Ponte de Sor disputa produção do primeiro avião híbrido de passageiros
Aeródromo de Ponte de Sor é uma das hipóteses que está a ser considerada pela sueca Heart Aerospace. Agendas mobilizadoras do PRR deverão criar mais 200 postos de trabalho no cluster aeronáutico.
Ponte de Sor quer fazer “aterrar” no aeródromo do concelho a produção do primeiro avião híbrido de passageiros do mundo, desenvolvido pela sueca Heart Aerospace. A empresa confirma que o município alentejano é uma das localizações em estudo. Investimento daria ainda maior projeção ao cluster aeronáutico, que passou de 30 postos de trabalho para 447 numa década.
O município foi convidado para a apresentação do protótipo à escala real da aeronave na Suécia, a 12 de setembro, revela ao ECO o vice-presidente da autarquia, Rogério Alves. Na delegação portuguesa foi também um representante da AICEP. A empresa confirma que o concelho do interior alentejano é uma localização possível para a instalação da fábrica, embora não a única.
“A Heart Aerospace está a explorar alternativas para a produção em vários países da União Europeia e América do Norte. Ponte de Sor é uma das partes envolvidas neste trabalho exploratório“, afirmou ao ECO fonte da empresa.
Já com 145 milhões de dólares levantados para financiar o projeto, a Heart Aerospace está a desenvolver em Gotemburgo um avião híbrido para voos regionais com capacidade para 30 passageiros, equipado com dois motores elétricos e dois motores a combustão. A autonomia no modo apenas elétrico é de 200 quilómetros, subindo para 800 no modo híbrido.
A aeronave sueca deverá ser a primeira do género a ser certificada pelas autoridades de aviação e tem já encomendas de várias companhias aéreas de diferentes continentes.
Não são conhecidos valores de investimento nem o calendário para a escolha da localização da fábrica ou arranque da produção. A Heart Aerospace adianta apenas que “o objetivo é que o ES-30 entre ao serviço no final da década, pelo que terá de ser tomada uma decisão num futuro não muito distante”. “Inicialmente, haverá apenas uma fábrica, mas com o tempo vemos a necessidade de ter uma na Europa e outra nos EUA”, acrescenta.
“Estamos muito entusiasmados por poder ser o sítio do mundo onde se vai produzir o que, se calhar, será o futuro da aviação, que terá de ser descarbonizada”. “Vamos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance, enquanto município do interior do país, e com o apoio das entidades governamentais, para receber este grande investimento. Seria um marco para Portugal”, afirma Rogério Alves.
Vamos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance, enquanto município do interior do país, e com o apoio das entidades governamentais, para receber este grande investimento. Seria um marco para Portugal.
O vice-presidente da Câmara Municipal de Ponte de Sor conta ao ECO que descobriu a Heart Aerospace através da Sevenair, que tem uma escola de pilotos no aeródromo e faz ligações entre Bragança‚ Vila Real‚ Viseu‚ Cascais e Portimão, tendo mostrado já interesse na compra da aeronave híbrida.
O Portugal Air Summit, em Ponte de Sor, que inicia esta quinta-feira uma nova edição, foi decisivo para a aproximação à Heart Aerospace. A empresa sueca esteve no evento em 2022 e foi aí que começou a equacionar o concelho do Alto Alentejo. “Quando conheceram a potencialidade do aeródromo e as infraestruturas que temos ficaram agradavelmente surpreendidos. Fatores como o clima favorável face ao da Suécia, espaço aéreo não controlado no aeródromo, orografia plana, uma pista com grande capacidade e aproximação por instrumentos. Com todos estes fatores começaram a equacionar Ponte de Sor para fazer os testes de voo e produção das primeiras aeronaves”, relata Rogério Alves.
No novo Plano Diretor Municipal está já reservada a possibilidade de expansão do aeródromo para poder receber novas infraestruturas. O autarca estima que o investimento levaria à criação de “centenas de postos de trabalho”. José Fragnan, diretor de produção da Heart Aerospace, será um dos oradores da Portugal Air Summit no dia 11.
Três agendas mobilizadoras a descolar
Na rota de Ponte de Sor estão também três agendas mobilizadoras do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). A maior, com um investimento total previsto de 123 milhões de euros, é a Aero.Next Portugal, que inclui a produção do primeiro avião português, o LUS 222, um bimotor com um alcance de 2.000 quilómetros e capacidade para 2 toneladas de carga, destinado quer a uso militar quer civil. Pode também ser equipado para transporte de 19 passageiros.
Liderado pelo CEiiA, o projeto está a ser desenvolvido no Parque de Ciência e Tecnologia de Évora por cerca de 100 engenheiros. Rogério Alves explica que este tipo de avião era produzido por grandes fabricantes mas foi descontinuado, abrindo uma oportunidade no mercado. “É o chamado todo-o-terreno dos ares, porque aterra em pistas mesmo não pavimentadas e em distâncias curtas. É ideal para países menos desenvolvidos ou que têm distâncias longas e fracas acessibilidades rodoviárias, por exemplo, em África ou na América do Sul”, diz.
A linha de montagem será localizada no aeródromo de Ponte de Sor. “O projeto da fábrica está praticamente pronto. Propõem-se a entregar na Câmara dentro de meses e o espaço no aeródromo já está reservado“, revela Rogério Alves.
Outro produto que faz parte da agenda mobilizadora é um drone de grandes dimensões, com 12 metros de envergadura de asas, que será produzido pela Tekever, empresa que já está no aeródromo. O autarca afirma que a apresentação do protótipo está para breve. “Quando começar a ser produzido será necessária uma nova linha, muito mais gente, quase uma nova fábrica”, antecipa, contabilizando a criação de 160 postos de trabalho para apenas um turno.
Pelo concelho de Ponte de Sor passam ainda duas agendas da área espacial. A Neuraspace, uma empresa de monitorização de lixo espacial com recurso a inteligência artificial sedeada em Coimbra, pretende instalar no aeródromo um radar de grandes dimensões, “que ocupa quase o tamanho de um campo de futebol”. Segundo Rogério Alves, a Neuraspace está ainda à procura de um fabricante para o radar.
Por fim, a New Space, um consórcio de 39 entidades criado para o desenvolvimento, produção e lançamento de satélites, conta com a participação da Tekever para o teste dos componentes.
Há mais novidades no aeródromo. Perto de arrancar está a manutenção de aeronaves de grande dimensão. A AEROMEC, do grupo Omni, ocupou o novo hangar de 8.000 metros e, segundo o autarca, “propõe-se a criar, em média, 50 postos de trabalho”. Em fase final está também um novo investimento da AS Breathing para a instalação de uma fábrica de capacetes para aviação.
Rogério Alves antecipa que no final do ano estejam a trabalhar no aeródromo 550 trabalhadores, quase mais 100 do que os atuais 447. “Com as agendas mobilizadoras, serão mais 200 em dois anos. É um crescimento enorme que se perspetiva. Em 2013, quando se estabeleceu a primeira escola de pilotos, eram 20 ou 30 trabalhadores no aeródromo”, conta.
Quando a empresa americana de componentes automóveis Delphi fechou as portas em 2009, o concelho tinha uma taxa de desemprego de 26%. Agora é de apenas 5%.
O crescimento do cluster aeronáutico de Ponte de Sor está a trazer um nova dinâmica demográfica ao concelho. O autarca diz que tem sido necessário abrir mais turmas em creches, no pré-escolar e primeiro ciclo para fazer face à procura e o preço da habitação está a subir, obrigando a Câmara a disponibilizar terrenos para nova construção e apostar na reabilitação.
Olhando ainda mais para o futuro, o vice-presidente da Câmara Municipal espera que o aeródromo beneficie com a construção do futuro aeroporto no Campo de Tiro de Alcochete, seja como local alternativo para manutenção de aeronaves ou para parqueamento acessório.
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