Rendas aumentaram até 76% em cinco anos. Veja aqui a sua região

Em 14 dos 24 grandes municípios, salário mínimo não paga 80 m2. Litoral alentejano e Madeira tiveram os maiores aumentos de renda desde 2020. Em Lisboa, cidade mais cara, taxa de esforço baixou.

O preço do arrendamento em Portugal cresceu 10% em apenas um ano, mostra a mediana do Instituto Nacional de Estatística (INE) relativa aos novos contratos celebrados no primeiro trimestre, face ao período homólogo de 2024. Sabendo-se que este ano não foi uma exceção, mas sim uma reconfirmação da escalada imparável dos últimos anos, o ECO/Local Online recua aos valores do metro quadrado no primeiro trimestre de 2020, momento da eclosão da COVID-19 e do primeiro confinamento em Portugal, e analisa a evolução dos 24 grandes municípios portugueses e das 30 sub-regiões contempladas nos dados do INE.

Um primeiro olhar revela uma realidade penalizadora para os cidadãos: a mediana das rendas escalou acima do crescimento dos salários. Dados do Governo mostram que desde 2020 o salário médio cresceu de 1.305 para 1.602 euros, uma subida de 23%. Já no crescimento das rendas, os municípios com menores evoluções da renda por metro quadrado foram Matosinhos (31,6%) e Lisboa (32,2%).

Estendendo a comparação a todo o país, por sub-região – conforme a divisão das NUT (Nomenclatura das Unidades Territoriais para Fins Estatísticos) –, a situação é igualmente castigadora das carteiras dos cidadãos, especialmente na Madeira, onde as rendas dispararam quase o quádruplo do crescimento do salário médio.

Em praticamente todo o país e em quase todos os 24 grandes municípios – aqueles com mais de 100 mil habitantes –, a mediana das rendas aumentou não só no valor absoluto, mas também na relação entre a renda e o salário mínimo nacional (SMN).

Já nos municípios do Oeste, Oeste e Vale do Tejo e Médio Tejo, a mediana do valor por metro quadrado mais que triplicou. Apenas em cinco das 30 sub-regiões não houve, pelo menos, um aumento para mais do dobro da subida do salário médio.

Para obter um retrato mais fidedigno, considerando a própria evolução da economia, o ECO/Local Online levou em conta a evolução do salário mínimo nacional (SMN), que abrange um quarto da população empregada.

Em praticamente todo o país e em quase todos os 24 grandes municípios — aqueles com mais de 100 mil habitantes –, a mediana das rendas aumentou não só no valor absoluto, mas também na relação entre a renda e o salário mínimo nacional (SMN). Dito de outra forma: se é verdade que a renda está mais cara, também é que os salários cresceram, o que ameniza a subida. Contudo, como se verifica nestas contas do ECO/Local Online, o mercado de arrendamento aqueceu a uma temperatura que a economia não conseguiu acompanhar, afastando ainda mais as famílias de um teto.

 

Rendas e o SMN

Assumindo, para efeito deste cálculo, a taxa de esforço máxima exigida pela medida macroprudencial do Banco de Portugal para um crédito habitação — 50% do salário líquido do agregado —, e que um casal com dois SMN leva para casa 1.549 euros líquidos (1.740 euros brutos, aos quais há que subtrair a taxa social única paga pelos trabalhadores), está-lhe “vedado” o arrendamento por mais de 775 euros. Se a análise fosse pela designada medida de equilíbrio de finanças pessoais, que aponta para um máximo de 33% do rendimento líquido, encontrar uma casa nas grandes cidades de Portugal tornava-se ainda mais na célebre busca da agulha num palheiro.

Assumindo que o casal tem filhos e necessita, no mínimo, de um T2 — tipologia cuja área média é, segundo a Remax, 80 metros quadrados –, os 775 euros referentes a 50% do rendimento líquido ficam “curtos” em mais de metade dos 24 maiores municípios, mais cinco do que em 2020, quando o SMN líquido estava nos 635 euros.

Esta família não conseguiria encontrar casa nos concelhos de Funchal, Loures e Seixal, Sintra, Vila Nova de Gaia, Vila Franca de Xira, Lisboa, Cascais, Oeiras, Porto, Amadora, Almada, Odivelas e Matosinhos.

