O oráculo afinal cumpriu: estamos a crescer mais do que os outros!!

O momento é positivo, mas o efeito é de curto prazo. É hora de voltar a rever o azimute e reorientar o rumo, porque há nuvens no horizonte, e algumas, bem carregadas.

Quando em abril de 2021, o então Ministro das Finanças estimava que “no conjunto destes cinco anos, cada euro investido no PRR traduz-se em 1,4 euros de impacto no PIB” muitos foram os que acusaram o atual governador do Banco de Portugal de populismo e de ter um discurso eleitoralista e excessivamente otimista face à realidade da economia portuguesa.

Dois anos passados (e que anos estes!), com uma guerra na Europa e uma pressão inflacionista que o mundo ocidental tarda em conseguir controlar, a verdade é que os números da economia portuguesa surpreendem pela positiva. Crescimento económico acima da média europeia no primeiro trimestre do ano de 2023, umas contas públicas de 2022 mais equilibradas do que se podia esperar e apesar de toda a cacofonia mediática, a tendência de curto prazo é de que venham por aí mais boas notícias em breve.

O bom comportamento da nossa economia, dizem os especialistas, está apoiado no crescimento sustentado do turismo (que faz crescer as exportações de serviços) e na redução das importações (afetadas por um consumo privado débil, fruto das dificuldades das famílias) e por um investimento crescente do Estado (alimentado entre outros fatores, pelo PRR e pelos fundos do novo quadro comunitário de apoio). E aparentemente, nenhum destes fatores se deve alterar ao longo do ano de 2023!

É justo, diga-se, prestar uma sincera homenagem aos empresários do setor do Turismo, que com zero apoios no PRR, e depois de uma situação limite durante a Covid, conseguiram aproveitar da melhor forma a conjuntura pós-pandemia e, de maneira notável, voltar a encher o nosso país de visitantes, de Norte a Sul do país, e até nas ilhas, onde o Turismo voltará este ano a bater recordes.

Mas infelizmente as economias dos países não vivem do curto prazo. Dentro de alguns meses entraremos na 2ª fase de execução do PRR, e com o desejável fim do conflito na Europa (com impactos no turismo, mas também na alocação de verbas da União Europeia), o cenário geopolítico tenderá a centrar o eixo europeu mais a Leste e a deixar Portugal ainda mais longe da centralidade europeia.

E é por isso que o Orçamento de Estado para 2024, e a execução dos fundos estruturais nos próximos 2-3 anos terá um impacto económico significativo na vida dos portugueses, pelo menos no resto desta década e porventura na seguinte.

No próximo dia 5 de julho, terão passado três anos desde que o Prof. António Costa e Silva, atual Ministro da Economia e do Mar, publicou um documento denominado “Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica e Social de Portugal 2020-2030”, documento esse que, em grande medida, inspirou o conteúdo das reformas propostas e negociadas com Bruxelas no contexto do PRR.

Seria seguramente muito útil por isso, que ao longo das próximas semanas, os nossos jornalistas deixassem as novelas mediáticas e as comissões parlamentares de inquérito em paz, e ajudassem o país a refletir sobre o estado da nação, à luz do referido documento, para que, caso estejamos a divergir do rumo ou a atrasar a realização de algumas reformas essenciais, se pudesse realinhar a nau e aproveitar o bom vento e a maré favorável… enquanto é tempo.

Assim de memória, há muitas iniciativas que estavam previstas nesse documento, que entendo não se tenham perdido, nomeadamente no que diz respeito à exploração dos recursos naturais do nosso país, na aposta numa reindustrialização com foco em setores de alto valor acrescentado e nas iniciativas de clustering, como forma de criar massa crítica e fixar em Portugal, partes relevantes de diversas cadeias de valor, criando desta forma barreiras à sua relocalização no futuro.

Mas há outros temas que, ou muito me engano, ou estão a ser habilmente “varridos” para debaixo do tapete, por interesses vários, uns nacionais, outros externos, a quem, por exemplo, a dinamização do eixo atlântico, a aposta redobrada na economia do mar, ou a exploração acelerada de determinadas matérias-primas de futuro, não interessa mesmo nada.

Portugal vai ter nos próximos cinco anos, uma quantidade de recursos financeiros para injetar na sua economia, direta ou indiretamente, como nunca tivemos (e potencialmente nunca voltaremos a ter). Sem a lição bem estudada e uma carta de navegação pobre ou mal utilizada, o mais certo é a “jangada de pedra” acabar à deriva.

É certo… o oráculo cumpriu… estamos a crescer mais do que os outros… mas isso, meus caros, não chega… é, por agora, apenas conjuntural… cabe-nos a nós, rever a matéria, corrigir o rumo e cumprir o desígnio do navegador lusitano… o de chegar a porto seguro!

Nota: Os pontos de vista e opiniões aqui expressos são os meus e não representam nem refletem necessariamente os pontos de vista e opiniões da KPMG em Portugal.

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