Municípios abrem cordões à bolsa para apoiar Carnaval em tempos de crise
De Torres Vedras a Estarreja até Loulé as autarquias abrem os cordões à bolsa para o Carnaval sair às ruas em tempos de crise, mesmo com impacto nas contas municipais.
Nem as festividades do Carnaval ficam imunes ao impacto da inflação e da guerra na Ucrânia com o orçamento das festividades a disparar nalguns municípios do país. Como é o caso do centenário Carnaval de Torres Vedras, que este ano tem “o maior orçamento de sempre” e em parte por causa do “aumento dos custos de bens e serviços resultante da atual conjuntura económica”, justifica ao ECO a autarca Laura Rodrigues.
O ECO foi saber junto de algumas autarquias qual o impacto desta festividade nas contas municipais. Os presidentes de câmara são unânimes em apontar o dedo à difícil conjuntura económica com aumento dos custos das matérias-primas a reboque da inflação e da invasão da Ucrânia pela Rússia. Também o presidente da Câmara Municipal de Estarreja, Diamantino Sabina, aponta “os tempos de incerteza em que se verifica uma exponencial subida de alguns serviços e bens, imprescindíveis à organização do Carnaval”. Mesmo assim, o autarca de Estarreja, eleito pela Coligação PSD/CDS-PP “Sempre Mais”, garante que “o investimento se mantém igual ao último Carnaval de 2020”.
O facto de ser o maior orçamento de sempre prende-se com o aumento dos custos de bens e serviços, que resulta da atual conjuntura económica.
A comemoração do Entrudo é de tal forma importante para as localidades que muitos dos autarcas até inscreveram, em orçamento municipal de 2023, uma verba destinada a apoiar o evento. Aconteceu em Loulé e em Estarreja, onde as verbas atribuídas ao Carnaval assumem um peso nas contas municipais maior do que em Terras Vedras, com 400 mil euros e 375 mil euros de investimento direto, respetivamente.
Mas, no caso de Estarreja, o orçamento da festividade carnavalesca chega a atingir os 500 mil euros, “se for tido em conta o investimento dos grupos e escolas de samba, para além dos apoios do município”, calcula o autarca Diamantino Sabina.
Já em Torres Vedras são 100 mil euros a saírem dos cofres da autarquia socialista para apoiar as festividades daquele que é conhecido como património cultural imaterial de Portugal. E cujo orçamento total — o maior de sempre — ronda os 930 mil euros este ano, avança ao Eco a autarca deste município da região do Oeste, Laura Rodrigues.
“O facto de ser o maior orçamento de sempre prende-se com o aumento dos custos de bens e serviços, que resulta da atual conjuntura económica”, justifica a líder da Câmara de Torres Vedras. Mas também se deve à necessidade de um maior investimento em segurança e socorro, nomeadamente o posto médico avançado no Parque Regional de Exposições, com médicos e enfermeiros, equipamento de Suporte Avançado de Vida, Material de Trauma e de pequena cirurgia, apoiados por 32 camas.
Além de um maior investimento na produção dos seis carros alegóricos a propósito do centenário do Carnaval de Torres Vedras, da sátira à política local, nacional e internacional, assim como do aumento do apoio aos grupos de mascarados e ao corso escolar.
Já a Câmara Municipal de Macedo de Cavaleiros apoia com 20 mil euros o Carnaval de Podence, reconhecido pela Unesco como Património Cultural Imaterial da Humanidade. Os Caretos de Podence, com chocalhos à cintura e um pau na mão, dão vida à festividade que atrai uma multidão de curiosos. O município estima a afluência de 60 mil pessoas e um retorno económico significativo sem, contudo, adiantar valores.
Torres Vedras espera retorno económico de 12 milhões de euros
Mas está à vista o retorno dos investimentos feitos em tempos economicamente conturbados, a julgar pela afluência de milhares de pessoas que contribuem para o tecido económico da região com despesas em estadias e alimentação. Em Torres Vedras são esperadas mais de 500 mil pessoas e autarquia calcula, por isso, que as festividades carnavalescas tenham um impacto na economia local na ordem dos 12 milhões de euros. Entre os setores mais beneficiados estão a hotelaria, restauração, estabelecimentos noturnos, pequeno comércio tradicional e empresas associadas à produção do Carnaval.
