Conferência ECO em Loures: Como valorizar empresas e pessoas?

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  • 10 Abril 2024

A mostra Loures Investe em Si recebeu, no último dia do evento, a Conferência ECO, que recebeu vários especialistas e empresários de Loures para discutirem a valorização de empresas e pessoas.

A 2º edição da mostra Loures Investe em Si, que decorreu de 4 a 6 de abril, teve como tema “Valorizar pessoas e empresas” e, nesse sentido, no último dia do evento, o ECO realizou uma conferência em Loures que visava esclarecer como fazer essa valorização.

Na abertura da conferência, Diogo Agostinho, COO do ECO, começou por dizer que Loures é um “bom exemplo do que devem ser as políticas públicas” pelo foco que o município tem nas pessoas: “Nós falamos muito de políticas públicas, de empresas, e este evento Loures Investe em Si é um desses exemplos bons. Nós passamos a vida a ler entrevistas, artigos de opinião, a ouvir as pessoas a falarem de que as Câmaras Municipais não falam com as empresas, com as universidades, mas aqui está um bom exemplo. Um exemplo que traz as empresas para perto da Câmara e, sobretudo, exemplos de empresas que falam entre si e que não se conheciam dentro do mesmo concelho“.

Por sua vez, ainda na abertura do evento, Nelson Batista, vereador da Câmara Municipal de Loures, com o pelouro da Economia e Inovação, afirmou que, independentemente das diferenças partidárias, o mais importante são as pessoas. “O meu único partido neste momento, aqui em Loures, são as pessoas, as empresas e os empresários. Por isso mesmo abracei este projeto e, no início, pensei nesta mostra Loures Investe em Si. Estamos na segunda edição, a primeira edição foi muito vocacionada para a parte empresarial, que teve sucesso porque também se criaram negócios”.

Nesse sentido, o vereador destacou, ainda, seis eixos nos quais definiu a divisão da Economia e Inovação do município, nomeadamente a Via Verde, “que tem estado a funcionar na sua plenitude para agilizar processos, de maneira a que eles sejam céleres, quer na captação do novo investimento para que novas empresas possam investir no nosso território, mas também para que as empresas que já cá estão possam se expandir e licenciar os seus negócios aqui com celeridade”; a retenção do talento; os pequenos almoços empresariais, que já resultaram no contacto a mais de mil empresas; o projeto Aldeia mais próxima, que colocou um técnico da Câmara Municipal de Loures em cada uma das freguesias do município; a homenagem às PME; e os protocolos assinados com algumas entidades, como a AIP, a APMEI e a ANI, para dinamizar e apoiar as empresas.

Como valorizar as empresas?

Depois da abertura, seguiu-se o primeiro debate, moderado por André Veríssimo, subdiretor do ECO, que tentou responder à pergunta “Como valorizar as empresas?”, e contou com a presença dos economistas Luís Mira Amaral, Sandro Mendonça e Rui Ferreira, e ainda de António Dinis, Director External Communications Hovione Farmacêutica.

“As empresas portuguesas têm terríveis custos de contexto. Vejam o caso do licenciamento, que cria a empresa na hora, mas para depois pôr a fábrica a trabalhar leva mais de um ano, com a burocracia e todas as dificuldades. Depois vejam o caso do IRC, que pode atingir uma taxa máxima de 31%, e com o IRC progressivo, que penaliza quando as empresas crescem. Isto deve ser caso ímpar no mundo”, começou por dizer Luís Mira Amaral.

O economista acrescentou que, dentro das empresas, deve-se apostar na transição energética, mas não só. “Muitas empresas podiam aproveitar para pôr painéis fotovoltaicos e para serem consumidores e produtores ao mesmo tempo. Há, ainda, as comunidades de energia renovável, em que se juntam empresas, umas produtoras, outras consumidoras, autarquias e associações empresariais, e fazem esta comunidade”.

Dentro da produtividade, Luís Mira Amaral referiu que Portugal “tem uma estrutura empresarial muito polarizada, há empresas de muito pequena dimensão e essas empresas não têm escala, isso condiciona logo“. E ainda acrescentou outras questões, como a digitalização e a IA, que considera que devia ser aproveitada para minimizar a falta de recursos humanos qualificados; a capitalização, que “devia incentivar movimentos de concentração e de fusão“; a retenção de talento; e o investimento direto estrangeiro.

Por sua vez, Sandro Mendonça afirmou que para as empresas se valorizarem, têm de se conhecer umas às outras, “mas o próprio município tem que as dar a conhecer”. “Nós percebemos que os licenciamentos são para a entrada e a expansão na atividade. Nós podemos também tratar dessas matérias pela positiva e não só pela negativa, não podemos ter falta de criatividade aí. Também creio que o problema de competitividade do país não é o IRC porque são 10% das empresas que pagam 90% do IRC e, sobretudo, não são as PME que caracterizam territórios como este“, disse.

“Quando olhamos para os custos fixos operacionais, o que vemos é que boa parte dos custos das empresas são custos que têm com outras empresas, sobretudo ao nível dos serviços de rede, com a eletricidade, com comunicações, etc, portanto, muitas vezes não é o Estado que tem de sair da frente, mas sim as grandes empresas que, muitas vezes, são oligopólios. O que é que o município pode fazer? Por exemplo, cobrar aos reguladores. Nós temos de ter uma atitude estratégica em relação à maneira como podemos comprimir aquilo que são as ineficiências do sistema e em Loures queremos saber para onde é que o município pode exportar mais porque temos pela frente tempos geopolíticos de muito risco e nós percebemos que a exportação tem de ser olhada de maneira seletiva para amortecermos volatilidades que aí virão. Por isso, é importante diversificar para fora da Europa. Nós temos de perceber que a Europa, neste momento, pode-nos puxar para baixo, que há outras geografias que nos podem erguer“, acrescentou.

