Falta de acessibilidade é desafio para a economia do Alentejo
O oitavo debate ECO Local/Novo Banco teve lugar em Évora, no dia 28 de novembro, e abordou a situação económica da região, bem como as prioridades a ter em conta para o futuro.
No dia 28 de novembro, Évora foi palco do oitavo debate ECO Local/Novobanco, centrado no estado económico da região e nas prioridades para um futuro mais promissor. Moderado por António Costa, diretor do ECO, o evento contou com as perspetivas e experiências de João Pedro Grave, da Herdade da Peramanca; José Pedro Salema, Presidente do Conselho de Administração da EDIA; e Luís Ribeiro, Administrador do Novobanco.
Com uma produção de cerca de 90 a 100 mil garrafas de vinho por ano, João Pedro Grave explicou que a rentabilidade do seu negócio é garantida pela exportação.
"Somos uma empresa muito pequena. Somos cinco pessoas, mas temos conseguido manter uma rentabilidade muito satisfatória. E como é que isto se consegue? Exportação. Hoje em dia, nós exportamos cerca de 50% da nossa produção para oito ou nove países, sendo os principais Brasil, Suíça e EUA. Moçambique também se tornou importante este ano.”
Além da exportação, o empresário também explicou que aposta muito nos vinhos de reserva, já que se aumentar o consumo destes, também aumenta a rentabilidade da empresa: “Eu tenho um vinho corrente, tenho um de reserva e tenho um de grande reserva. Se eu conseguir aumentar o consumo da grande reserva, fazer cada vez mais grande reserva e reserva, em detrimento dos vinhos mais baratos, eu estou a aumentar o meu preço médio e estou a aumentar a minha rentabilidade. Este é o caminho”.
Como atrair talento para a região?
De acordo com José Pedro Salema, a atração de pessoas já tem vindo a acontecer na região e prova disso são as mais de 200 unidades turísticas que foram instaladas em Reguengos, na última década. “Temos uma oferta turística hoje que não tínhamos há 10 anos para o segmento premium, com quartos que custam mais de 500 euros por noite. Há várias unidades que estão cheias o mês de agosto inteiro”, afirmou.
No entanto, o presidente do Conselho de Administração da EDIA admitiu que, ainda assim, é importante “explorar mais as alturas off season, encontrar nichos de mercado de pessoas que gostem de vir para o campo e para a natureza”. Para isso, José Pedro Salema acredita que é importante apresentar a região a mais pessoas e convidá-los a visitá-la.
"A EDIA, nos últimos anos, tem tido uma estratégia ativa de captação de investimento e com algum sucesso. No fundo, é importante estar em eventos com a banca, estar em missões internacionais. Já fizemos várias missões internacionais com o Novobanco, em que convidamos investidores e clientes associados a visitar e a apresentar.”
Por sua vez, João Pedro Grave realçou a agricultura e o papel dos empresários como fundamentais para atrair pessoas. “O que precisamos é de mais empresários, estimular os empresários, e aqui a parte da agricultura deu uma ajuda, com o Alqueva. O Alentejo ainda é essencialmente agrícola, portanto, o aspeto de dinamização da agricultura vai criar aqui, quer a jusante, quer a montante, uma série de empresas que giram à volta da agricultura, dos produtos, e das máquinas que pode dinamizar. Eu acho que a agricultura terá sempre um papel fundamental na dinamização desta região”, explicou. No entanto, o empresário referiu também o peso das burocracias como uma dificuldade para captar empresários.
"É preciso criar um ambiente amigável para a instalação de negócios, mas há burocracias desnecessárias nas várias intervenções que têm de se fazer, quer urbanas, quer rústicas, mas mais nas urbanas.”
Falta de acessibilidade, saúde e educação e o papel da banca
“O Alentejo tem desafios grandes e obviamente que o investimento público também tem um papel determinante para criar condições para que depois se possam atrair os empresários e as empresas para investir. O distrito de Portalegre é um excelente exemplo de que ficar a 40 quilómetros de uma autoestrada é a diferença entre ter capacidade de atrair investimento ou não ter capacidade“, referiu Luís Ribeiro.
A mesma opinião foi partilhada por José Pedro Salema, que alertou para a necessidade de se priorizar a criação de acessos com base noutros fatores que não só a densidade populacional: “Percebo que o país está cansado de ter investido em estradas, mas a Infraestruturas de Portugal olha para a manutenção do nosso parque de estradas com a população como indicador principal, e, sendo a nossa densidade populacional baixíssima, na matriz de decisão o Alentejo fica sempre em último”.
“Depois, há três condições que são fundamentais – ter habitação, ter saúde e ter educação. E, sem estas três características, ninguém vem“, continuou o administrador do Novobanco, que reforçou o papel da banca como primordial para ajudar as regiões a ultrapassarem os desafios.
"O papel da banca, primeiro, é estar perto, é ouvir, é conhecer. Porque nós adaptaremos tanto melhor os nossos modelos quanto melhor nós consigamos conhecer aquilo que são os modelos dos nossos clientes. E se nós tivermos esta cultura de proximidade e de simplificação, não há, na minha opinião, restrições ao investimento nem ao financiamento.”
Ainda assim, Luís Ribeiro alertou: “Hoje em dia, se estamos a falar das remunerações das poupanças, por exemplo, as taxas em Portugal praticadas à data de hoje, são superiores à dos nossos vizinhos do lado. Também não podemos comparar a estrutura de financiamento do crédito a habitação em Portugal com aquela que é a média dos países europeus porque, como sabemos, em Portugal existe uma percentagem de taxas indexadas muito superiores à dos outros países da Europa porque permitiu, durante 15 anos, as famílias portugueses pouparem 11 mil milhões de euros em juros e agora têm o reverso da medalha, que é uma aceleração dos custos”.
Ainda sobre o papel da banca, o responsável do Novobanco afirmou, ainda, que hoje os bancos portugueses estão bem capitalizados, “e ter um balanço robusto e ter liquidez é fundamental” para apoiar a economia portuguesa e apoiar as empresas. “Todos os bancos disputam ferozmente as boas operações de financiamento às empresas, em particular ao tecido de pequenas e médias empresas. Eu não estou muito preocupado com o custo de financiamento e acho que até é uma forma de termos investimentos que produzem mais valor para a economia, por ser mais exigente”, referiu.
Contudo, Luís Ribeiro também chamou a atenção para “as exigências que os reguladores têm feito“, que “têm de ser adaptadas às realidades e aos casos concretos“: “Numa região que tem indústria extrativa, que tem a agricultura como um peso muito importante, nós temos de ser capazes de traduzir isso de alguma forma nos nossos modelos, e isso é, sem dúvida, um desafio. Mas a verdade é que, nas principais culturas que estamos a ver no Alentejo – o olival, o amendoal e a vinha – o binómio risco-rentabilidade, num horizonte de cinco anos, é muito positivo”.
Este foi o oitavo debate fruto da parceria entre o ECO e o Novobanco.
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