”, realizado pela Nova School of Business and Economics em colaboração com a Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF), analisou o grau de subseguro no país. Os resultados mostram uma realidade preocupante: uma grande parte das PME continua sem acesso a seguros essenciais, como apólices de vida e proteção contra riscos financeiros, exacerbando as suas vulnerabilidades.
Entre os desafios mais significativos para colmatar estas lacunas de proteção, destacam-se:
- Falta de consciencialização: Muitos empresários portugueses desconhecem a importância de uma cobertura de seguro adequada e as consequências da sua ausência, tanto para o negócio como para a segurança financeira das suas famílias.
- Acessibilidade financeira: O custo dos seguros, especialmente para pequenas empresas com margens de lucro apertadas, é frequentemente visto como uma barreira, levando muitas PME a considerarem estas despesas como dispensáveis.
- Complexidade dos produtos: A diversidade de opções de seguros no mercado pode ser intimidante. A falta de informação clara e acessível muitas vezes impede as PME de fazerem escolhas informadas e adequadas às suas necessidades.
Como colmatar os “protection gaps” nas PME
Resolver as falhas de proteção é uma necessidade premente que exige uma abordagem conjunta. Aqui estão alguns passos para enfrentar o problema:
- Educação financeira: Uma das principais soluções passa pela promoção de campanhas de sensibilização que ajudem as PME a compreenderem a importância da proteção financeira e como escolher as coberturas mais adequadas para os seus negócios. Estas iniciativas devem envolver governos, seguradoras e associações empresariais.
- Desenvolvimento de produtos acessíveis: As seguradoras têm um papel fundamental na criação de produtos que sejam financeiramente acessíveis e flexíveis, adaptando-se à realidade das PME. Isto inclui, por exemplo, apólices que cubram riscos cibernéticos ou crises energéticas, que estão a ganhar relevância no atual panorama de incerteza global.
- Simplificação da informação: Tornar a linguagem das apólices mais clara e menos técnica é crucial para que os empresários possam tomar decisões informadas. A utilização de exemplos práticos e de terminologia acessível ajudará a diminuir as dúvidas e incertezas que muitas PME enfrentam ao tentar contratar seguros.
A urgência de colmatar as falhas de proteção
Fechar os “protection gaps” nas PME portuguesas é uma questão urgente. Com o futuro a apresentar desafios cada vez mais imprevisíveis, desde crises climáticas a ataques cibernéticos, é fundamental que todas as empresas – independentemente da sua dimensão – estejam protegidas. A falta de cobertura de seguro adequada pode não só comprometer a viabilidade de um negócio, mas também afetar a segurança financeira das famílias e da sociedade em geral.
A criação de soluções eficazes para mitigar estes riscos não é apenas uma responsabilidade individual, mas uma prioridade coletiva. Ações coordenadas entre o governo, as seguradoras e a sociedade civil são essenciais para garantir que as PME tenham acesso a coberturas de seguros robustas, que possam fazer a diferença entre a sobrevivência e o colapso em tempos de crise.
A gestão dos “protection gaps” nas PME não deve ser encarada como uma simples formalidade, mas sim como uma peça fundamental para garantir a resiliência dos negócios. Ao investir em seguros adequados e em medidas preventivas, as pequenas e médias empresas podem estar preparadas para enfrentar um futuro incerto, protegendo os seus ativos e a sua estabilidade financeira.
Em última análise, colmatar estas lacunas de proteção permitirá não só aumentar a longevidade das PME, mas também fortalecer a economia portuguesa como um todo. Agora, mais do que nunca, é imperativo que todas as partes interessadas se unam para transformar esta visão em realidade.