Já o município de Estarreja estima um impacto económico no território a rondar os três milhões de euros com uma afluência às ruas de Estarreja de 100 mil pessoas, durante os dias do evento, com grupos e foliões a desfilar nos corsos, assim como em desfiles noturno e infantil, além de marchas luminosas ao ritmo do samba. Cinco mil pessoas estão envolvidas na organização deste Carnaval desde setembro, o mês em que começaram os preparativos desta comemoração que data dos inícios do século XX.
O centenário Carnaval de Torres Vedras
Sob a temática “100 Anos do Carnaval de Torres Vedras”, esta festividade prolonga-se até 14 de fevereiro de 2024 e tem como atração o carro alegórico que transporta os Reis do Carnaval de Torres Vedras. “Este ano celebramos precisamente os 100 anos da primeira chegada do Rei do Carnaval, em 1923. Ao longo de 100 anos, os torrienses preservaram esta festa e acrescentaram novas práticas e tradições de Carnaval”, frisa a autarca Laura Rodrigues.
“Foi o caráter único do entrudo torriense que levou o município de Torres Vedras a avançar, em 2016, com o pedido de registo do seu Carnaval no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial”, conta ao ECO a presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras. Acabou por ver o pedido aprovado em 2022.
Por estes dias saem às ruas carros alegóricos, cabeçudos, zés pereiras, reis e matrafonas. “O que faz com que o Carnaval de Torres Vedras seja tão diferente é a dedicação de quem o constrói, do povo folião”, sublinha a autarca socialista.
Entre os momentos de maior atração estão os carros alegóricos com sátira política e social junto dos foliões. Desde o famoso Zé Povinho, passando pelo conflito entre Rússia e Ucrânia até ao primeiro-ministro António Guterres (ou “Yoda Guterres”) muitas são as paródias previstas nesta comemoração.
Folia e samba em Estarreja
“O Carnaval de Estarreja remonta a 1897, com a realização das primeiras batalhas das flores. E sempre gozou de boa fama”, começa por contar o presidente da Câmara Municipal de Estarreja. “Nestes últimos anos, temos vindo a trabalhar num novo formato que privilegia o espetáculo e o público, apostando num conjunto de infraestruturas ao nível de bancadas, iluminação, acolhimento de públicos, venda antecipada de bilhetes incluindo na bilheteira online, e transfer do público a partir de parques de estacionamento disponibilizados para o evento”, descreve Diamantino Sabina.
Loulé espera atrair entre 60 a 80 mil pessoas
Com o título de “o mais antigo Carnaval do país”, o evento de Loulé, no Algarve, tem à cabeça a sátira política, desta feita sob o tema “Ó Zé… Já viste o Algarvensis?”, numa alusão à candidatura conjunta de Loulé, Silves e Albufeira a Geoparque da Unesco que serve de inspiração para os desfiles carnavalescos.
São esperadas entre 60 a 80 mil pessoas, durante os três dias de folia, para assistir a “um cartaz de excelência com um cortejo único em termos artísticos e coreográficos”, segundo o município.
Com uma pitada de humor à mistura, os carros alegóricos desfilam nas ruas de Loulé com a representação do conflito na Ucrânia com o carro “Cereal Killer” ou os problemas ambientais, com o “Bote Ação Climática”.
Mas o rei da festa deste ano é “o Metoposaurus algarvensis, um anfíbio extinto semelhante a uma salamandra gigante que viveu há 227 milhões de anos e que serviu de base a esta candidatura a Geoparque”, descreve a autarquia. Destaque ainda para os carros alegóricos, decorados com milhares de flores de papel.
De norte a sul do país festeja-se o Entrudo por estes dias, com Ovar e Mealhada a destacarem-se também no mapa nacional e o Carnaval da ilha da Madeira como um dos pontos altos do calendário das festividades desta região insular.
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