Um ano de PRR – nem uma maratona nem um sprint…

De pouco serve opinar sobre se o PRR deveria incluir estas medidas ou outras. Agora é momento de executar. Não há guerra ou inflação que possa mudar a data final de execução (2026!).

Decorreu no renovado Museu dos Coches, no passado dia 30 de Junho, o evento promovido pela Unidade de Missão Recuperar Portugal para marcar o fim do primeiro ano de PRR. Numa sessão com a participação dos representantes da Comissão e das entidades que estão responsáveis pela aplicação dos fundos, uma mensagem forte e clara prevaleceu: este pacote é para utilizar até 2026… e não haverá adiamentos!

 

No atletismo de pista, uma das provas mais espectaculares e exigentes são os 400 metros barreiras… segundo os especialistas, para ganhar é preciso “começar a matar e acabar a morrer…”. Ora o sucesso do Plano de Recuperação e Resiliência para Portugal, parece evoluir no sentido de se tornar uma prova muitíssimo exigente e selectiva para todos os intervenientes, a fazer lembrar a temível prova de volta à pista com obstáculos!

Um ano depois da aprovação do plano pela Comissão, os responsáveis da estrutura de missão anunciaram o sucesso da contratualização de 100% dos investimentos com os beneficiários intermédios e directos, com bem mais de 50% dos 16.000 milhões de Euros já em concurso ou à disposição das entidades que os podem executar e pôr em prática. No entanto, verdade seja dita, apenas uma fração destes valores chegou à economia real, o que sendo compreensível pela complexidade do modelo do PRR e pela alteração de paradigma (mais centrado nos resultados e metas atingidas do que na execução da despesa), não deixa de causar algum nervosismo.

Como foi referido por diferentes participantes, já não estamos nos “blocos de partida” e, como tal, de pouco serve opinar sobre se o PRR deveria incluir estas medidas ou outras. Agora é momento de executar, e as cerca de 60 entidades que têm a seu cargo os diversos investimentos tomaram seguramente nota da mensagem deixada pela representante da Comissão: não há guerra ou inflação que possa mudar a data final de execução (2026!). Pode haver ajustamentos a algumas das metas, mas a execução, essa, terminará dentro de 4 anos.

Ficou por isso um forte apelo a todas as entidades para que o programa dobre rapidamente a primeira curva da pista e que aproveitemos os próximos 12 meses para acelerar decisivamente face aos objectivos, lançando mais concursos, tomando decisões sobre alguns dos que seguem pendentes e, acima de tudo, procurando manter certa coordenação e harmonia nos movimentos, ou seja, nas diversas dimensões de transição ecológica e digital promovidas pelas medidas aprovadas.

Uma das medidas mais importantes do PRR são as famosas Agendas Mobilizadoras de Inovação, programa que elegeu 51 investimentos para uma fase final de negociação, e cuja execução promete mudar a face da economia portuguesa na próxima década. Do conhecimento que temos destas iniciativas, talvez seja exagerada a promessa, mas a verdade é que a execução de uma parte significativa das mesmas poderia tangibilizar um enorme potencial criativo e de colaboração entre os membros dos diferentes consórcios, susceptível de produzir impactos ao nível da competitividade, da produtividade e do emprego – factores críticos para o crescimento produtivo da nossa economia.

O apelo da “super-ministra” Mariana Viera da Silva a todos os presentes no sentido de mantermos o foco e sermos persistentes na execução foi um importante tónico para todos aqueles que possam ter dúvidas sobre as dificuldades que nos esperam na última curva, antes da reta final. Lembrou ainda, e bem, que apesar do PRR se esgotar nas medidas aprovadas e no horizonte de 2026, a verdade é que há que contar ainda com o novo quadro comunitário de apoio (o PT2030) e potencialmente na componente de transição energética, com um reforço de verbas através do programa RePowerEU, no qual Portugal pretende jogar um papel de destaque.

Sejamos honestos: Portugal nunca dispôs noutro qualquer momento da nossa democracia de tantas verbas para proceder a uma transformação efectiva da sua estrutura produtiva; a oportunidade é única para dar um salto significativo e para nos aproximarmos do pelotão da frente a nível europeu. É igualmente verdade que as condicionantes externas não podiam ser mais desafiantes, com a Europa mergulhada numa profunda convulsão e ameaças globais de recessão e de estagflação. Ainda assim, melhor abordar estes desafios com recursos e dinheiro para investir do que sem ele!

E sobre os desafios e riscos? Falou-se muito na importância da formação do capital humano, da colaboração entre entidades públicas, privadas e do sistema científico nacional, da transparência na utilização e aplicação das verbas e de muitos outros factores cujo contributo e relevância são seguramente inequívocos… do que se falou pouco, ou talvez menos do que o desejável, foi do impacto que a capacidade e qualidade dos nossos gestores, públicos e privados, terá no resultado final.

Num plano cujas verbas serão finalmente libertadas pela Comissão em função de serem alcançadas certas metas e objectivos, a medida do sucesso do PRR estará intimamente ligado à capacidade dos nossos gestores para manter o foco e a persistência enunciados pela senhora ministra. E nesse sentido, talvez haja razões para algum optimismo… em Portugal, na gestão e na engenharia, os nossos talentos não ficam nada atrás do que se produz noutros países, até porque, refira-se, estamos habituados a fazer muito com muito pouco, e essa capacidade virá seguramente ao de cima, senão antes, pelo menos na recta final desta prova.

O tempo o dirá… ao contrário da tal prova de 400 metros barreiras onde normalmente os atletas “acabam a morrer”, quero acreditar que Portugal e os gestores portugueses saberão encontrar o caminho do sucesso e as soluções certas para colar todas as peças deste complexo puzzle a que chamamos PRR! Rumo a um futuro, para além de 2026, com maior crescimento e maior prosperidade para todos nós!

Nota: Os pontos de vista e opiniões aqui expressos são os meus e não representam nem reflectem necessariamente os pontos de vista e opiniões da KPMG.

O autor, por opção própria, escreve ao abrigo do antigo acordo ortográfico.

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