A Matemática do Ensino Superior

  • Isabel Cipriano
  • 2 Julho 2025

Há áreas nas quais existe uma clara insuficiência de profissionais, uma delas com impacto direto no desenvolvimento económico do país – a contabilidade.

Para muitos cidadãos, julho é sinónimo de férias. Para muitas empresas do setor privado significa uma necessidade maior de fluxo de tesouraria para o pagamento do subsídio de férias. Mas existe uma camada da população em alerta: os estudantes. É precisamente este mês – no dia 21 – que começa a primeira fase das candidaturas ao ensino superior (público). Os que ingressarem hoje, amanhã estão no mercado de trabalho.

Em fevereiro deste ano, a DGES – Direção-Geral do Ensino Superior, anunciou que neste ano letivo que aí vem – 2025/2026 – as universidades e os institutos politécnicos vão ter mais vagas disponíveis em licenciaturas e mestrados integrados.

A aritmética não engana: no ano letivo de 2024/2025 ingressaram no ensino superior (público, cooperativo e privado) quase meio milhão de alunos. Há 30 anos, no ano letivo 1995/1996 estavam inscritos 81 mil alunos no ensino superior. Mas se é verdade que o País precisa de profissionais qualificados e de os remunerar condignamente, há áreas nas quais existe uma clara insuficiência de profissionais, uma delas com impacto direto no desenvolvimento económico do país – a contabilidade.

Quantos jovens desistem do ensino superior por manifesta falta de condições financeiras e /ou de alojamento, na situação dos alunos deslocados? Os números não enganam: de acordo com os dados da DGEEC- Direção-Geral de Estatísticas da Educação e da Ciência, disponibilizados no final de junho no Portal Infocursos 2025, 13,5% dos alunos abandonaram o ensino superior.

As contas são simples: Dificuldades financeiras das famílias e bolsas de estudo baseadas em parâmetros desproporcionais à realidade dos agregados. Neste ano letivo que agora termina, ou seja, 2024/2025, o limite de rendimento per capita anual para a candidatura a uma bolsa de estudo era de €11.049,89.

O cálculo para atribuição da bolsa também é matemática direta. Vamos a exemplos práticos: uma família de 3 pessoas tem um rendimento anual bruto de 35.000 euros. Os pais trabalham, o jovem aluno não. Dividindo por três chega-se a um rendimento per capita: 11.666 euros. Neste exemplo, cada um dos pais teria um rendimento mensal de 1.250 euros – uma fortuna, assim parece, pois à partida o aluno não terá direito à bolsa, pese embora em algumas faculdades e municípios existam outro tipo de incentivos financeiros ao estudo.

É preciso fazer contas, perceber a lógica dos processos para que os agregados saibam com o que podem contar. E em termos estritamente financeiros, existem muitos casos em que, poderá não compensar às famílias manter o estudante perto de casa numa universidade privada. Mas a vida não se faz só da gestão da tesouraria das famílias. Qual o valor real dos alunos deslocados em termos de custo familiar?

Deixo um outro exemplo: um aluno do Porto sem “direito” a bolsa de estudo, ingressa numa universidade pública de Faro. Terá de encontrar alojamento, ter fundo de maneio para despesas como alimentação, transportes para ir ao Porto, livros, internet ou outro material de estudo e todas as restantes despesas inerentes ao seu quotidiano académico. Feitas as contas, poderá ser mais económico para a família que este aluno ingresse numa universidade privada na sua cidade natal. A crescente procura pelo ensino superior privado não representa necessariamente que o aluno “não teve nota” para entrar no ensino público. Muitas vezes, é a alternativa que feitas as contas da contabilidade familiar, menos onerosa é os agregados.

Em poucas semanas teremos os números reais de quantos alunos ingressaram no ensino superior (na medida em que o processo de candidatura no público obedece a três fases). Estes são os jovens que tratam a tecnologia e o digital por tu, que supostamente valorizam os processos sustentáveis e que amanhã estarão no mercado de trabalho.

Atualmente, e face aos desafios ESG – Environmental, Social and Governance – impostos pela Agenda 2030, os indicadores ambientais, sociais e de governação corporativa foram adotados como critérios para a avaliação do desempenho das empresas e instituições em matéria de sustentabilidade, no quadro europeu das finanças sustentáveis. Significa isto que as empresas/instituições, as pessoas e os processos vão ser compelidos para ambientes que promovam de forma sustentável, tanto o desenvolvimento humano de uma forma equitativa, integradora e valorativa, a par e passo com o crescimento do desempenho das organizações, assentes em critérios de sustentabilidade.

Mas estarão as universidades preparadas para formar estes alunos e as empresas capacitadas para os receber?

  • Isabel Cipriano
  • Presidente da APOTEC – Associação Portuguesa de Técnicos de Contabilidade

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

A Matemática do Ensino Superior

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião