Arte que se saboreia (segundo a segundo)
Prazeres

Arte que se saboreia (segundo a segundo)

Rita Ibérico Nogueira,

A Jaeger-LeCoultre junta-se ao chocolate sculptor Mathieu Davoine numa colaboração artística que celebra o tempo, a natureza e o savoir-faire suíço no âmbito do programa Made of Makers.

O tempo derrete na boca. Literalmente. A mais recente colaboração artística da Jaeger-LeCoultre — apresentada na semana passada durante a Watches & Wonders 2025 — convida-nos a saborear o tempo. Não em segundos, mas em intensos pedaços de chocolate esculpido, onde cada curva é uma ode ao savoir-faire. No universo relojoeiro o tempo também é feito de emoção, criatividade e uma pergunta que desafia séculos de convenções: poderá a relojoaria ser considerada uma forma de arte?

Foi com essa inquietação que nasceu o programa Made of Makers, há quatro anos. Uma iniciativa que procura criar pontes entre a relojoaria e outras expressões artísticas, explorando os seus pontos de contacto e redefinindo a noção de clássico. “Tudo começou com uma discussão em que formulámos uma pergunta: a relojoaria pode ser considerada uma arte?”, relembra a equipa da maison suíça. Com base na definição de arte como “expressão da criatividade humana, evocadora de emoção e sem utilidade funcional”, a resposta tornou-se evidente: sim. Afinal, desde a crise do quartzo, o relógio deixou de ser apenas um instrumento utilitário e passou a ser objeto de contemplação, de desejo — uma forma de expressão.

E se a arte desafia convenções, também o faz o conceito de “clássico”. Para a Jaeger-LeCoultre, ser clássico não é sinónimo de rigidez ou de tradição estagnada. “Clássico é algo em perpétuo movimento. A maioria das maisons que hoje consideramos clássicas foram, em tempos, profundamente disruptivas. Coco Chanel é o exemplo perfeito: nos anos 20 era revolucionária, hoje é um ícone do clássico.” O programa Made of Makers parte precisamente desta premissa: explorar novos territórios criativos que, hoje ousados, poderão ser os clássicos de amanhã.

Pólo, pólen e praliné
Este ano, o território eleito foi o do chocolate, com a colaboração do talentoso chocolatier francês Mathieu Davoine. A escolha não foi aleatória. “Ano após ano, exploramos diferentes universos da arte clássica. Este ano, queríamos algo inesperado, mas profundamente sensorial.” A seleção de Davoine seguiu três critérios: elevada competência sem fama excessiva, percurso não académico e uma personalidade alinhada com os valores da maison — autenticidade, humildade, paixão pelo trabalho manual.

Davoine recebeu o desafio: reinventar a experiência de degustação de chocolate com ingredientes do Vale do Joux e inspiração no mundo do pólo — o mesmo que motivou a criação do lendário modelo Reverso da Jaeger-LeCoultre, concebido nos anos 30 para resistir aos impactos daquele desporto. O resultado? Quatro criações escultóricas, efémeras, provocadoras, que desafiam tanto o paladar como a perceção visual.

Harmonie de Chocolat é o início da viagem de sabores (em que a Fora de Série teve o privilégio de embarcar no café 1931, no centro do stand da Jaeger-LeCoultre na Watches & Wonders), criada por Mathieu Davoine no âmbito desta parceria: uma sinfonia de texturas com mousse de chocolate negro, pérolas crocantes de cacau e ganache aveludada. Uma ode à riqueza sensorial do chocolate em todas as suas formas. A criação seguinte, Garou des Bois, apresenta-se em forma de bola de pólo, com uma combinação aparentemente clássica de baunilha e chocolate, mas que esconde cogumelos na sua composição — um convite à surpresa. Já Éclat de Caviar estimula a curiosidade, evocando a graxa das botas dos jogadores de pólo, numa pequena caixa onde se escondem micro-esferas de chocolate com tapenade de azeitona. O azeite no chocolate já não é novidade, mas a tapenade? Uma provocação deliciosa. Por fim, Douceur du Cavalier, inspirado no clássico Petit Écolier francês, mistura chocolate com pólen, numa evocação nostálgica à infância e aos sabores reconfortantes da memória do mestre chocolatier.

“O chocolate assume infinitas formas, desde a textura crocante à suavidade aveludada. Cada criação é um convite a uma viagem sensorial. No entanto, uma questão permanece. Existe realmente um limite para a criatividade? Quando a Jaeger-LeCoultre me pediu para reinventar a experiência de degustação de chocolate, vi uma oportunidade única de libertar a minha imaginação e ultrapassar os limites do sabor. Explorar a ligação entre o domínio técnico e a liberdade de expressão. Estar na intersecção do artesanato e da arte. Arte é desafiar expectativas. Azeitona, cogumelo, pólen. Imagino misturas inesperadas, combinações e sabores contrastantes para criar algo totalmente único. Praliné, trufa, fudge, desde um crocante crocante a um suave veludo. A inovação vai para além do sabor. O meu trabalho é também um jogo de texturas e contrastes para criar sensações em camadas. Microbolas, esculturas, trompe l’oeil, criando surpresas visuais através de ilusões de ótica”, conta Davoine.

Cada peça é mais do que um bombom: é uma escultura comestível, uma ilusão de ótica, uma experiência sensorial que teve a sua estreia na Watches & Wonders, mas que acompanhará os eventos Reverso da marca ao longo de todo este ano, desde pop-ups a ativações nas lojas, levando esta viagem de sabor e arte ao mundo.

“O chocolate tem algo de efémero e sensual. É uma matéria-prima viva, que reage ao toque, à temperatura, ao tempo. Tal como os relógios, exige um domínio técnico absoluto e um respeito profundo pela tradição. Para mim, o maior desafio criativo foi ousar”, confessa Mathieu Davoine. Ousadia, afinal, é a essência de toda a arte que perdura — e talvez, daqui a algumas décadas, estas esculturas efémeras de chocolate sejam lembradas como os clássicos de um tempo em que relojoaria e criatividade caminhavam lado a lado.

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