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Quando a análise é feita a todas as regiões do país, que já contemplam os 308 municípios, os 80 m2 superam a capacidade financeira dos que, com estes rendimentos, procuram casa na Grande Lisboa, na Madeira, na Península de Setúbal e no Algarve. Há cinco anos, apenas a área da capital estava “interdita” ao casal desta simulação.

Naturalmente, o raciocínio torna-se mais penalizador à medida que a casa cresce, visto que a base deste cálculo é o preço por metro quadrado revelado pelo INE, ao passo que o salário não “estica”.

Assim, se partirmos para uma casa com três quartos e 100 m2 de área útil, o casal que aplique metade dos vencimentos mensais na renda (os referidos 775 euros) só conseguirá encontrar solução em Braga, Leiria, Santa Maria da Feira, Barcelos, Guimarães e Famalicão, um quarto dos 24 maiores municípios.

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Por regiões, o destaque vai para o encarecimento da habitação no litoral alentejano (Alcácer, Grândola, Odemira, Santiago do Cacém e Sines), onde pontuam o aumento da atividade agrícola, mais a sul, e a construção e exploração de grandes ativos turísticos por toda a linha da costa. Se em 2020, os 565 euros líquidos do salário mínimo permitiam à família arrendar um T3 e ainda guardar 99 euros para outras despesas, neste momento são necessários um SMN e mais 31 euros.

Sem surpresa, a Grande Lisboa continua a ser a região do país onde é mais caro arrendar casa, mas a percentagem face ao SMN até baixou. Oeiras e Matosinhos replicam este abrandamento relativo, mas também ali o preço real está longe de ficar acessível. Pelo contrário, na Madeira, em 2020, os novos contratos de um T2 com 80 m2 faziam-se por 84% do SMN, e agora são necessários 108%.

Numa ótica de desafogo financeiro, só Trás-os-Montes permite ter um T3 de 100 m2 por menos de metade do valor líquido do salário mínimo, segundo os valores da mediana dos novos contratos de arrendamento fornecidos pelo INE.

Entre os maiores municípios, só Famalicão, Guimarães, Barcelos, Santa Maria da Feira, Leiria e Braga (única capital de distrito deste lote de 24 concelhos) oferecem casas abaixo do valor líquido do salário mínimo.

Subidas até 76%

Num cenário em que não se considere o aumento do SMN — para uma família que não teve aumento de rendimentos entre 2020 e 2025, ou, pior que isso, os viu cair –, a Região Autónoma da Madeira e o litoral alentejano mostram os piores cenários: em ambas, há um disparo de mais de 70% no valor do metro quadrado. No caso da Madeira, chega aos 76,6%, passando de 5,91 euros para 10,44 euros por metro quadrado. No global das regiões do país, só a Grande Lisboa apresenta um valor superior, enquanto em 2020 a Madeira era a quinta região com rendas mais elevadas.

Quem trabalhe na zona de Lisboa não terá pela frente soluções óbvias. O caso mais patente de encarecimento da habitação em Portugal verifica-se a escassos quilómetros de Tejo para sul. A Oeste e no Vale do Tejo, a renda subiu mais de 60% nestes cinco anos.

Dos 24 grandes municípios do país, o Seixal foi aquele onde a renda mais cara ficou nestes cinco anos — 69,4% —, superando Vila Franca de Xira, Sintra, Amadora e Setúbal, e ficando a escassos cêntimos por metro quadrado de igualar os preços da Amadora.

A Norte, apesar do aumento de preços, quem necessita de habitar próximo do Porto viu os preços agravarem de forma menos intensa que nos arredores de Lisboa. Aconteceu assim na região de Aveiro (subida de 48,5%) e na do Cávado (+46%), que inclui Esposende, Barcelos e Braga, por exemplo.

Olhando o exemplo dos nove municípios de Trás-os-Montes (Alfândega da Fé, Mirandela e Bragança, por exemplo), onde cada metro quadrado de uma casa tem uma mediana de 3,67 euros, um salário mínimo paga uma casa de 200 metros quadrados. No Tâmega e Sousa (Amarante, Baião, Penafiel, Paços de Ferreira, entre um total de onze) é praticamente igual.

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