Presidente da Comunidade Intermunicipal receia que "interrupções governativas" atrasem ainda mais a eletrificação da ferrovia, a reabertura do troço Pocinho - Barca d'Alva e a construção do IC 26.
O presidente da Comunidade Intermunicipal (CIM) do Douro receia que a instabilidade governativa no país prejudique a eletrificação da Linha ferroviária do Douro, causando ainda mais atrasos nesta obra que já é “demasiado lenta” e peca por tardia. Assim como comprometa a reabertura do troço ferroviário Pocinho – Barca d’Alva, que foi desativado, e “uma eventual ligação internacional a Espanha”.
Em entrevista ao ECO/Local Online, Luís Machado diz-se igualmente preocupado que a atual crise política “prejudique” a construção do Itinerário Complementar (IC) 26 que nunca saiu do papel e é considerado prioritário para melhorar os acessos nos distritos de Vila Real e Viseu. O líder da CIM nota ainda que os municípios pretendem tornar o rio Douro navegável para transporte de pessoas e mercadorias.
Há projetos no Douro que podem ficar em risco por causa do país estar sob um Governo de gestão e ir novamente a eleições legislativas a 18 de maio?
Naturalmente que esta instabilidade governativa que o país tem vindo a viver nos últimos anos é uma situação que nos preocupa em termos de programação de projetos e de investimentos. Contudo, vamos vendo alguma maturidade em situações de instabilidade governativa.
Penso que a esmagadora maioria dos projetos financiados pelos fundos europeus continuará o seu caminho, naturalmente com mais dificuldade porque tendo um Governo em gestão é mais difícil assumir compromissos. Penso que o programa Portugal 2030 e o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) vão continuar o seu caminho com mais dificuldade; mas estou convencido de que os municípios da CIM Douro vão conseguir levar a bom porto os seus objetivos e concretizar os seus projetos.
Quais são os projetos da região que dependem do Governo para avançar?
Um deles é o Itinerário Complementar (IC) 26 que é uma reivindicação antiga da nossa comunidade e que está prometido há muitos anos. Entendemos que é essencial para a mobilidade rodoviária de alguns concelhos da nossa comunidade como Mesão Frio, Tabuaço, Armamar, Moimenta da Beira.
Esse itinerário tem vindo ao longo dos anos a ser inscrito no plano rodoviário. Tem havido abertura da parte dos vários governos nesse sentido, mas ainda não teve o seu avanço definitivo. Contudo, continuamos a insistir com o Governo que saiu. Mas, estando o Governo em gestão, é mais difícil conseguir esse compromisso e avançar com esta obra que é um desígnio da CIM e da nossa comunidade.

Há mais projetos que podem estar em causa?
Outro projeto é a eletrificação na Linha do Douro que tem tido alguns avanços que não nos satisfazem, porque achamos que a obra está a ser demasiado lenta. E estas interrupções governativas prejudicam o processo de eletrificação na Linha do Douro. Já tem um atraso de alguns anos e preocupa-nos muito, uma vez que é uma linha essencial para a nossa comunidade e o nosso território em termos de mobilidade, economia, além de ganho de tempo e conforto.
Em que ponto está a empreitada?
A eletrificação até ao Marco de Canaveses está concluída, estando em execução a empreitada no troço entre o Marco de Canaveses e a Régua. Falta a eletrificação entre Régua-Pocinho, além da reabertura do troço entre Pocinho e Barca d’Alva que foi desativado há muitos anos. Temos em projeto o estudo para ver viabilidade da ligação Pocinho – Barca d’Alva e depois uma eventual ligação internacional desta a Espanha que também é uma reivindicação antiga da população.
Mas considera que a eletrificação da Linha do Douro possa estar em risco?
Havia já um entendimento em relação à Linha do Douro para se avançar com o processo. Ainda assim, a nossa convicção — CIM — é que não fique em risco. Penso que a eletrificação da Linha de Douro é uma vontade e um desejo de qualquer Governo, nomeadamente dos governos liderados pelo PS e pelo PSD. Estou convencido de que não vai sair do programa de qualquer um destes dois partidos na candidatura à governação, às próximas eleições legislativas. Entendemos é que o processo sai prejudicado por essa instabilidade governativa.
