Linha Rosa do Metro do Porto já vai com atraso de 700 dias
Grupo de trabalho, criado por deliberação da AM do Porto, aponta falhas na gestão das obras da Metro do Porto, o não cumprimento dos prazos e a não compensação de comerciantes lesados.
O “constante deslizamento dos prazos” — que chegaram a atingir “os 700 dias na Linha Rosa à data de 30 de abril” –, a falta de informação sobre o decurso das obras e o impacto económico negativo na cidade e na vida dos munícipes, com consequente fecho de alguns negócios sem receberem qualquer tipo de compensação financeira, foram as principais falhas apontadas à Metro do Porto pelo Grupo de Trabalho para Acompanhamento de Investimentos de Transporte Público às empreitadas em curso por toda a cidade.
As obras decorrem em várias frentes e a cidade transformou-se num estaleiro “a céu aberto”, principalmente no caso da futura linha Rosa (São Bento – Casa da Música) e do metrobus (Casa da Música – Praça do Império), apontou o presidente da Assembleia Municipal (AM) do Porto, Sebastião Feyo de Azevedo, durante uma conferência de imprensa esta segunda-feira, na Câmara do Porto.
Este grupo de trabalho, criado a 19 de fevereiro por deliberação da AM, manifestou um conjunto de preocupações em relação às falhas na gestão das empreitadas, ao não cumprimento dos prazos e à desinformação para com os cidadãos. Lamentou ainda o facto de a resposta da Metro do Porto aos dois primeiros relatórios, que enviou, ter chegado apenas esta segunda-feira, precisamente no dia da conferência de imprensa.
Ainda assim, a resposta da transportadora não “acalmou” as preocupações deste grupo de trabalho — constituído pelo presidente da AM e pelos líderes dos partidos políticos com assento neste órgão municipal –, principalmente em relação à compensação financeira aos comerciantes prejudicados com as empreitadas.
As obras têm avançado com deslizes dos prazos com prejuízo para a cidade, dos munícipes e da atividade económica.
O grupo questionou a Metro do Porto acerca das negociações que “foram encetadas com os comerciantes afetados pelas obras e se as mesmas foram revistas, considerando os atrasos da empreitada”. O ECO/Local Online sabe que transportadora respondeu que “até à data não foram realizadas compensações a comerciantes visto que não existiram constrangimentos que o justificasse“. Uma situação que o grupo de trabalho contesta, uma vez que tem conhecimento de pelo menos um caso de um comerciante que fechou as portas por causa das empreitadas.
Metrobus pronto até agosto
Durante a conferência de imprensa, o presidente da AM do Porto referiu que “as obras têm avançado com deslizes dos prazos com prejuízo para a cidade, dos munícipes e da atividade económica”. Aliás, detalhou, está “em questão o modelo de gestão e o contacto com a população”, adiantando: “Não acreditamos que o metrobus vai estar pronto em julho” como a empresa já anunciou publicamente. O ECO/Local Online sabe que, no mesmo documento que o grupo recebeu esta segunda-feira, a Metro do Porto avançou com a data limite de 23 de agosto deste ano, incluindo 30 dias para ensaios, relativamente ao prazo contratual da empreitada de conceção-construção.
Rui Sá, da CDU, avançou, por sua vez, que “há duas frentes de obra da Linha Rosa que têm 700 dias de atraso a 30 de abril”, o que leva a crer que, “no final da obra, o atraso será ainda maior”. “Essa é uma das nossas maiores preocupações”, reiterou. E as críticas sobem de tom: “Foram tomadas algumas opções estratégicas à revelia do município, por exemplo a forma como vai ser feita na rotunda o metrobus e a inversão de marcha dos autocarros.”
Há duas frentes de obra da Linha Rosa que têm 700 dias de atraso a 30 de abril.
O grupo de trabalho chega a sugerir à Metro do Porto a colocação de outdoors na cidade para melhor informar os cidadãos e estes poderem acompanhar o decurso da empreitada. Num segundo relatório enviado à Metro do Porto lê-se: “A informação dos cidadãos é absolutamente imprescindível em obras com o impacto social e económico desta magnitude, causadoras de enormes transtornos e passíveis de incompreensão, quando não devidamente explicadas.”
Para o líder do Grupo Municipal Rui Moreira: Aqui Há Porto, Raul Almeida, a Metro do Porto “está a falhar flagrantemente os prazos e a informação à população”, apontando ainda a “incapacidade de planeamento”. Aliás, destacou, “há um deslizar permanente de prazos em prejuízo das pessoas e da cidade, e um incompreensível desprezo na vida das pessoas na forma como é comunicado este processo de obras no Porto”. Advertiu, contudo, que este grupo de trabalho não está contra a política de transportes na cidade, mas sim, “descontente com a gestão das obras, e o impacto na vida dos munícipes e na cidade do Porto”.
“O que vai ser uma mais-valia na vida da cidade que não seja um processo violento de negligência nas pessoas e na vida das mesmas”, assinalou Raul Almeida, apontando ainda as “repetidas atitudes [da Metro do Porto] que depois levam à falta de credibilidade em relação à obra”.
Está a falhar flagrantemente os prazos e a informação à população.
Igualmente o líder do grupo municipal do PS, Agostinho Sousa Pinto, manifestou-se preocupado em relação “aos atrasos e ao impacto [das empreitadas] na economia e na cidade”, acrescentando ainda a “sensação de insegurança em relação às obras”.
Também o líder do grupo municipal do PSD, Miguel Côrte-Real, contestou o andamento das obras, sublinhando que “esta sessão de hoje é um grito de indignação do metro do Porto que não ouve os portuenses“.
As derrapagens dos prazos e os constrangimentos na mobilidade na cidade também têm sido motivo de contestação da parte do autarca Rui Moreira. Numa carta enviada a 4 de janeiro ao presidente da Metro do Porto, Tiago Braga, o autarca independente avisou que “será impossível confiar num plano de obra apresentado pela Metro do Porto, cuja imprevisibilidade é uma constante” e “é inevitável que se perca toda e qualquer confiança nos cronogramas apresentados, nas soluções construtivas propostas, assim como nas promessas de entrega do espaço público nas datas apresentadas”.
Na carta, a que o ECO/Local Online teve acesso, o autarca portuense lamenta que “nada do que foi planeado e apresentado (…) está a ser cumprido” pela transportadora. As críticas sobem de tom quando o edil portuense assinala “alterações ao que estava anteriormente projetado que vão agravando, ainda mais, as condições de mobilidade e os constrangimentos ao normal funcionamento da cidade“. É o caso das obras da futura linha Rosa (São Bento – Casa da Música) e às do metrobus (Casa da Música – Praça do Império).
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