Falta de acessibilidade é desafio para a economia do Alentejo

  • ECO
  • 7 Dezembro 2023

O oitavo debate ECO Local/Novo Banco teve lugar em Évora, no dia 28 de novembro, e abordou a situação económica da região, bem como as prioridades a ter em conta para o futuro.

No dia 28 de novembro, Évora foi palco do oitavo debate ECO Local/Novobanco, centrado no estado económico da região e nas prioridades para um futuro mais promissor. Moderado por António Costa, diretor do ECO, o evento contou com as perspetivas e experiências de João Pedro Grave, da Herdade da Peramanca; José Pedro Salema, Presidente do Conselho de Administração da EDIA; e Luís Ribeiro, Administrador do Novobanco.

Com uma produção de cerca de 90 a 100 mil garrafas de vinho por ano, João Pedro Grave explicou que a rentabilidade do seu negócio é garantida pela exportação.

"Somos uma empresa muito pequena. Somos cinco pessoas, mas temos conseguido manter uma rentabilidade muito satisfatória. E como é que isto se consegue? Exportação. Hoje em dia, nós exportamos cerca de 50% da nossa produção para oito ou nove países, sendo os principais Brasil, Suíça e EUA. Moçambique também se tornou importante este ano.”

João Pedro Grave, Herdade da Peramanca

Além da exportação, o empresário também explicou que aposta muito nos vinhos de reserva, já que se aumentar o consumo destes, também aumenta a rentabilidade da empresa: “Eu tenho um vinho corrente, tenho um de reserva e tenho um de grande reserva. Se eu conseguir aumentar o consumo da grande reserva, fazer cada vez mais grande reserva e reserva, em detrimento dos vinhos mais baratos, eu estou a aumentar o meu preço médio e estou a aumentar a minha rentabilidade. Este é o caminho”.

Como atrair talento para a região?

De acordo com José Pedro Salema, a atração de pessoas já tem vindo a acontecer na região e prova disso são as mais de 200 unidades turísticas que foram instaladas em Reguengos, na última década. “Temos uma oferta turística hoje que não tínhamos há 10 anos para o segmento premium, com quartos que custam mais de 500 euros por noite. Há várias unidades que estão cheias o mês de agosto inteiro”, afirmou.

No entanto, o presidente do Conselho de Administração da EDIA admitiu que, ainda assim, é importante “explorar mais as alturas off season, encontrar nichos de mercado de pessoas que gostem de vir para o campo e para a natureza”. Para isso, José Pedro Salema acredita que é importante apresentar a região a mais pessoas e convidá-los a visitá-la.

"A EDIA, nos últimos anos, tem tido uma estratégia ativa de captação de investimento e com algum sucesso. No fundo, é importante estar em eventos com a banca, estar em missões internacionais. Já fizemos várias missões internacionais com o Novobanco, em que convidamos investidores e clientes associados a visitar e a apresentar.”

José Pedro Salema, Presidente do Conselho de Administração da EDIA

Por sua vez, João Pedro Grave realçou a agricultura e o papel dos empresários como fundamentais para atrair pessoas. “O que precisamos é de mais empresários, estimular os empresários, e aqui a parte da agricultura deu uma ajuda, com o Alqueva. O Alentejo ainda é essencialmente agrícola, portanto, o aspeto de dinamização da agricultura vai criar aqui, quer a jusante, quer a montante, uma série de empresas que giram à volta da agricultura, dos produtos, e das máquinas que pode dinamizar. Eu acho que a agricultura terá sempre um papel fundamental na dinamização desta região”, explicou. No entanto, o empresário referiu também o peso das burocracias como uma dificuldade para captar empresários.

"É preciso criar um ambiente amigável para a instalação de negócios, mas há burocracias desnecessárias nas várias intervenções que têm de se fazer, quer urbanas, quer rústicas, mas mais nas urbanas.”

João Pedro Grave, Herdade da Peramanca

Falta de acessibilidade, saúde e educação e o papel da banca

“O Alentejo tem desafios grandes e obviamente que o investimento público também tem um papel determinante para criar condições para que depois se possam atrair os empresários e as empresas para investir. O distrito de Portalegre é um excelente exemplo de que ficar a 40 quilómetros de uma autoestrada é a diferença entre ter capacidade de atrair investimento ou não ter capacidade“, referiu Luís Ribeiro.

A mesma opinião foi partilhada por José Pedro Salema, que alertou para a necessidade de se priorizar a criação de acessos com base noutros fatores que não só a densidade populacional: “Percebo que o país está cansado de ter investido em estradas, mas a Infraestruturas de Portugal olha para a manutenção do nosso parque de estradas com a população como indicador principal, e, sendo a nossa densidade populacional baixíssima, na matriz de decisão o Alentejo fica sempre em último”.

“Depois, há três condições que são fundamentais – ter habitação, ter saúde e ter educação. E, sem estas três características, ninguém vem“, continuou o administrador do Novobanco, que reforçou o papel da banca como primordial para ajudar as regiões a ultrapassarem os desafios.

"O papel da banca, primeiro, é estar perto, é ouvir, é conhecer. Porque nós adaptaremos tanto melhor os nossos modelos quanto melhor nós consigamos conhecer aquilo que são os modelos dos nossos clientes. E se nós tivermos esta cultura de proximidade e de simplificação, não há, na minha opinião, restrições ao investimento nem ao financiamento.”

Luís Ribeiro, Administrador do Novobanco

Ainda assim, Luís Ribeiro alertou: “Hoje em dia, se estamos a falar das remunerações das poupanças, por exemplo, as taxas em Portugal praticadas à data de hoje, são superiores à dos nossos vizinhos do lado. Também não podemos comparar a estrutura de financiamento do crédito a habitação em Portugal com aquela que é a média dos países europeus porque, como sabemos, em Portugal existe uma percentagem de taxas indexadas muito superiores à dos outros países da Europa porque permitiu, durante 15 anos, as famílias portugueses pouparem 11 mil milhões de euros em juros e agora têm o reverso da medalha, que é uma aceleração dos custos”.

Ainda sobre o papel da banca, o responsável do Novobanco afirmou, ainda, que hoje os bancos portugueses estão bem capitalizados, “e ter um balanço robusto e ter liquidez é fundamental” para apoiar a economia portuguesa e apoiar as empresas. “Todos os bancos disputam ferozmente as boas operações de financiamento às empresas, em particular ao tecido de pequenas e médias empresas. Eu não estou muito preocupado com o custo de financiamento e acho que até é uma forma de termos investimentos que produzem mais valor para a economia, por ser mais exigente”, referiu.

Contudo, Luís Ribeiro também chamou a atenção para “as exigências que os reguladores têm feito“, que “têm de ser adaptadas às realidades e aos casos concretos“: “Numa região que tem indústria extrativa, que tem a agricultura como um peso muito importante, nós temos de ser capazes de traduzir isso de alguma forma nos nossos modelos, e isso é, sem dúvida, um desafio. Mas a verdade é que, nas principais culturas que estamos a ver no Alentejo – o olival, o amendoal e a vinha – o binómio risco-rentabilidade, num horizonte de cinco anos, é muito positivo”.

Este foi o oitavo debate fruto da parceria entre o ECO e o Novobanco.

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