Baldios de Folgosinho com prejuízos de três milhões de euros por causa dos fogos
Associação dos Baldios de Folgosinho, em Gouveia, calcula em três milhões de euros prejuízos causados pelo fogo. O autarca da Guarda diz que urge um "forte músculo financeiro" para cobrir danos.
A Associação dos Baldios de Folgosinho, concelho de Gouveia, no distrito da Guarda, avaliou esta segunda-feira em cerca de três milhões de euros os prejuízos causados pelo incêndio que atingiu a Serra da Estrela. O presidente da direção dos Baldios de Folgosinho, Hugo Teixeira, calcula que o fogo tenha destruído 800 hectares de madeira — avaliada em 1,6 milhões de euros — e 350 hectares de áreas que foram arborizadas nos últimos dez anos — onde foram investidos cerca de 750 a 800 mil euros.
“Ainda no ano passado arborizámos 55 hectares, pagámos quase 150 mil euros e arderam já este ano”, lamentou Hugo Teixeira, lembrando que na área dos Baldios de Folgosinho as chamas consumiram “praticamente tudo o que não tinha ardido em 2017”. Ou seja, reiterou, “em cinco anos, passámos de uma área que tinha um património florestal avaliado em mais de seis milhões de euros para, em 2022, termos praticamente um património florestal que vale zero”.
Nos últimos dez anos, investimos cerca de 2,5 milhões de euros, com o apoio do quadro comunitário, quer em limpezas, quer em reflorestação. Arborizámos cerca de 350 hectares que foram completamente destruídos neste incêndio.
Dada a situação, o dirigente assume que a associação fica com a sua sustentabilidade em causa, porque possui cinco postos de trabalho e terá de esperar “mais 20 ou 30 anos para poder ter alguma receita do baldio”. Mais, frisou Hugo Teixeira: “Nos últimos dez anos, investimos cerca de 2,5 milhões de euros, com o apoio do quadro comunitário, quer em limpezas, quer em reflorestação. Arborizámos cerca de 350 hectares que foram completamente destruídos neste incêndio”.
A regeneração natural vai surgir nalgumas áreas, mas a instituição terá de guardar as verbas de 60% que vai receber do valor da madeira, para investir em zonas onde tal não acontecerá. Os 300 ou 400 mil euros, que poderá receber da venda de madeira, será insuficiente para “arborizar mil e tal hectares que arderam agora neste incêndio” e a área que ardeu no incêndio de 2017.
Sobre a retirada de madeira da área ardida, o responsável explicou que, na sexta-feira, reuniu com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e soube que já está a ser decidida a forma como será feita a hasta pública. Adiantou, no entanto, que pela experiência de anos anteriores, fez “quase” um ultimato ao ICNF: “Se até ao final de outubro não puser a hasta pública na rua, para venda dessa madeira, o Conselho Diretivo dos Baldios de Folgosinho irá fazer a hasta pública. E, em vez de ser o Estado a dar-nos os 60% da receita, somos nós que entregaremos os 40% ao Estado”.
“Forte músculo financeiro” para cobrir prejuízos
Já o presidente da Câmara Municipal da Guarda, Sérgio Costa, espera “um forte músculo financeiro” para cobrir os prejuízos causados pelos incêndios que, no concelho, ascendem a “muitos milhões de euros” sem, contudo, precisar o valor.
“Aquilo que queremos é que haja uma forte vontade, um forte músculo financeiro para que seja possível fazermos todas estas intervenções que precisam de ser feitas, algumas no curto prazo, outras no médio prazo e outras no longo prazo. É muito importante”, afirmou o autarca à margem de uma reunião de representantes dos concelhos afetados pelos incêndios no Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE) com o eurodeputado social-democrata Álvaro Amaro.
O encontro, que decorreu na Quinta da Taberna, freguesia de Videmonte, concelho da Guarda, serviu de preparação de um conjunto de iniciativas no âmbito das instituições europeias para minimizar os prejuízos causados pelas chamas.
No âmbito global da área do PNSE que foi atingida pelas chamas, o autarca lembrou que os prejuízos e os custos da reabilitação estão a ser finalizados pela Agência Portuguesa do Ambiente, pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, pelos municípios e pelo Ministério da Agricultura.
Sérgio Costa advertiu, no entanto, que, olhando para as serras, montes e vales atingidos pelo fogo, há prejuízos “que ainda não foi possível calcular”. É o caso, por exemplo, apontou, de “quanto vai custar retirar toda esta madeira [queimada] para não apodrecer na terra ou replantar tudo isto.” Ou até mesmo, acrescentou, “quanto é que vai custar a pegada do carbono. São aqueles prejuízos impossíveis de calcular num curto prazo”.
Aquilo que queremos é que haja uma forte vontade, um forte músculo financeiro para que seja possível fazermos todas estas intervenções que precisam de ser feitas.
O presidente da Câmara da Guarda assegurou ainda que os autarcas do PNSE querem transformar o território atingido “para voltar a ser aquilo que era aos mais diversos níveis: agricultura, florestas, pecuária e turismo”.
A Serra da Estrela foi afetada por um incêndio que deflagrou a 6 de agosto em Garrocho, no concelho da Covilhã, distrito de Castelo Branco, e que foi dado como dominado a 13. O fogo sofreu uma reativação no dia 15 e foi considerado novamente controlado na noite de 17 do mesmo mês. As chamas propagaram-se para o distrito da Guarda, nos municípios de Manteigas, Gouveia, Guarda e Celorico da Beira, e atingiram ainda o concelho de Belmonte, no distrito de Castelo Branco.
O Governo aprovou, no dia 25, a declaração de situação de calamidade para o PNSE, afetado desde julho por fogos, conforme pedido pelos autarcas dos territórios atingidos. Entretanto, a situação de calamidade foi já publicada em Diário da República e vai vigorar pelo período de um ano, para “efeitos de reposição da normalidade na respetiva área geográfica”.
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