Nesse sentido, Rui Ferreira deixou claro que “o verdadeiro motor da inovação são as PME“: “As startups podem ser um benchmarket e esta ligação entre os dois mundos é que deve ser dinamizada. Podem encontrar nas startups excelentes exemplos de tecnologias que podem ser incorporadas. Mas há aqui muito foco na nossa cultura de que querer que o concorrente não tenha sucesso, ao invés de se focar no próprio sucesso ou os dois terem sucesso. Por isso, era bom aproximar os dois mundos – PME e startups. Gostaria de ver mais este exemplo aprimorado. O Estado tem esse papel, de facilitar, e estamos num município muito propício para fazer isto acontecer”.

Um exemplo de uma parceria bem-sucedida entre uma empresa e uma startup foi apresentada por António Dinis, Director External Communications Hovione Farmacêutica. “Uma das coisas que a Hovione faz é a secagem por otimização de partículas e um dos desafios é separar o pó do ar. E há uma empresa, que foi fundada através da Faculdade de Engenharia do Porto, que desenvolveu equipamentos, que se chamam ciclone, que fazem esta separação. Acontece que estes ciclones de uma empresa chamada Advanced Cyclone Systems são extraordinariamente eficientes porque o cientista que os desenvolveu criou modelos matemáticos que permitem otimizar a configuração do ciclone para as aplicações. Então, desde 2008 que a Hovione instala ciclones de Advanced Cyclone Systems em todas as suas unidades de produção e estamos a falar de 15 equipamentos de larga escala em todo o mundo“, explicou.

Como valorizar as pessoas?

A segunda parte da conferência, mais focada em perceber como valorizar as pessoas, contou com a presença de Afonso Carvalho, Presidente da APESPE RH, Carlos Sezões, Managing Partner da Darefy, e Ana Isabel Silva, gestora de Recursos Humanos no Grupo Luís Simões.

“A compensação financeira é uma base seguramente importante, mas hoje em dia as pessoas são cativadas por muito mais do que isso. Estão cativadas pela sua própria missão e visão e o significado e propósito daquilo que fazem. Não é trabalhar apenas para trabalhar, é trabalhar no sentido de perceber o impacto que o trabalho vai ter na comunidade e nas equipas. Tem a ver com a cultura e o ambiente de trabalho que temos nas organizações. Passa muito pelo modelo de liderança, comunicação, cooperação. Tem muito a ver também com a experiência de equilíbrio, flexibilidade e a qualidade de vida. E são estes grandes ingredientes que permitem uma organização atrair talento e retê-lo e isso diferencia as empresas que conseguem ser competitivas a fazê-lo daquelas que não conseguem reter esse talento de forma tão eficiente“, referiu Carlos Sezões.

Nesse sentido, Afonso Carvalho explicou que o que os empregadores procuram é, acima de tudo, o compromisso do trabalhador com a empresa: “Encontrar as pessoas certas para o lugar certo hoje em dia é cada vez mais difícil porque não existe quantidade suficiente e porque os que existem não querem trabalhar em determinados setores, em alguns casos com muita legitimidade, até porque alguns salários que se pagam são manifestamente baixos, e isto leva-nos a outros problemas relacionados com o crescimento económico. Se olharmos para os últimos 10 anos, a maior parte das empresas não cresce e produz pouca ou a mesma riqueza e isto tem a ver com o ciclo de investimento das próprias empresas”.

Para combater isto, o managing partner da Darefy sublinhou a importância de uma estratégia de sucesso para conseguir a atração e retenção de talento, que passa por “pagar bem, ter uma flexibilidade que é cada vez mais necessária, ter boas lideranças para permitirem o equilíbrio entre o trabalho e a família“.

A mesma opinião foi partilhada por Ana Isabel Silva, que deu o exemplo do Grupo Luís Simões. “O que nós fazemos e procuramos cada vez mais é encontrar nos colaboradores um parceiro. Fazê-los sentir parceiros, não só da Luís Simões, da própria empresa e do próprio negócio, sentirem este tal equilíbrio entre a sua vida profissional e pessoal. E, ainda, promover melhores líderes porque eles são o principal motor para que as pessoas se sintam motivadas, acompanhadas, e estejam dispostas a estabelecer essa parceria que as empresas precisam porque só assim é que conseguiremos aumentar as nossas produtividades, manter os bons negócios e concretizar as nossas ambições”, admitiu.

No encerramento da mostra, António Costa, diretor do jornal ECO, revelou a preocupação que o ECO tem “na prioridade ao trabalho das Câmaras Municipais no desenvolvimento económico e social” e ainda acrescentou a importância que é fazer acontecer este evento num momento de transição para um novo governo: “Eu confesso-me um municipalista e descentralizador, não exatamente um regionalista, mas seguramente com um papel muito importante das Câmaras Municipais na atração de investimento, na capacitação de empresas locais e de atração de investimento externo. Loures é um bom exemplo e eu creio que esta mostra surge num momento particular, que é termos um novo governo, e termos um novo governo é sempre uma oportunidade para reabrir os dossiers que estavam encerrados“.

“Cito dois particularmente importantes para as Câmaras Municipais, mas também para a atividade económica regional: a Lei das Finanças Locais, para a qual se esperava, num contexto político anterior, que 2024 traria uma revisão. E outro tema que me parece muito importante, até pela escala, que é o reforço de competências das entidades intermunicipais. Eu acho que é um instrumento muito importante para podermos dar outra dimensão, outra capacidade de atração de investimento local e de uma forma muito específica às necessidades locais e de afirmação local“, concluiu.

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