Temos em projeto o estudo de Pocinho – Barca d’Alva para uma eventual ligação internacional a Espanha que também é uma reivindicação antiga da população.
Além da ferrovia, os municípios também gostariam de tornar o rio navegável para transporte de mercadorias e pessoas.
O rio Douro é navegável desde Barca d’ Alva até ao Porto. Temos um desejo de alargar o transporte fluvial que, hoje em dia, é exclusivamente dedicado ao turismo. Entendemos que o turismo fluvial é determinante e importante para a comunidade e região, mas também pretendemos que o transporte de mercadorias e o de passageiros entre margens seja uma realidade.
Nesse sentido já falámos com a Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo (APDL) — que é a entidade gestora do rio Douro — para avançarmos com o transporte de mercadorias e mudar o paradigma da nossa mobilidade na região.
Quando avançam com os dois estudos para apurar a viabilidade deste tipo de mobilidade?
Consideramos que 2025 será um bom ano para iniciar, juntamente com a APDL, os dois estudos: um para o transporte de mercadorias e outro para transporte de passageiros entre margens de modo a analisarmos as mais-valias, a viabilidade e quantificar custos dos trabalhos a executar para que esses tipos de transportes avancem realmente.
São dois projetos de grande envergadura que podem mudar o perfil de transportes na nossa região e executá-los carece de tempo. No nosso país demoramos muito tempo a decidir e o que nós queremos é ter dados que nos permitam tomar uma decisão e sustentá-la.
Qual será o passo seguinte?
Depois dessa análise, naturalmente haverá uma decisão que implica a APDL, a CIM Douro e o Governo que estiver em funções na altura e, por consequência, a própria União Europeia porque teremos a oportunidade de captar fundos para levar por diante esse projeto se for viável.
No nosso país demoramos muito tempo a decidir e o que nós queremos é ter dados que nos permitam tomar uma decisão e sustentá-la.
No caso do transporte entre margens da população…
No caso do transporte entre margens temos de avaliar, ao longo de toda a extensão do rio Douro, se há procura da população por este modo de transporte fluvial, se é uma oportunidade e uma opção para a evolução da mobilidade. Temos de quantificar o volume de passageiros que usariam esse meio de transporte, o possível fluxo de transporte de passageiros, além dos proveitos que geraria esse tipo de transporte.
A ideia é conseguir que o rio, que identifica a região, não nos divida. Temos povoações que se veem uma à outra entre margens, mas que têm de fazer cerca de 30 quilómetros ou mais para se deslocarem, via rodoviária, de um local ao outro. Se conseguirmos que as pessoas cheguem mais rápido e de forma mais confortável à outra margem, logo ganhamos essa potencialidade. A nossa ideia é que com esta mobilidade a própria economia local também ganhe.
Um transporte de passageiros entre margens será uma boa opção para a mobilidade na nossa região.
Qual é a grande vantagem do transporte fluvial?
Desde logo, seria economicamente mais viável, diferente, mais seguro, e, principalmente, seria já uma transição para um transporte verde que nos interessa a todos e principalmente à nossa região ao retirarmos trânsito rodoviário das nossas vias.
A “ameaça” dos Estados Unidos aplicarem tarifas de 200% sobre os vinhos é motivo de preocupação para a CIM?
Preocupa-nos muito as tarifas americanas, porque vão ter um impacto direto. Nós, Douro, ainda temos uma dependência muito grande do vinho que é o nosso produto de excelência. E naturalmente, sendo os Estados Unidos um dos maiores mercados deste negócio, a situação preocupa-nos muito.
Se se confirmarem estas tarifas, o nosso mercado terá um impacto direto e imediato. Mas é uma oportunidade para trabalharmos outros mercados e tornarmos o nosso negócio do vinho cada vez mais sustentável sem estarmos dependente de dois ou três mercados, que é o que tem acontecido nos últimos anos.
O mercado acomodou-se a estes destinos e isto acaba por ser um alerta para nós, tal como para toda a Europa de que devemos trabalhar outros mercados para não estarmos tão expostos à vontade interna de um ou de outro país.
Receia que o turismo americano diminua?
O nosso Douro continua a ser muito apetecível para o mercado americano. Naturalmente que nós estamos numa altura de muitas incertezas. Somos um destino seguro e economicamente apetecível para o turista americano.
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